terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Ternura da Mãe de Deus

O protótipo de ternura é o coração materno. Especialmente o é o Coração da Mãe das mães, que excede de um modo inimaginável a ternura de todas as mães que houve, há e haverá. Quase que se poderia dizer que Nossa Senhora é a personificação da ternura.
Para exprimir isso aos homens por formas diversas, Maria Santíssima multiplica suas graças. Ora Ela aparece sob a forma de uma Rainha esplêndida, em homenagem à qual se constroem catedrais magníficas; ora sob o aspecto de Mãe de misericórdia, meiga, que Se contenta com o culto que Lhe é tributado em pequenas choupanas, onde, entretanto, Ela faz milagres excelentes para tornar mais patente sua maternal bondade, animar os homens a Lhe pedirem, com confiança, tudo quanto queiram, e convidá-los a amá-La por causa da ternura que Ela lhes demonstra.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 14/5/1966

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Natividade de Jesus

Repousais, Senhor, em vosso misérrimo e augustíssimo presépio, sob os olhos da Virgem, vossa Mãe, que vertem sobre Vós os tesouros inauferíveis de seu respeito e de seu carinho. Jamais uma criatura adorou com tão profunda e respeitosa humildade o seu Deus. Nunca um coração materno amou mais ternamente seu filho. Reciprocamente, jamais Deus amou tanto uma mera criatura. E nunca filho amou tão plenamente, tão inteiramente, tão superabundantemente sua mãe. Toda a realidade desse sublime diálogo de almas pode conter-se nestas palavras que indicam aqui todo um oceano de felicidade, e que em ocasião bem diversa haveríeis de dizer um dia do alto da Cruz: Mãe, eis aí teu filho. Filho, eis aí tua Mãe (cf. Jo 19, 26). E, considerando a perfeição deste recíproco amor, entre Vós e vossa Mãe, sentimos o cântico angélico que se levanta das profundezas de toda alma cristã: “Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na terra aos homens de boa vontade” (Luc 2, 14).

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de “Catolicismo” n° 156, dezembro de 1963

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Pureza, humildade, obediência

Na Anunciação, a atitude de Maria, a Virgem das virgens, foi perfeitamente virginal. De outro lado vemos como Ela foi humilde em toda a linha. Aquela que Deus destinara para ser sua Mãe, preparando sua alma e seu corpo para estarem inteiramente proporcionados — tanto quanto possível a uma criatura humana — à honra de ser a Mãe do Messias, não tinha de Si uma alta ideia. Pelo contrário, ficou perturbada porque julgou que o elogio do Anjo não podia caber para Ela.
Contudo, bastou São Gabriel dar-Lhe a certeza de que isso vinha de Deus para Maria responder: “Ecce ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum — Eis a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra.”
Assim, da humildade e da pureza conjugadas em Nossa Senhora resultou sua aceitação do plano de Deus, a respeito da Encarnação do Verbo.
Há, entretanto, outro fiat de Maria que é uma verdadeira beleza. Aos pés da Cruz, Deus quis que Ela consentisse em oferecer o seu Filho como vítima. Nossa Senhora O via estertorando na Cruz, dando aquele brado: “Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonastes?”, e consentiu que aquilo se passasse para o gênero humano ser resgatado e as almas poderem ir ao Céu. Porque Deus queria que Ela quisesse, Ela quis! São os dois atos supremos de obediência da Santíssima Virgem.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 25/3/1990

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

OS SETE GOZOS DE NOSSA SENHORA

1) Anunciação e Encarnação
2) Visita a sua prima Santa Isabel
3) Nascimento de Jesus
4) Adoração dos Reis Magos
5) Encontro de Jesus no Templo
6) Ressurreição de Jesus
7) Coroação da Virgem Imaculada no Céu
Existem também outros Sete Gozos principais que Ela desfruta no Paraíso e que são:
É o primeiro, o gozo que tem ao ver se tão elevada na glória e tão próxima do trono da Santíssima Trindade, que só Deus está acima dEla, e tudo que não é Deus está debaixo de seus pés;
O segundo, aquele que só pela sua virgindade possui uma coroa mais rica e mais preciosa do que todas as coroas dos habitantes do céu;
O terceiro, por ser o segundo sol do paraíso, que enche de gozo os coros todos dos anjos e dos santos;
O quarto, porque todos os cidadãos da celestial Jerusalém louvam Na e honram Na incessantemente como a sua rainha e como a Mãe de seu Redentor;
O quinto, por haver Lhe Deus dado um poder absoluto no céu e na terra e sobre todas as criaturas;
O sexto, porque lhe deu um poder especial de bendizer, proteger e favorecer de todas as maneiras os que lhe tem particular bênção;
O sétimo, porque todos estes gozos, não diminuirão jamais, antes, sempre crescerão até o dia do juízo e serão eternos".
Referem se vários autores graves que São Tomás, Arcebispo de Canterbury, dizia todos os dias sete Ave Marias em honra dos sete gozos principais que a Santíssima Virgem teve na terra, e que Ela o advertiu que acrescentasse a memória dos Sete principais Gozos que desfruta no Céu, assegurando lhe que esta devoção lhe era muito agradável, e que Ela assistiria na hora da morte a todos os que a praticassem, que encheria de consolo seus corações, que receberia suas almas à saída do corpo, e as apresentaria a seu Filho.
São João Eudes

