domingo, 19 de março de 2017

O Santo Nome de Maria e o Cerco de Viena

Dia 12 de setembro a Igreja celebra o Santo Nome de Maria. Contaremos o empolgante fato histórico que deu origem à dedicação deste dia para louvar o bendito nome da Mãe de Deus.
O Santo Nome de Maria e o Cerco de Viena
“A Áustria é uma árvore imensa, cujo tronco é Viena. Derrubado este, os galhos cairão por si!”
Com estas palavras Karah Mustafá pôs termo final à discussão do grande conselho otomano que havia se reunido em Belgrado. Imediatamente, Maomé IV ordenou o início dos preparativos de uma imensa expedição militar que deveria conquistar a capital do império austríaco!
Um poderoso exército de 200 mil homens foi posto sob as ordens do impetuoso maometano cujas palavras atearam o fogo da guerra, ou seja, o próprio Karah Mustafá.
* Beato Inocêncio XI, um homem providencial
As notícias chegadas do Oriente espalharam-se céleres por toda Europa, mas infelizmente, ela estava dividida. O protestantismo, surgido no século XVI, continuava a se infiltrar nas nações cristãs ao longo do século XVII. Reis e Príncipes, esquecidos da concórdia cristã envolviam-se em perpétuas querelas e alguns não hesitavam em firmar infames alianças com o sultão de Istambul, a fim de favorecer seus egoísmos e amores-próprios como tristemente era o caso de Luis XIV, Rei de França.
Entretanto, um anjo velava pela Europa, o Santo Padre, o Papa Beato Inocêncio XI. Ele tentava, por todos os meios unir os príncipes cristãos. Mas, bem sabia que a salvação não viria dos homens, mas somente de Deus, e por isso implorava a intervenção divina através do poderoso e santo nome de Maria!
Com efeito, o Santo Padre resolvera num Capítulo de São Pedro em Roma, coroar de ouro e pedras preciosas a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, a fim de que Ela obtivesse a constituição de uma Liga Católica. No dia 17 de novembro de 1682, foi a Santa Imagem do Bom Conselho coroada perante grande multidão de fiéis, por um cônego que representava o Sumo Pontífice.
A intercessão da Medianeira de todas as graças não demorou a se fazer sentir:
No dia 31 de março, o Imperador da Áustria, Leopoldo I, e o Rei da Polônia, João Sobieski, prometeram unir seus esforços contra o enorme exército que Maomé IV preparava com a intenção de apoderar-se de Viena.
* O Cerco de Viena
Em abril de 1683, o Grão-Vizir Mustafá pôs-se em marcha rumo a Viena.
No primeiro dia de maio, Leopoldo I passa em revista o exército imperial, que se compunha de 40 mil homens, e entrega o comando ao Duque Carlos de Lorena, que havia sido despojado de suas terras por Luis XIV, e encontrava-se, desde então, junto ao Imperador.
Após grave conversa com seus conselheiros, Leopoldo I decide abandonar a capital e refugia-se na cidade de Lintz.
O valoroso e destemido Conde Stahrenberg foi nomeado governador da cidade. O Duque de Lorena ordenou que 10 mil guerreiros ficassem com o Conde Stahrenberg para defender as muralhas de Viena. Corn os outros 30 mil, Carlos de Lorena iria tentar deter o avanço dos turcos.
No momento que o exército otomano cruzava o Rio Raab, os austríacos apresentaram-se para a batalha, mas logo foram rechaçados pelo numerosa tropa inimiga.
Desde 14 de julho de 1683, Viena ficou cercada, e completamente separada do exército imperial, que se havia retirado para a margem esquerda do Danúbio.
Um bosque de 25 mil tendas de campanha se estendia em forma de meia lua, rodeando a cidade; entre todas se distinguia a tenda do Grão-Vizir, verde por fora e radiante de ouro e prata por dentro, e com tantas salas e aposentos que mais parecia urna cidade fantástica, que uma tenda de campanha.
Nunca a Europa tinha sido tão ameaçada. O momento era de uma importância enorme. A meia lua, senhora dos muros de Viena, teria mudado todo o curso da História Universal.
* Iniciam-se os combates
O Grão-Vizir Karah Mustafá, não tardou em exigir que a cidade de Viena se rendesse incondicionalmente.
Após curta deliberação, os corajosos defensores fizeram ouvir a sua resposta: um formidável bombardeio!
Deu-se início a terríveis batalhas. Durante seis semanas os turcos atacaram e bombardearam ininterruptamente Viena, tentando tomá-la de assalto, enquanto a fome e a doença devastavam interiormente a capital do Império. Os habitantes preferiam, no entanto, ser sepultados nas ruínas da cidade e morrerem em defesa da Cristandade, a entregarem-se covardemente.
A cada dia esgotavam-se as provisões de pólvora e grande era a escassez de víveres.
No dia 4 de setembro, explode uma mina que faz tremer metade da cidade. Karah Mustafá dá ordem de avançarem contra a cidade. Já os turcos cravavam suas bandeiras nas muralhas, mas Stahrenberg conseguiu rechaçá-los após violentos combates e inúmeros atos de heroísmo.
Entretanto, os ataques tomavam-se cada vez mais violentos e ameaçadores, e o conde já se preparava para a luta nas ruas. Escolhe um, dentre os mais ousados cavaleiros, e manda-o levar uma mensagem ao exército do Duque de Lorena. O apelo é desesperado:
‘Não há mais tempo! Se não vierdes, estamos perdidos! Viena cairá!”
Carlos de Lorena, nada podia fazer...
* A poderosa intercessão de Maria
Nossa Senhora não é a mestra das obras inacabadas! Tendo - através de seu fiei servidor, o Papa Inocêncio XI - conseguido a formação da liga católica, Ela levaria a bom termo a sua providencial intercessão.
