quarta-feira, 12 de abril de 2017

Mulher, eis aí teu filho

Junto à Cruz de Jesus estavam de pé sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua Mãe e perto d’Ela o discípulo que amava, disse à sua Mãe: “Mulher, eis aí teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua Mãe”. E dessa hora em diante o discípulo A levou para a sua casa (Jo 19, 25-27).
Com essas palavras, Jesus finaliza sua comunicação oficial com os homens antes da Morte — as quatro outras serão de sua intimidade com Deus. Quem as ouve são Maria Madalena, representando a via da penitência; Maria, mulher de Cléofas, a dos que vão progredindo na vida espiritual; Maria Santíssima e São João, a da perfeição.
Consideremos um breve comentário de Santo Ambrósio sobre este trecho: “Outros descreveram o transtorno do mundo na Paixão do Senhor; o céu coberto de trevas, ocultando o Sol e o bom ladrão recebido no Paraíso, depois de sua confissão piedosa; São João escreveu o que os outros calaram: como, cravado na Cruz, considerado vencedor da morte, Jesus chamou sua Mãe e tributou a Ela a reverência de seu amor filial [...]. E, se perdoar o ladrão é um ato de piedade, muito mais é homenagear a Mãe com tanto afeto [...]. Cristo, do alto da Cruz, fazia seu testamento, distribuindo entre sua Mãe e seu discípulo os deveres de seu carinho”.
É arrebatador constatar como Jesus, numa atitude de grandioso afeto e nobreza, encerrou oficialmente seu relacionamento com a humanidade, na qual Se encarnara para redimi-la. Do auge da dor, expressou o carinho de um Deus por sua Mãe Santíssima, e concedeu o prêmio para o discípulo que abandonara seus próprios pais para segui-Lo: o cêntuplo nesta Terra (cf. Mt 19, 29).
É perfeita e exemplar a presteza com que São João assume a herança deixada pelo Divino Mestre: “E dessa hora em diante, o discípulo A levou para a sua casa” (Jo 19, 27). São João desce do Calvário protegendo, mas, sobretudo, protegido pela Rainha do Céu e da Terra. É o prêmio de quem procura adorar Jesus no extremo de seu martírio.

Mons João Clá Dias –  trecho extraído “O inédito sobre os Evangelhos” vol VII