("La infancia admirable de la Santisima Madre de Dios" La Editorial Viscaina, Bilbao, 1935, pp. 112 114.)

domingo, 13 de dezembro de 2015

Tudo por meio de Maria Santíssima

Deus juntou todas as águas e as denominou mar, e juntou todas as graças e as denominou Maria. (São Luís Grignion de Montfort)
Deus uniu em Nossa Senhora todas as graças que Ele haveria de dar a todas as criaturas em todos os tempos. E a partir disso, deu para todas as criaturas. Mas, também, as graças que Ele dá devem reverter a Ele em forma de oração. E todas essas orações têm que passar por Nossa Senhora para chegar até Ele.
De maneira que temos aí o princípio, que é uma verdade de Fé, que Nossa Senhora é a Medianeira de todas as graças. É o caminho de todas as graças.
Todo o bem que Deus faz, por exemplo a nós aqui, Ele está fazendo porque Ela pediu. E se Ela não pedisse, Ele não faria bem nenhum. E ainda que todos os Anjos e Santos do Céu pedissem esse bem que Ele está fazendo, se não fosse por meio dEla não conseguiriam, porque Ela é o ponto de partida de tudo. É a Mãe dEle.
Agora, em sentido contrário, todos os pedidos que fazemos a Deus, atos de adoração, de reparação, de ação de graças e de petição -- são os quatro atos de culto; tomamos quatro atitudes: adora, antes de tudo, pela perfeição infinita dEle; depois dá ação de graças por todos os benefícios que Ele nos faz; depois reparação por todas as ingratidões nossas e de outros homens; depois petição -- esses atos todos devem subir por meio de Nossa Senhora. Se não subirem por meio de Nossa Senhora, não adiantou nada.
Desse modo, São Luís Grignion de Montfort quis simbolizar isso por meio dessa frase.

 Plinio Correa de Oliveira - conversa 5/03/ 1987 

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Elevada como o sol

Encarnando-se nas castíssimas entranhas de Nossa Senhora, e d’Ela nascendo, o Verbo eterno A elevou como o sol, acima de todos os Anjos e Santos.
“A grandeza de Jesus reflete sobre Maria todos os seus raios. Pois é sempre verdade que, assim como a honra e a glória dos pais se refletem sobre seus filhos, também a honra e a glória dos filhos se refletem sobre seus pais.[. ..]
“O panegirista de Filipe da Macedônia, pai de Alexandre Magno, chegado ao ponto mais alto de seu discurso, disse: «Bastaria dizer para tua glória que tiveste por filho Alexandre». Outro tanto, e ainda com maior razão, podemos dizer de Maria: Bastaria dizer para vossa glória que tivestes por filho, Jesus.
“Pode-se, porventura, imaginar uma glória mais alta? É, com efeito, uma dignidade tão admirável que o próprio Deus, não obstante sua onipotência, não poderia criar outra mais sublime do que esta. Para que, de fato, possa haver uma mãe maior e mais perfeita do que Maria, seria necessário que existisse um filho maior e mais perfeito do que Jesus, coisa impossível, pois não pode haver nada de maior do que Deus. Não somente Maria se acha, de fato, logo depois de Deus na escala da grandeza, mas sua união com Ele é tão estreita, que não há mais lugar para outra criatura, inferior a Deus e superior a Maria.
“Com a divina maternidade, Deus concedeu à criatura tudo que a essa pode ser concedido, depois da união hipostática. Maria é a obra-prima do Onipotente. Por isto se pode dizer que os Santos Padres e os Doutores da Igreja esgotaram o vocabulário, exaltando Maria.
‘É um São Tomás de Aquino que diz: «Maria, pelo fato de ser Mãe de Deus, possui uma dignidade infinita, devido a suas relações com Deus, que é o bem infinito; sob este aspecto, não é possível haver nada de melhor, como não é possível achar-se coisa alguma que seja melhor do que o próprio Deus» (Suma, I, q. 25, a. 6, ad 6).
“É um Conrado da Saxônia quem escreve: «Ser Mãe de Deus é uma graça tal, que Deus não pode conceder outra maior. Poderia criar um mundo e um céu maiores, porém fazer uma mãe maior do que a Mãe de Deus é, mesmo para Ele, coisa impossível» (Speculum B. M. 14, 1. 10).
“É um São Tomás de Villanueva, insigne teólogo e ilustre pregador, quem afirma: «Ainda que as estrelas do céu se convertessem em línguas e as areias do mar se transformassem em palavras, nunca se chegaria a exprimir completamente a dignidade de Maria» (Concio 5 infesto Assuinptionis B.M. 14).
“É um Fr. Monsabré que escreve: «A Igreja Católica com todas as suas homenagens, com todos os seus templos, com todos seus altares, com todas suas estátuas, com todos os seus incensos, com todos os seus panegíricos, com todos os seus cânticos, com todas as suas flores, com todas as suas festas, com todo o seu respeito, com toda a sua confiança, veneração e amor; não elevou tão alto a Virgem, como o fez o Evangelho, com aquelas palavras tão breves e simples, mas tão ricas e eloquentes: Maria, da qual nasceu Jesus que se chama Cristo» (30ª conf, de Notre-Dame). [...]
“Foram tantos e tão preciosos os dons de natureza, de graça e de glória concedidos pela augustíssima Trindade à Virgem Santa, que todas as belezas da natureza, todas as riquezas da graça, todos os esplendores da glória, não bastam para nos dar uma ideia exata da grandeza da Mãe de Deus.”

