quarta-feira, 24 de junho de 2015

Raquel - prefigura de Maria


Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora  
Raquel ao Egito deu prudente governador
A Virgem das virgens deu ao mundo o seu Salvador
Raquel e José
No crepúsculo de sua longa vida, Isaac chamou a seu filho, Jacob, abençoou-o, e deu-lhe esta ordem: “Vai para a Mesopotâmia da Síria, para casa de Batuel, pai de tua mãe, e toma de lá esposa entre as filhas de Labão, teu tio” (Gên. XXVIII, 2).
Satisfazendo aos desejos de seu venerável pai, Jacob desposou Raquel, filha de Labão, jovem “formosa de rosto e de gentil presença” (Gên. XXIX, 17). Esta, após longo período de esterilidade, concebeu e deu à luz um filho, ao qual pôs o nome de José.
José é vendido por seus irmãos aos egípcios
Ora, “Jacob amava José mais que todos os seus (outros) filhos, por que o gerara na velhice: e fez-lhe uma túnica de várias cores. Vendo, pois, seus irmãos que era amado pelo pai mais que todos os (outros) filhos, odiavam-no” (Gên. XXXII, 3-4). Obcecados pela inveja, os irmãos de José acabaram por vendê-lo a certos negociantes ismaelitas, que o levaram para o Egito. Ali chegando, foi comprado por um general do exército do Faraó, que o tomou como servo. “E o Senhor era com José, e tudo o que fazia lhe sucedia prosperamente” (Gên. XXXIX, 2).
José interpreta os sonhos do Faraó
Alguns anos depois, José foi chamado à presença do Faraó, a fim de interpretar dois sonhos que este tivera.
Explicando-os, o filho de Jacob disse que viriam para o Egito sete anos de abundância, seguidos de outros sete de grande esterilidade e fome. Ao terminar sua interpretação, disse José ao Faraó: “Agora, pois, escolha o Rei um homem sábio e ativo, a quem dê autoridade sobre a terra do Egito; e este homem estabeleça superintendentes por todas as províncias; [...] e guarde-se todo o trigo debaixo do poder do
Faraó, conservando-o nas cidades; [...1 e assim o país não será consumido pela fome.
O filho de Raquel é feito governador do Egito
“Agradou o conselho ao Faraó e a todos os seus ministros; e disse-lhes: Podemos nós encontrar um homem como este, que seja (tão) cheio de espírito de Deus? Disse, pois, a José: Visto que Deus te manifestou tudo o que disseste, poderei eu encontrar alguém mais sábio e semelhante a ti? Tu governarás a minha casa, e, ao mando da tua voz, obedecerá todo o povo; e eu não terei sobre ti outra precedência além do trono. Eis que te dou autoridade sobre toda a terra do Egito. E tirou o anel da sua mão, e meteu-o na mão dele; e vestiu-lhe um vestido de linho fino, e pôs-lhe ao pescoço um colar de ouro. [...] E mudou-lhe o nome, e chamou-o na língua egípcia: Salvador do mundo” (Gên. XLI, 33-42, 45).
Raquel é prefigura de Maria, Mãe do Salvador
Raquel e José são, respectivamente, admiráveis prefiguras de Maria Santíssima e de seu Divino Filho, nosso Redentor.
Assim o comenta Fr. Ramon Buldú:
“Se a bela e graciosa Raquel engendrou a José, ao qual o Faraó deu o nome de Salvador, Maria, Mãe do belo amor, deu à luz a Jesus Cristo, que foi em verdade nosso Salvador” 32
E o douto Nicolas:
“[A Virgem é prefigurada pela] filha de Labão, a pastora Raquel, tão amável, que Jacob trabalha para aquele, durante quatorze anos, a fim de obtê-la; e que, depois de uma esterilidade que ameaçava ser interminável, deu à luz a José, salvador do Egito, como Maria a Jesus, Salvador do mundo”

Enumerando as representações de Nossa Senhora no Antigo Testamento, escreve o Pe. Thiébaud: “Entre outras figuras patriarcais, citemos ainda a bela Raquel, a mãe desse jovem e virtuoso José, que foi vendido por seus irmãos, e que, por este ato de atrocidade, tornou-se depois, providencialmente, o salvador de toda a sua família e o grande provedor de todo o Egito. Não é Maria, Mãe de Jesus, quem pagou o mais negro atentado com a mais rica misericórdia, e que continua a pagar nossas faltas diárias com tantas graças, das quais nos torna tão indignos nossa ingratidão?” 
Continua

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Amor de Mãe...

Certa viúva tinha um filho único ao qual ela amava ternamente. Sabendo que este fora capturado por inimigos, acorrentado e posto na prisão, derramou-se em lágrimas e, dirigindo-se a Nossa Senhora — a quem ela tinha especial devoção —, suplicou-Lhe com insistência a libertação de seu filho.
Percebendo que suas orações não surtiam efeito, a pobre viúva entrou numa igreja onde, aos pés da imagem da Virgem Maria, disse:
— Virgem Santa, eu Vos supliquei a libertação de meu filho, e Vós não quisestes vir em auxílio de uma infeliz mãe; implorei proteção para meu filho e Vós recusastes! Pois bem, assim como o filho me foi arrebatado, assim Vos tomarei o Vosso e o guardarei como refém!
Dizendo isso, ela se aproximou e tomou a imagem do Menino dos braços da Virgem, levou-a consigo para casa, envolveu-a num pano branquíssimo e a encerrou num arca, feliz por ter obtido tão boa garantia do retorno de seu filho querido...
Na noite seguinte, a Virgem apareceu ao jovem, abriu-lhe a porta da prisão e disse-lhe:
— Dize à tua mãe que Me devolva meu Filho, agora que Eu lhe restituí o dela!
Voltando para casa, o jovem contou a sua mãe sua milagrosa libertação. E aquela viúva, cheia de alegria, apressou-se em devolver à Virgem o Menino Jesus, dizendo-lhe:
— Agradeço-Vos, celeste Senhora, por me terdes restituído meu filho, e em troca aqui Vos trago o vosso!

