sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Oração a Nossa Senhora das Graças

Nossa Senhora das Graças é quem obtém todas as graças, mesmo aquelas que não temos o direito de receber, nem de pedir; que pareceria um absurdo atrevermo-nos a pedir. Mesmo essas graças, devemos pedir com confiança, porque a bondade d’Ela é tão superlativa, tão alta, tão grande, que é maior do que o abismo de nossos pecados. E Ela atende com misericórdia, com doçura, com bondade. Assim, na capela, junto ao Filho d'Ela podemos dizer:
Minha Mãe, presente está vosso Filho aqui, presente como estava na Galileia, absolutamente. Onde Ele estava, ou Vós estáveis, ou estava vosso Coração; mas Vós não vos separáveis d'Ele nunca. Vós deveis estar aqui. Eu vos rogo: pedi a Ele que veio morar aqui, que veio passar aqui tempos enormes, mais ainda do que em casa de Marta, Maria e Lázaro, pedi a ele que nos obtenha tal favor, tal outro, tal outro...
 Eu, minha Mãe, o que venho Vos apresentar como razão para ser atendido? E' que não valho nada! Porque não valho nada, ou valho muito pouca coisa; tão pouca coisa que aos olhos de vossa perfeição insondável eu sou como nada. Mas... Vós sois a Mãe da Divina Graça até para o fariseu que Vos perseguia.
Respeitosamente Vos digo: perseguir, eu não Vos persigo; e às vezes até Vos defendo. Permiti, minha Mãe, que eu Vos diga bem baixinho, mas às vezes não tenho coragem de Vos defender... Eu me calo, fujo, mas não vos ataco. São Paulo Vos atacou, e foi tão bem aquinhoado! Que título miserável e pequeno eu tenho para Vos pedir misericórdia! Está aqui. Fazei dele alguma coisa a meu favor.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de uma conversa  27/11/88

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O homem se tornou rico pela pobreza do Filho de Deus

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
E o grande Santo Ambrósio, também contemplando o sublime mistério da Encarnação, traçou este eloquente paralelo entre a humilhação do Verbo e a exaltação do homem:
“[O Filho de Deus] se fez pequeno, foi menino, para que tu possas ser varão perfeito; Ele foi envolto em faixas, para que tu possas ser desligado dos laços da morte; Ele foi reclinado num presépio, para que tu possas ser colocado nos altares; Ele foi posto na terra, para que tu possas estar entre as estrelas; Ele não teve lugar na estalagem, para que tu tenhas muitas mansões nos Céus (Jo. XIV, 2). «Ele, sendo rico, fez-se pobre por vosso amor a fim de que vós fôsseis ricos pela sua pobreza» (II Cor. VIII, 9). Logo, meu patrimônio é aquela pobreza, e a debilidade do Senhor, minha fortaleza. Preferiu Ele para si a indigência, a fim de ser pródigo para todos” “.
Podemos, pois, concluir com Santo Agostinho:
“[No mistério da Encarnação se verificou uma] singular elevação do homem, realizada de maneira inefável pelo Verbo Divino, para que Jesus Cristo fosse chamado, a um tempo, verdadeira e propriamente Filho de Deus e Filho do homem. [...]

‘Assim foi predestinada aquela humana natureza a tão grandiosa, excelsa e sublime dignidade, não sendo possível uma maior elevação da mesma; como também a divindade não pôde descer nem se humilhar mais por nós, do que tomando nossa natureza, com todas as suas debilidades, até à morte de Cruz” 12

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Ó dulcíssima Virgem Maria

Ó bem-aventurada e dulcíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, cheia de toda bondade, filha do Rei dos reis, Soberana dos Anjos, Mãe do Criador do universo, confio à vossa maternal bondade - hoje e em todos os dias de minha vida - meu corpo e minha alma, todas as minhas ações, meus pensamentos, meus atos de vontade, meus desejos, minhas palavras, minhas obras, minha vida inteira e minha morte, a fim de que, com vosso apoio, tudo se encaminhe para o bem, segundo a vontade de vosso querido Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que eu Vos tenha, ó minha santíssima Soberana, como aliada e consoladora, contra as emboscadas e as armadilhas do antigo adversário e de todos os meus inimigos.