ROSCHINI, Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960. p. 49-51.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Daquele brilhante sol a Virgem tem o fulgor

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 
Maria, vestida do sol divino
No seu livro do Apocalipse, São João Evangelista se refere a “um grande sinal no céu: uma mulher, vestida de sol” (XII, 1).
Aplicando a Nossa Senhora essas palavras do Apóstolo virgem, assim se exprime São Bernardo:
“Com razão Maria nos é apresentada vestida de sol, porquanto penetrou, além de tudo quanto podemos imaginar, o profundíssimo abismo da Divina Sabedoria. De sorte que, tanto quanto o permite a condição de simples criatura, Ela, sem chegar à união pessoal, parece totalmente imersa naquela inacessível luz, naquele fogo que purificou os lábios do Profeta Isaías e no qual ardem os Serafins.
“Assim, pois, de modo bem diverso mereceu Maria, não apenas ser tocada ligeiramente pelo Sol divino, mas antes ser coberta com ele por todos os lados, banhada e como que contida pelo mesmo fogo.
“Alvíssimo é, na verdade, e também calidíssimo, o vestido desta mulher, da qual todas as coisas se vêem tão excelentemente iluminadas, que não é lícito suspeitar haja n’Ela nada, não digo tenebroso, mas nem sequer obscuro ou menos lúcido, nem tampouco algo que seja tíbio ou sem o mais intenso fervor. [...]
“«Uma mulher, disse, vestida de sol». Sem dúvida coberta de luz, como de um vestido. Para o homem sensual, isto não passa de uma leviandade, já que não é capaz de compreender as coisas espirituais. Não pensava assim o Apóstolo, que dizia: «Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo» (Rom. XIII, 14). Quão familiar d’Ele fostes criada, Senhora! Quão próxima, quão íntima [d’Ele] merecestes ser criada! Quanta graça achastes diante de Deus! Ele está em Vós e Vós, n’Ele; a Ele vestis e por Ele sois vestida. Vós O vestis com a substância da carne e Ele Vos veste com a glória de sua majestade. Vestis o sol com uma nuvem, e Vós mesma sois vestida de um sol” 1.
O Pe. Manuel Bernardes, por sua vez, celebrando a Assunção de Nossa Senhora, complementa o pensamento do Doutor Melífluo:
“Como a nuvem rara, diz o Santo, quando se põe diante do sol fica o sol vestido de algumas sombras da nuvem, e fica a nuvem vestida de alguns resplendores do sol; assim a Virgem Senhora, nuvem leve (como Lhe chamou Santo Ambrósio) se vestiu da divindade, porque a divindade se vestiu de Maria Santíssima.
“E a nuvem, sendo um vapor da terra, quando [é que se veste do sol? Quando sobe ao céu por virtude do mesmo sol. Maria Santíssima sobe hoje ao Céu por virtude de Deus e então aparece no Céu vestida do mesmo Deus: Apareceu no Céu uma mulher vestida de sol.
“Maria Santíssima, subindo ao Céu, toda está vestida de Deus. Seu rosto está vestido de Deus porque nele se tratou de Deus sua benignidade; seus olhos estão vestidos de Deus, porque são olhos misericordiosos; sua língua está vestida de Deus, porque nela guardou Deus os favos de sua doçura e sabedoria; [...] as mãos estão vestidas de Deus, porque tudo podem, e todos os seus tesouros por elas correm; o coração está vestido de Deus, porque nele derramou Deus sua bondade.

“A alma está vestida ou transformada com Deus, porque, entre todas as puras criaturas, tem a maior graça e a maior glória. Maria está cercada toda de sol, e se no meio do sol pudesse haver sombra, até a sombra de Maria estaria vestida de Deus, porque Deus Lhe fez sombra ao vestir-se de Maria” 2
1) BERNARDO. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. I. p. 726 e 728.
2) AS MAIS BELAS PÁGINAS DE BERNARDES: 2000 Trechos selecionados por NUNES, Mario Ritter (Coord.). São Paulo: Melhoramentos, 1966. p. 341.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Oração a Nossa Senhora das Graças

Nossa Senhora das Graças é quem obtém todas as graças, mesmo aquelas que não temos o direito de receber, nem de pedir; que pareceria um absurdo atrevermo-nos a pedir. Mesmo essas graças, devemos pedir com confiança, porque a bondade d’Ela é tão superlativa, tão alta, tão grande, que é maior do que o abismo de nossos pecados. E Ela atende com misericórdia, com doçura, com bondade. Assim, na capela, junto ao Filho d'Ela podemos dizer:
Minha Mãe, presente está vosso Filho aqui, presente como estava na Galileia, absolutamente. Onde Ele estava, ou Vós estáveis, ou estava vosso Coração; mas Vós não vos separáveis d'Ele nunca. Vós deveis estar aqui. Eu vos rogo: pedi a Ele que veio morar aqui, que veio passar aqui tempos enormes, mais ainda do que em casa de Marta, Maria e Lázaro, pedi a ele que nos obtenha tal favor, tal outro, tal outro...
 Eu, minha Mãe, o que venho Vos apresentar como razão para ser atendido? E' que não valho nada! Porque não valho nada, ou valho muito pouca coisa; tão pouca coisa que aos olhos de vossa perfeição insondável eu sou como nada. Mas... Vós sois a Mãe da Divina Graça até para o fariseu que Vos perseguia.
Respeitosamente Vos digo: perseguir, eu não Vos persigo; e às vezes até Vos defendo. Permiti, minha Mãe, que eu Vos diga bem baixinho, mas às vezes não tenho coragem de Vos defender... Eu me calo, fujo, mas não vos ataco. São Paulo Vos atacou, e foi tão bem aquinhoado! Que título miserável e pequeno eu tenho para Vos pedir misericórdia! Está aqui. Fazei dele alguma coisa a meu favor.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de uma conversa  27/11/88