Jacques de Voragine - Legenda Áurea 

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Amor levado aos extremos da natureza e da graça

Continuação dos comentários ao Pequeno ofício da Imaculada
“Contudo, não fizemos senão roçar, de certo modo, numa tão bela matéria. Seria o bastante, se Jesus Cristo fosse apenas simples criatura, o mais perfeito dos filhos dos homens. Mas, Ele é Deus, e a Virgem sua Mãe, instruída pelo Espírito Santo, acreditava com todas as forças de sua inteligência e de seu coração que este menino, nascido de suas entranhas, era o Filho eterno de Deus, Deus como seu Pai e consubstancial a Ele. Em consequência, seu amor materno não se detinha no homem; ele não podia separar o que estava indissociavelmente unido.
Em seu Filho Ela via, Ela amava seu Deus. Uma boa mãe ama tudo o que pertence à pessoa de seu filho, e na proporção da dignidade das partes: o corpo e a alma, mais a alma do que o corpo.
“É assim, ó Maria, que Vós amais a Jesus. Certo, amais sua humanidade, pois ela é para todos, e para Vós mais do que para todos os outros, soberanamente amável. Entretanto, muito mais tendes amor à sua divindade, pois esta é a fonte infinitamente fecunda de toda bondade, de toda grandeza, de toda beleza. [...]

“Portanto, em Maria o amor materno é levado até os últimos limites da natureza e da graça, posto que em seu Filho Ela ama o Homem-Deus.

sábado, 6 de junho de 2015

Criada unicamente para ser a Mãe de Deus

Continuação dos comentários ao Pequeno ofício da Imaculada
O Pe. Terrien, S. J. aprofunda o ensinamento sobre o carinho materno que teve a Santíssima Virgem para com Nosso Senhor:
“O amor de Maria por Jesus, seu Filho e seu Deus, é um amor de mãe. Tal é o privilégio singular desta divina Virgem que, para Ela, é uma única e mesma coisa amar a seu Filho e amar a seu Deus. Que medida de amor supõe e encerra já esta qualidade de mãe! Conheceis algo de mais terno, de mais doce, de mais desinteressado do que o amor de uma mãe por seu filho? [...1 Uma mãe deve fazer esforço, não para amar, mas para não amar, pois, neste caso, ser-lhe-ia preciso ir contra a natureza, ser desnaturada. E se lhe perguntardes o porquê de seu amor, ela vos responderá: «Ah! é meu filho; minha carne, meu sangue, um outro eu mesmo. É possível que alguém não ame sua carne e a si mesmo?»
“Admirável disposição da Providência que depositou este amor no coração das mães, a fim de que elas pudessem suportar, não apenas com paciência e resignação, mas com alegria, o rude trabalho de formar homens.
“Se tal é verdadeiro para qualquer mãe, quanto o será então para Maria? Seria possível que Ela não amasse de toda a sua alma e de todas as suas forças esse Jesus, bendito fruto de suas entranhas?
Sobretudo Ela, em quem nada paralisa, nem impede, nem desvia o movimento de uma natureza excelentemente delicada e reta? Ela, que excede a qualquer outra mãe, pelo próprio fato de ter sido criada unicamente para ser mãe?
Amor indivisível
“Mas, pouco seria comparar o amor de Maria por seu Filho, àquele que têm as mães comuns. Quantas razões para que ele sobrepuje em ternura, em devotamento, em vivacidade, a qualquer outro amor materno! É um amor que não se divide. Este Filho é o seu, inteiramente o seu, exclusivamente o seu. [...] Não há divisão entre o pai e a mãe: todo o amor se concentra no coração de Maria, porque Ela é Virgem, e porque Jesus Cristo não possui, sobre a Terra, senão a Ela por autora. Tampouco nenhuma divisão entre os filhos. Esse primogênito é o único, [...] por um desígnio absoluto de Deus, certamente conhecido de Maria. Não quero dizer que os filhos sejam sempre menos amados, quando eles se multiplicam junto à mãe; porém, existem naturalmente para o [filho) único mais cuidados afetuosos, mais solicitudes. [...] «0 meu amado é para mim, unicamente para mim; e eu unicamente para ele» (Cânt. II, 16): é o que pode dizer a Virgem, contemplando a Jesus. [...]

“Diz-se comumente que é preciso ter o coração de uma mãe para conceber o que é o amor materno. Mais ainda será necessário ter o coração de Maria, para se fazer uma idéia de seu amor a Jesus, seu amabilíssimo Filho.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Senso da presença de Deus

Santa Isabel foi dotada pelo Espírito Santo de um dom que a fez sentir a presença do Menino Jesus em Nossa Senhora.
Em certa medida, o verdadeiro católico também recebe essa graça, de tal forma que, quando a ela corresponde, ele deve saber discernir onde está e onde não está Deus, não física, mas moral e sobrenaturalmente. Todo autêntico membro da Igreja deve ser munido de um senso tal, que lhe indique quando as coisas são ou não segundo Deus.
Para isso não é preciso ter grande cultura, inteligência ou conhecimento teológico; basta ter este verdadeiro senso católico, privilégio dos que correspondem à graça do batismo.
Disto Santa Isabel nos dá um maravilhoso exemplo ao perceber a presença do Menino Jesus no claustro materno de sua Santíssima prima.

Plinio Correa de Oliveira – conferência de 2/7/1970