Dignai-Vos obter-me de vosso amado Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, a graça que me permita resistir às tentações do mundo, da carne e do demônio, e de manter sempre o firme propósito de não mais pecar doravante, mas de perseverar no vosso serviço e no de vosso querido Filho.
Rogo-Vos também, ó minha santíssima Soberana, obter-me uma verdadeira obediência e uma sincera humildade de coração, a fim de que eu me considere verdadeiramente como um miserável e frágil pecador, incapaz não só de fazer qualquer boa obra, mas também de resistir aos ataques contínuos das tentações, se não tiver a graça, o socorro de meu Criador e de vossas santas orações.
Obtende-me ainda, ó minha dulcíssima Soberana, uma castidade perpétua de espírito e de corpo, a fim de que, com o coração puro e o corpo casto, possa servir vosso Filho bem-amado, assim como a Vós mesma, segundo minha vocação.
Obtende-me d'Ele a pobreza voluntária, com a paciência e a tranquilidade de espírito, a fim de que possa enfrentar os trabalhos de minha condição, para minha salvação e a de meus irmãos.
Obtende-me também, ó dulcíssima Soberana, uma caridade perfeita, que me faça amar de todo coração vosso santíssimo Filho Nosso Senhor Jesus Cristo - e a Vós mesma depois d'Ele - acima de todas as coisas, e ao próximo em Deus e por causa de Deus, sabendo alegrar-me com o bem alheio, afligir-me pelo mal do próximo, não menosprezar ninguém, nunca julgar temerariamente, nem me preferir a ninguém.
Ensinai-me, ademais, ó Rainha do Céu, a unir sempre em meu coração o temor e o amor de vosso dulcíssimo Filho; a dar-Lhe sempre graças por tantos benefícios que me vêm, não de meus méritos, mas de sua pura bondade; a fazer de meus pecados uma confissão pura e sincera, e uma verdadeira penitência, para assim merecer sua misericórdia e perdão.
Suplico-Vos, por fim, ó única Mãe, porta do Céu e advogada dos pecadores, de não permitir que no término de minha vida eu, vosso indigno servidor, me desvie da santa fé Católica; que me socorrais segundo vosso grande amor e misericórdia, e me defendais dos espíritos maus; que, pela gloriosa Paixão de vosso abençoado Filho e por vossa própria intercessão, com o coração cheio de esperança, me obtenhais de Jesus o perdão de meus pecados, de sorte que, morrendo em vosso amor e no d'Ele, me conduzais pela via da salvação eterna. Assim seja.
São Tomás de Aquino
Revista Arautos do Evangelho, Agosto-2007

domingo, 8 de novembro de 2015

Mistério da Encarnação

Honra inimaginável
Sobre essa excelsa dignidade a que nos elevou o mistério da Encarnação, escreve o Pe. Nouet, renomado pregador jesuíta do século XVII:
“Considerai que, embora exista apenas um homem que seja Deus, entretanto participamos todos desta honra, e cada um de nós pode se unir ao Verbo em qualidade de irmão, de amigo, de esposo, contanto que a isto estejamos dispostos e não ponhamos obstáculos. Assim, a Encarnação é a elevação de toda a natureza humana ao ser divino, o que é uma honra inimaginável.
“Oh! que mudança de condição e de fortuna! Outrora se dizia ao homem, por desprezo: Pulvis es; tu não és senão pó. E agora se lhe diz, por homenagem: Deus es; sois Deus, sois o filho do Altíssimo e o herdeiro presuntivo de sua coroa” 9.
Mistério de grandeza e de abatimento
E o Pe. Le Valois (séc. XVIII), outro insigne discípulo de Santo Inácio, considerando a Encarnação do Verbo, assim se dirige a Nossa Senhora:
“Que ações de graças renderemos a esse Deus feito homem por nós, e encerrado em vossas castas entranhas? Como podemos estimar, de maneira suficiente, um benefício inestimável? Como podemos demonstrar nosso reconhecimento pelo mesmo? Bendito seja eternamente esse Filho adorável, que deveis dar ao mundo, e que se dá, Ele próprio, a nós! É d’Ele que Vos vem toda a vossa glória, é d’Ele que nos vem toda a nossa salvação. Abatendo-se, Ele Vos eleva; degradando-se, Ele Vos enobrece; escondendo-se, Ele Vos coroa do mais belo resplendor.
“Por outro lado, elevando-Vos, Ele nos reergue da mais profunda e mortal decadência; enobrecendo-Vos, Ele contrai conosco, pela santa união entre a sua divindade e a nossa humanidade, a mais nobre aliança; coroando-Vos do brilho que Vos envolve, Ele nos restabelece em todas as nossas pretensões à sua herança celeste, e a um diadema imortal.
“O mistério de grandeza e de abatimento, de salvação e de dores! O bondade de Deus que o realizou! Somente Ele paga o preço desse mistério, cujas humilhações e sofrimentos reservou Ele para si.