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O homem se tornou rico pela pobreza do Filho de Deus

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
E o grande Santo Ambrósio, também contemplando o sublime mistério da Encarnação, traçou este eloquente paralelo entre a humilhação do Verbo e a exaltação do homem:
“[O Filho de Deus] se fez pequeno, foi menino, para que tu possas ser varão perfeito; Ele foi envolto em faixas, para que tu possas ser desligado dos laços da morte; Ele foi reclinado num presépio, para que tu possas ser colocado nos altares; Ele foi posto na terra, para que tu possas estar entre as estrelas; Ele não teve lugar na estalagem, para que tu tenhas muitas mansões nos Céus (Jo. XIV, 2). «Ele, sendo rico, fez-se pobre por vosso amor a fim de que vós fôsseis ricos pela sua pobreza» (II Cor. VIII, 9). Logo, meu patrimônio é aquela pobreza, e a debilidade do Senhor, minha fortaleza. Preferiu Ele para si a indigência, a fim de ser pródigo para todos” “.
Podemos, pois, concluir com Santo Agostinho:
“[No mistério da Encarnação se verificou uma] singular elevação do homem, realizada de maneira inefável pelo Verbo Divino, para que Jesus Cristo fosse chamado, a um tempo, verdadeira e propriamente Filho de Deus e Filho do homem. [...]

‘Assim foi predestinada aquela humana natureza a tão grandiosa, excelsa e sublime dignidade, não sendo possível uma maior elevação da mesma; como também a divindade não pôde descer nem se humilhar mais por nós, do que tomando nossa natureza, com todas as suas debilidades, até à morte de Cruz” 12

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Ó dulcíssima Virgem Maria

Ó bem-aventurada e dulcíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, cheia de toda bondade, filha do Rei dos reis, Soberana dos Anjos, Mãe do Criador do universo, confio à vossa maternal bondade - hoje e em todos os dias de minha vida - meu corpo e minha alma, todas as minhas ações, meus pensamentos, meus atos de vontade, meus desejos, minhas palavras, minhas obras, minha vida inteira e minha morte, a fim de que, com vosso apoio, tudo se encaminhe para o bem, segundo a vontade de vosso querido Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de que eu Vos tenha, ó minha santíssima Soberana, como aliada e consoladora, contra as emboscadas e as armadilhas do antigo adversário e de todos os meus inimigos.

Dignai-Vos obter-me de vosso amado Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, a graça que me permita resistir às tentações do mundo, da carne e do demônio, e de manter sempre o firme propósito de não mais pecar doravante, mas de perseverar no vosso serviço e no de vosso querido Filho.
Rogo-Vos também, ó minha santíssima Soberana, obter-me uma verdadeira obediência e uma sincera humildade de coração, a fim de que eu me considere verdadeiramente como um miserável e frágil pecador, incapaz não só de fazer qualquer boa obra, mas também de resistir aos ataques contínuos das tentações, se não tiver a graça, o socorro de meu Criador e de vossas santas orações.
Obtende-me ainda, ó minha dulcíssima Soberana, uma castidade perpétua de espírito e de corpo, a fim de que, com o coração puro e o corpo casto, possa servir vosso Filho bem-amado, assim como a Vós mesma, segundo minha vocação.
Obtende-me d'Ele a pobreza voluntária, com a paciência e a tranquilidade de espírito, a fim de que possa enfrentar os trabalhos de minha condição, para minha salvação e a de meus irmãos.
Obtende-me também, ó dulcíssima Soberana, uma caridade perfeita, que me faça amar de todo coração vosso santíssimo Filho Nosso Senhor Jesus Cristo - e a Vós mesma depois d'Ele - acima de todas as coisas, e ao próximo em Deus e por causa de Deus, sabendo alegrar-me com o bem alheio, afligir-me pelo mal do próximo, não menosprezar ninguém, nunca julgar temerariamente, nem me preferir a ninguém.
Ensinai-me, ademais, ó Rainha do Céu, a unir sempre em meu coração o temor e o amor de vosso dulcíssimo Filho; a dar-Lhe sempre graças por tantos benefícios que me vêm, não de meus méritos, mas de sua pura bondade; a fazer de meus pecados uma confissão pura e sincera, e uma verdadeira penitência, para assim merecer sua misericórdia e perdão.
Suplico-Vos, por fim, ó única Mãe, porta do Céu e advogada dos pecadores, de não permitir que no término de minha vida eu, vosso indigno servidor, me desvie da santa fé Católica; que me socorrais segundo vosso grande amor e misericórdia, e me defendais dos espíritos maus; que, pela gloriosa Paixão de vosso abençoado Filho e por vossa própria intercessão, com o coração cheio de esperança, me obtenhais de Jesus o perdão de meus pecados, de sorte que, morrendo em vosso amor e no d'Ele, me conduzais pela via da salvação eterna. Assim seja.
São Tomás de Aquino
Revista Arautos do Evangelho, Agosto-2007