Na noite de 11 de setembro, os sitiados puderam ver, sobre as alturas da cordilheira do norte, o fulgor de inúmeras fogueiras. Era o Rei da Polônia, João Sobieski, que cumpria a sua promessa e avançava com um exército de 70 mil homens!
Felizes augúrios da intercessão da invencível Mediadora foram notados por todos em certas coincidências que assinalaram os preparativos da jornada: o exército polonês, depois de muitas dificuldades, conseguiu pôr-se em marcha no glorioso dia 15 de agosto, festa da Assunção; e o encontro de todas as forças aliadas, deu-se no dia 8 de setembro, festa da Natividade de Maria. Nesse dia, João Sobieski, feito comandante-em-chefe das tropas cristãs, preparou-se recebendo o Pão dos Anjos.
O domingo, dia 12 setembro de 1683 foi verdadeiramente um dia do Senhor. Ao raiar da aurora pode-se contemplar um quadro magnífico: trinta e dois principes, acompanhados por milhares de nobres assistiram à Santa Missa celebrada pelo delegado do Papa, Marco de Aviano, religioso capuchinho, com fama de santidade. Acolitava o Santo Sacrifício com os braços em Cruz o próprio João Sobieski. Todos comungaram, e o Padre Marco de Aviano deu a bênção, dizendo:
– Em nome do Santo Padre, digo-vos que, se tiverdes confiança em Deus, a vitória é vossa!
O Soberano polonês, após armar cavaleiro seu filho e incitar o exército ao combate, afirmou:
– A batalha de hoje decidirá não apenas a libertação de Viena, mas a conservação da Polônia e a salvação da cristandade inteira!
A atenção dos povos da Europa voltavam-se para Viena, e todos uniam-se aos defensores da Cristandade, pois o Papa dera ordem de expor o Santíssimo Sacramento em todas as Igrejas do Continente.
* A batalha decisiva
Ao brado de ‘Deus é nosso auxílio!” os oitenta e quatro mil homens que formavam as tropas cristãs, arremeteram contra os duzentos mil soldados do império otomano.
As nove horas da manhã, o Duque de Lorena deu início ao combate com a ala esquerda. A batalha se generalizou somente às duas horas da tarde, pois o centro das forças católicas avançava lentamente. Os muçulmanos lutavam com ferocidade, os cristãos com ousadia. A terra estremecia corn o troar dos canhões e com o estrondo galopante da cavalaria.
Não havia colina em que não se travasse uma luta tremenda. Entre o vozerio do combate, subia até o céu, como um brado de guerra, o dulcíssirno nome de Maria.
A cavalaria polonesa havia se adiantado demasiadamente no campo inimigo e quase foi envolvida pelas tropas do Grão-Vizir. O exército imperial veio em seu auxílio e conseguiu libertá-la.
As seis da tarde, a situação ainda não estava definida no campo de batalha, sendo a superioridade numérica dos turcos esmagadora.
Finalmente os alemães penetraram no campo do adversário pelo lado esquerdo; uma hora depois, os poloneses faziam o mesmo pelo lado direito. Como uma poderosa tenaz começaram a apertar o centro do exército de Mustafá.
O Grão-Vizir compreendeu que não podia mais sustentar o combate, e, chamando seus filhos, começou a chorar como uma criança. Em seguida, suplicou ao chefe dos tártaros:
- Salva-me, se podes!
Mas ele respondeu:
- Conheço bem esse rei dos poloneses: é irresistível! Pensemos antes em fugir e salvar nossas vidas!
Os turcos começaram então a fugir, e grande foi o desastre que se abateu sobre eles. O acampamento muçulmano inteiro, com suas imensas riquezas, caiu em poder dos católicos. Viena estava salva!
João Sobieski foi o primeiro a entrar na tenda do Grão-Vizir. O eleitor da Baviera, o Príncipe de Waldeck e muitos outros príncipes do Império vieram até ele e abraçaram-no com imenso afeto.
No dia 13 de setembro, o monarca e suas tropas vitoriosas entraram na cidade. O governador Stahrenberg, a frente de urna multidão, foi a seu encontro. Dirigiram-se todos para a Igreja de São Roque e São Sebastião, e lá foi entoado o Te Deum em agradecimento por tão esplêndida e miraculosa vitória.
O Rei da Polônia, ao deixar a Igreja, foi envolvido pelo povo que lhe beijava as mãos, as botas e o manto e bradava: ‘Fuit homo missus a Deo, cui nomen erat Johannes (Jo 1, 6)”, repetindo assim as palavras do Evangelho que São Pio V aplicara a Dom João d’Austria, o vitorioso de Lepanto: ‘Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João”.
O perigo havia sido imenso, Stahrenberg, defensor da cidade, já não tinha sob suas ordens mais de 4 mil homens: 5 mil haviam tombado em combate e os restantes jaziam nos hospitais e enfermarias improvisados.
Inocêncio XI, cujos auxílios tomaram possíveis a vitória do exército católico, mandou iluminar a Cidade Eterna e fez percorrer pelas cidades italianas a bandeira conquistada aos turcos. O bem-aventurado Sumo Pontífice havia sido, na realidade, a alma da liga católica. Desde o início viu no nome de Maria os primeiros raios fulgurantes da estrela anunciadora da vitória!
Por isso, instituiu no dia 12 de setembro a festa do Santíssimo Nome de Maria, para perpetuar a lembrança da libertação de Viena e para mostrar ao povo cristão quanta é a confiança que se deve ter na invocação deste dulcíssimo nome: Maria! Foi por meio dEle que se alcançou o memorável triunfo da Fé e da Civilização Cristã.