Porém, todo o fruto desse holocausto Ele destina para Vós, Santa Virgem, e também para nós” 10.
Continua
9) NOUET Meditação sobre a Encarnação do Verbo. Apud JOURDAIN, Z.-C. Somme Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900.Vol. VIII. p. 386.
10) LE VALOIS. Entretien pour la Fête de I’Annonciation. Apud JOURDAIN cit. p. 390.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Contraste maravilhoso

O que me toca especialmente na devoção a Nossa Senhora é uma espécie de antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tão santa e, entretanto, saber colocar-Se tanto ao nível de todos nós, pecadores. Pensar que Ela, sem perder nada de sua incomensurável superioridade, sabe descer tão ao nosso plano!
Quando rezo à Santíssima Virgem, cogito sobre Ela, trato com Ela, sinto-A enormemente ao meu alcance, ao meu nível. Mas, de outro lado, maior do que eu, nem sei de que jeito!
Ela, tão pura, poder — por assim dizer — “tocar” numa alma que tem manchas, sem Se contaminar em nada; e, tendo todo horror ao pecado, não ficar com horror de mim!
Há aí uma espécie de contraste belíssimo, maravilhoso, em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 25/6/1972

domingo, 1 de novembro de 2015

A fim de encarnar-se o Verbo eterno, e ser humilhado

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 
A fim de encarnar-se o Verbo eterno, e ser humilhado,
E o homem, como o sol, ao Céu ser levantado.
Como anteriormente vimos, a Redenção preventiva de Nossa Senhora teve em vista a Encarnação do Verbo. Que sua Mãe fosse Imaculada, era uma gloriosa exigência do nascimento do Filho Unigênito de Deus. Os versos em epígrafe aludem, pois, a este grandioso mistério de nossa fé, bem como à salvação e à honra que dele resultou para toda a humanidade.
Encarnação do Verbo e deificação do homem
Com efeito, “a Encarnação não teve unicamente por fim o de reparar a ofensa feita a Deus por nossos pecados, de curar a humanidade de suas feridas, e de libertá-la da escravidão ao tirano dos corpos e das almas. Ela também nos devolveria a qualidade de filhos adotivos [de Deus), perdida pela revolta original; ela iria deificar o homem, fazer dele o herdeiro do Pai e o co-herdeiro de Jesus Cristo.
“Não há nada que nossos santos Doutores tenham amiúde e mais magnificamente ensinado. «Se o Verbo se fez carne, se o Filho eterno do Deus vivo se tornou filho do homem, é para que o homem, entrando em sociedade com o Verbo, estreitando a adoção, se tornasse filho de Deus».
“E ainda: «O Filho de Deus, seu Unigênito segundo a natureza, por uma maravilhosa condescendência, tornou-se filho do homem; a fim de que nós, filhos do homem por nossa natureza, nos tornássemos filhos de Deus por sua graça». E esta doutrina, é o próprio Deus que por seus Apóstolos a transmitiu aos Padres: «Quando veio a plenitude dos tempos, enviou Deus a seu Filho, feito de mulher feito sob a Lei [...], para que recebêssemos a adoção de filhos» (Gál. IV, 4-5). [...]
“Sim, tal é o fim próximo, imediato, da união do Filho eterno com nossa natureza: fazer do homem um filho adotivo de Deus, o irmão do Primogênito. [...]
“[E], com efeito, posto que Deus queria nos elevar até Ele, não importava que Ele descesse primeiramente até nós? Que meio mais natural e mais divino de nos fazer entrar em sua família, do que se unir Ele próprio à nossa? Como, enfim, convidar-nos mais eficazmente a partilhar, por adoção, a honra da filiação divina do que nos dando o Filho, eterno objeto da complacência paterna, por irmão mais velho, um irmão de nossa carne e de nosso sangue?” 1
Completando esse ensinamento do Pe. Terrien, vem a propósito o que encontramos no Tesouro de Oratória Sagrada:
“Trata-se de que o Filho de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade augustíssima, engendrado desde a eternidade no seio do Pai, e igual a Ele em tudo, deve se humilhar, tomar a forma de escravo, reduzir-se à condição de homem, e se constituir vítima por nossas culpas.
“Trata-se de que [o Verbo de Deus] deve tomar um corpo e uma alma como a nossa, nas entranhas de Maria, e unir de um modo tão maravilhoso e tão verdadeiro nossa miserável natureza à sua, que ambas subsistam unidas e distintas numa única pessoa que nós ado ramos com o nome de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

“Trata-se de que Ele deve cumprir tudo isto para apagar a maldição que merecemos pelo pecado de nosso primeiro pai, assistir-nos em nossas misérias, instruir nossa mente, dirigir nossa vontade e santificar nossa alma; elevando-nos nesta vida, por meio da fé e da graça, até àquele Deus, com quem seremos bem-aventurados e imortais na vida futura” 2
7) TERRIEN, J.-B. La Mère de Dieu et la Mère des Hommes. 8. ed. Paris: P Lethielleux, 1902. Vol. I. p. 80-81.
8) TESORO DE ORATORIA SAGRADA. 2. ed. BULDÚ, Ramon (Dir.). Barcelona: Pons, 1883. Vol. IV p. 167.