domingo, 8 de novembro de 2015

Mistério da Encarnação

Honra inimaginável
Sobre essa excelsa dignidade a que nos elevou o mistério da Encarnação, escreve o Pe. Nouet, renomado pregador jesuíta do século XVII:
“Considerai que, embora exista apenas um homem que seja Deus, entretanto participamos todos desta honra, e cada um de nós pode se unir ao Verbo em qualidade de irmão, de amigo, de esposo, contanto que a isto estejamos dispostos e não ponhamos obstáculos. Assim, a Encarnação é a elevação de toda a natureza humana ao ser divino, o que é uma honra inimaginável.
“Oh! que mudança de condição e de fortuna! Outrora se dizia ao homem, por desprezo: Pulvis es; tu não és senão pó. E agora se lhe diz, por homenagem: Deus es; sois Deus, sois o filho do Altíssimo e o herdeiro presuntivo de sua coroa” 9.
Mistério de grandeza e de abatimento
E o Pe. Le Valois (séc. XVIII), outro insigne discípulo de Santo Inácio, considerando a Encarnação do Verbo, assim se dirige a Nossa Senhora:
“Que ações de graças renderemos a esse Deus feito homem por nós, e encerrado em vossas castas entranhas? Como podemos estimar, de maneira suficiente, um benefício inestimável? Como podemos demonstrar nosso reconhecimento pelo mesmo? Bendito seja eternamente esse Filho adorável, que deveis dar ao mundo, e que se dá, Ele próprio, a nós! É d’Ele que Vos vem toda a vossa glória, é d’Ele que nos vem toda a nossa salvação. Abatendo-se, Ele Vos eleva; degradando-se, Ele Vos enobrece; escondendo-se, Ele Vos coroa do mais belo resplendor.
“Por outro lado, elevando-Vos, Ele nos reergue da mais profunda e mortal decadência; enobrecendo-Vos, Ele contrai conosco, pela santa união entre a sua divindade e a nossa humanidade, a mais nobre aliança; coroando-Vos do brilho que Vos envolve, Ele nos restabelece em todas as nossas pretensões à sua herança celeste, e a um diadema imortal.
“O mistério de grandeza e de abatimento, de salvação e de dores! O bondade de Deus que o realizou! Somente Ele paga o preço desse mistério, cujas humilhações e sofrimentos reservou Ele para si.

Porém, todo o fruto desse holocausto Ele destina para Vós, Santa Virgem, e também para nós” 10.
Continua
9) NOUET Meditação sobre a Encarnação do Verbo. Apud JOURDAIN, Z.-C. Somme Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900.Vol. VIII. p. 386.
10) LE VALOIS. Entretien pour la Fête de I’Annonciation. Apud JOURDAIN cit. p. 390.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Contraste maravilhoso

O que me toca especialmente na devoção a Nossa Senhora é uma espécie de antinomia harmoniosa e maravilhosa pelo fato de Ela ser tão santa e, entretanto, saber colocar-Se tanto ao nível de todos nós, pecadores. Pensar que Ela, sem perder nada de sua incomensurável superioridade, sabe descer tão ao nosso plano!
Quando rezo à Santíssima Virgem, cogito sobre Ela, trato com Ela, sinto-A enormemente ao meu alcance, ao meu nível. Mas, de outro lado, maior do que eu, nem sei de que jeito!
Ela, tão pura, poder — por assim dizer — “tocar” numa alma que tem manchas, sem Se contaminar em nada; e, tendo todo horror ao pecado, não ficar com horror de mim!
Há aí uma espécie de contraste belíssimo, maravilhoso, em que eu me sinto aceito e assumido por inteiro.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 25/6/1972

domingo, 1 de novembro de 2015

A fim de encarnar-se o Verbo eterno, e ser humilhado

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 
A fim de encarnar-se o Verbo eterno, e ser humilhado,
E o homem, como o sol, ao Céu ser levantado.
Como anteriormente vimos, a Redenção preventiva de Nossa Senhora teve em vista a Encarnação do Verbo. Que sua Mãe fosse Imaculada, era uma gloriosa exigência do nascimento do Filho Unigênito de Deus. Os versos em epígrafe aludem, pois, a este grandioso mistério de nossa fé, bem como à salvação e à honra que dele resultou para toda a humanidade.
Encarnação do Verbo e deificação do homem
Com efeito, “a Encarnação não teve unicamente por fim o de reparar a ofensa feita a Deus por nossos pecados, de curar a humanidade de suas feridas, e de libertá-la da escravidão ao tirano dos corpos e das almas. Ela também nos devolveria a qualidade de filhos adotivos [de Deus), perdida pela revolta original; ela iria deificar o homem, fazer dele o herdeiro do Pai e o co-herdeiro de Jesus Cristo.
“Não há nada que nossos santos Doutores tenham amiúde e mais magnificamente ensinado. «Se o Verbo se fez carne, se o Filho eterno do Deus vivo se tornou filho do homem, é para que o homem, entrando em sociedade com o Verbo, estreitando a adoção, se tornasse filho de Deus».
“E ainda: «O Filho de Deus, seu Unigênito segundo a natureza, por uma maravilhosa condescendência, tornou-se filho do homem; a fim de que nós, filhos do homem por nossa natureza, nos tornássemos filhos de Deus por sua graça». E esta doutrina, é o próprio Deus que por seus Apóstolos a transmitiu aos Padres: «Quando veio a plenitude dos tempos, enviou Deus a seu Filho, feito de mulher feito sob a Lei [...], para que recebêssemos a adoção de filhos» (Gál. IV, 4-5). [...]
“Sim, tal é o fim próximo, imediato, da união do Filho eterno com nossa natureza: fazer do homem um filho adotivo de Deus, o irmão do Primogênito. [...]
“[E], com efeito, posto que Deus queria nos elevar até Ele, não importava que Ele descesse primeiramente até nós? Que meio mais natural e mais divino de nos fazer entrar em sua família, do que se unir Ele próprio à nossa? Como, enfim, convidar-nos mais eficazmente a partilhar, por adoção, a honra da filiação divina do que nos dando o Filho, eterno objeto da complacência paterna, por irmão mais velho, um irmão de nossa carne e de nosso sangue?” 1
Completando esse ensinamento do Pe. Terrien, vem a propósito o que encontramos no Tesouro de Oratória Sagrada:
“Trata-se de que o Filho de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade augustíssima, engendrado desde a eternidade no seio do Pai, e igual a Ele em tudo, deve se humilhar, tomar a forma de escravo, reduzir-se à condição de homem, e se constituir vítima por nossas culpas.
“Trata-se de que [o Verbo de Deus] deve tomar um corpo e uma alma como a nossa, nas entranhas de Maria, e unir de um modo tão maravilhoso e tão verdadeiro nossa miserável natureza à sua, que ambas subsistam unidas e distintas numa única pessoa que nós ado ramos com o nome de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

“Trata-se de que Ele deve cumprir tudo isto para apagar a maldição que merecemos pelo pecado de nosso primeiro pai, assistir-nos em nossas misérias, instruir nossa mente, dirigir nossa vontade e santificar nossa alma; elevando-nos nesta vida, por meio da fé e da graça, até àquele Deus, com quem seremos bem-aventurados e imortais na vida futura” 2
7) TERRIEN, J.-B. La Mère de Dieu et la Mère des Hommes. 8. ed. Paris: P Lethielleux, 1902. Vol. I. p. 80-81.
8) TESORO DE ORATORIA SAGRADA. 2. ed. BULDÚ, Ramon (Dir.). Barcelona: Pons, 1883. Vol. IV p. 167.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Filha da bênção, e não da cólera

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 
É o que também afirma o Pe. Thiébaud:
“Todos os homens foram resgatados a grande preço, porque eram culpados; Maria, a primeira, será também resgatada a grande preço, mas para não se tornar culpada. Quer dizer, fomos todos resgatados por uma Redenção purgativa e sanificadora, enquanto que Maria, e só Ela, foi resgatada por uma Redenção preservadora e protetora.
“Em duas palavras, o mérito da Redenção para Maria não foi o de ter sido arrancada, como nós, da maldição geral, mas — o que é infinitamente mais precioso para Ela — é o de ter sido preservada da mesma, por antecipação. Nascemos todos filhos da cólera; somente Maria nascerá filha da bênção. Mal atingiu Ela o nível das menores criaturas da Terra, e já se elevou acima das mais augustas dignidades do Céu.
Quando Deus pensava em reerguer o gênero humano, cogitava em impedir que Maria caísse; e Ele adianta de tal maneira em favor d’Ela o cumprimento de suas promessas, que o primeiro dia da desgraça de Adão é precisamente o primeiro dia da glória de Maria. Ela começa sua santificação por onde os maiores Santos não podem terminar a deles. Numa palavra, a Redenção do mundo ainda não havia chegado, e a de Maria já estava assegurada.
“É assim que a ideia da Imaculada Conceição de Maria transporta a alma para um mundo sobrenatural, e nos introduz nos mais impenetráveis segredos do Deus três vezes santo.

“Compreende-se que Deus se devia a si mesmo esta maravilhosa isenção, e que a devia também à sua divina Mãe. A santidade do próprio Deus assim o exigia, como sendo de indispensável e total conveniência” 1
1) THIEBAUD. Les Litanies de La Sainte Vierge expliquées et commentées. 3. ed. Paris: Jacques Lecoifre, 1864. Vol. I. p. 103-104.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Redenção preventiva de Nossa Senhora

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 
O ensinamento que acabamos de considerar se torna ainda mais belo nas palavras de Santo Afonso de Ligório:
“É sabido que o Salvador veio ao mundo mais para remir a Maria, do que a todos os outros homens, escreve São Bernardino de Siena. Dois, porém, são os modos de remir, na opinião de Suárez. Consiste o primeiro em levantar o decaído e o segundo, em preservá-lo da queda. É fora de dúvida que este último é o mais nobre, observa Santo Antonino. Por ele se previne o dano e a nódoa que resultam da queda. Quanto a Maria, devemos crer, por conseguinte, que foi remida por este modo mais nobre e mais conveniente à Mãe de Deus, como reafirma um escritor sob o nome de São Boaventura.

Diz sobre isto, com muita elegância, o Cardeal Cusano: Os outros tiveram um Redentor que os livrou do pecado já contraído; porém a Santíssima Virgem teve um Redentor que, em sendo seu Filho, A livrou de contrair o pecado” .

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Nossa Senhora do Rosário

Impossível é exprimir quanto a Santíssima Virgem prefere o Rosário a todas as outras devoções e quão magnificamente recompensa àqueles que se dedicam a propagá-lo e incentivá-lo; e como é terrível, pelo contrário, com quem se opõe a esta forma de oração.
São Domingos de Gusmão em nada se empenhou tanto durante toda a sua vida quanto em louvar Nossa Senhora, proclamar suas grandezas e animar todo mundo a honrá-La através da recitação do Rosário. Esta poderosa Rainha do Céu, por sua vez, não cessou de favorecê-lo com bênçãos superabundantes.
Ela coroou seus trabalhos com mil prodígios e milagres, e ele jamais deixou de obter de Deus tudo quanto pediu pela intercessão da Virgem Santíssima.

São Luís Maria Grignion de Montfort  - “O segredo admirável do Santíssimo Rosário”

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Firmamento de misericórdia

É tão fácil, doce e animador rezar à Santíssima Virgem, que não compreendo como alguém possa não querer recorrer a Ela, que é nossa Mãe!
Quando se recita na Salve Rainha “Mãe de misericórdia”, isto não está escrito ali sem razão. Maria é toda misericórdia. Se pode haver mães que são para seus filhos como um mar de misericórdia, Nossa Senhora é muito mais do que isso: Ela é um firmamento!
Peçamos à Virgem Santíssima, firmamento de misericórdia, que tome a alma de cada um de nós e a ponha nesse firmamento para que, depois de uma vida mais longa ou menos, mais difícil ou menos, entretanto sempre fiel, brilhemos como estrelas no firmamento por toda a eternidade.

 Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 15/1/1990

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Oração que move montanhas

Há uma confiança heroica pela qual não resistimos de esperar, apesar de tudo. Por vezes, essa confiança faz a alma “sangrar”, mas ela continua a confiar, e diz: “A promessa interior, inefável que Nossa Senhora me fez não falhará. Confiarei e cumprirei a minha missão. Eu confio na palavra d’Ela!”
Qual é a palavra da Santíssima Virgem? É uma voz da graça, uma apetência que sentimos e que nos leva a todas as virtudes, ao amor de Deus. A isso nos devemos dar, e com base nessa palavra devemos estruturar a nossa confiança.
A alma assim vence a batalha, pois a oração dela move as montanhas.
Eis por que Nossa Senhora só revelou a São Pio V a vitória dos cristãos, na Batalha de Lepanto, depois dele ter rezado um terço: Ela quis mostrar , que esta oração Lhe é tão grata, e que agrada tanto a Ela pedirmos aquilo de que precisamos, por meio da recitação d Rosário, que Maria Santíssima esperou aquela oração d Santo Pontífice para conceder esse enorme galardão.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído d conferência de 7/10/1975

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Necessidade da Redenção preventiva de Maria

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 
O douto e pio Nicolas assim explica a Redenção preventiva de Nossa Senhora:
“Esta isenção [do pecado original em Maria], verificou-se pela graça de Jesus Cristo. Esta mesma graça, que libertou o gênero humano inteiro do pecado original, bem pôde preservar desta culpa a Maria, aplicando-Lhe como antídoto o que ela, por sua vez, nos administra como remédio. E ainda se pode afirmar que isto foi necessário. Deus, para maior glória de Jesus Cristo, devia manifestar n’Ele, e por seus méritos, esta eficácia preservadora. É inadmissível que a virtude do sangue divino tenha limites. Sem dúvida por um plano cuja sabedoria foi reiteradas vezes manifestada, esta virtude quis limitar-se a nos purificar da mancha com que nascemos.
“Em certos personagens ilustres, como Jeremias e São João Batista, elevou-se mais alto, pois os santificou antes de seu nascimento e no próprio seio de suas mães, onde foram concebidos no pecado. Porém, o mal ainda possuía uma fortaleza — a partir da qual podia protestar contra a eficácia soberana do sangue de Jesus Cristo — nesta mesma concepção em que [ele, mal], se une à vida humana pelo ato que a transmite, imprimindo seu [funesto] selo sobre nossa origem.
“Convinha, pois, que esse último entrincheiramento do pecado fosse destruído por uma concepção imaculada, que desse testemunho, com um solene e decisivo exemplo, da onipotência absoluta dos méritos de Jesus Cristo. «Seu sangue, que tanto poder tem para nos livrar do mal, disse Bossuet não o terá para nos preservar dele? E se tem esta virtude, deixá-la-á inútil eternamente? Não haverá uma só criatura em que [dita virtude] se manifeste? E qual será esta criatura, senão Maria?»

“Este sangue divino não deveria, por seu próprio decoro, purificar a concepção de Maria, que foi sua primeira origem? «Com efeito, acrescenta magnificamente Bossuet é a partir d’Ela que começa a se estender este formoso rio, este rio de graças que corre em nossas veias pelos Sacramentos, e que leva o espírito de vida a todo o corpo da Igreja. E assim como as fontes, sempre se lembrando de seus mananciais, lançam suas águas a grandes alturas, como se procurassem suas nascentes no meio do ar; da mesma sorte podemos assegurar que o sangue de nosso Salvador fará subir sua virtude até à concepção de sua Mãe, para honrar o lugar de onde saiu»”1 .

1) NICOLAS, Augusto. La Virgen María y el Plan Divino. Barcelona: Religiosa, 1866. Vol. II. p. 109-110.

sábado, 26 de setembro de 2015

O relógio de Ezequias

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 
Vésperas
Salve regulador celeste, pelo qual
Em dez linhas foi o sol retrogradado
O relógio de Ezequias
Abrindo o quarto Livro dos Reis, lemos em seus capítulos XVIII (1-2, 13) e XX (1-10):
“No terceiro ano de Oséias, filho de Ela, Rei de Israel, reinou Ezequias, filho de Acaz, Rei de Judá. Tinha vinte e cinco anos quando começou a reinar em Jerusalém. [...]
“[Por volta do décimo quarto ano de seu governo], Ezequias adoeceu de morte; e o profeta Isaías, filho de Amós, foi ter com ele, e disse-lhe: Eis o que diz o Senhor Deus: Põe em ordem a tua casa, porque vais morrer, e não viverás (mais). E Ezequias virou o rosto para a parede, e fez oração ao Senhor, dizendo: Peço-te, Senhor, lembra-te, te suplico, de que eu andei diante de Ti em verdade e com um coração reto, e que fiz o que era do teu agrado. Depois Ezequias derramou abundantes lágrimas.
“E, antes que Isaías tivesse passado metade do átrio, o Senhor falou-lhe, dizendo: Volta e dize a Ezequias, condutor do meu povo: eis o que diz o Senhor Deus de David, teu pai: Eu ouvi a tua oração, e vi as tuas lágrimas; e eis que Eu te curei; daqui a três dias irás ao templo do Senhor. E acrescentarei quinze anos aos dias da tua vida; além disto Eu te livrarei a ti e a esta cidade da mão dos reis dos assírios, e protegerei esta cidade por amor de Mim, e por amor de David, meu servo.[...]
“Ora, Ezequias tinha dito a Isaías: Qual será o sinal de que o Senhor me curará, e de que dentro de três dias irei ao templo do Senhor? E Isaías respondeu-lhe: Será este o sinal da parte do Senhor, de que o Senhor há de cumprir a palavra que disse: Queres que a sombra (nesse relógio solar) se adiante dez linhas, ou que ela retroceda outros tantos graus?
“Ezequias disse: E fácil que a sombra se adiante dez linhas, não quero que se faça isto, mas que volte atrás dez graus. O profeta Isaías invocou, pois, o Senhor, e fez com que a sombra voltasse pelas linhas, pelas quais já tinha passado no relógio de Acaz, dez graus atrás.”
Imagem da Redenção preventiva de Nossa Senhora
O prodigioso sinal com que Deus ratificou sua promessa ao Rei Ezequias, é uma imagem do extraordinário milagre que se verificou em Nossa Senhora.

“Pois, no momento de sua Imaculada Conceição, o selo da Redenção foi n’Ela impresso antecipadamente, em virtude da previsão dos méritos de seu Divino Filho. As sombras do pecado original foram como que recuando para dar passagem a essa alma predestinada, que devia irradiar ao mundo o Sol de Justiça, Jesus Cristo, Salvador dos homens” 1.

domingo, 20 de setembro de 2015

Prontidão de Nossa Senhora

Nossa Senhora foi concebida em graça, e esta graça deu-Lhe todos os dons que tinha o homem no Paraíso terrestre. Ela tinha todos os dons do Espírito Santo, e os possuía em grau máximo. No ponto de partida dEla, de concepção dela, Nossa Senhora tinha todos os dons e todas as virtudes em grau mais excelso do que os próprios anjos e santos que estão no Céu.
Esta que foi escolhida para ser Mãe de Deus, já possuindo Deus encarnado em seu claustro materno, é convidada a fazer uma visita a uma prima. Prima muito mais idosa do que Ela. Por um mistério que nós não conseguimos atingir inteiramente, pelas relações que existem entre o sobrinho que vai nascer e o filho que Ela tem no seu claustro materno que também vai nascer, a relação entre um e outro faz com que Ela se submeta a este convite, a esta obrigação social de ir visitar sua prima Santa Isabel que estava para dar à luz a um sobrinho.
Ela já tendo em si o Menino Jesus sendo constituído, sendo formado, não hesita. Ela sabe das dificuldades do caminho, esse caminho é coalhado em determinado ponto por ladrões, por bandidos, Ela pode perfeitamente ser assaltada no meio do caminho, Ela pode ser morta no meio do caminho, Ela pode ser agredida, mas Ela passa por cima de tudo isto porque percebe que esta visita é desejada por Deus.
Aqui vê-se a prontidão de Nossa Senhora, a docilidade, a disposição inteira dEla em fazer a vontade de Deus. Não mede sacrifícios, não mede esforços, está disposta inteiramente a dar-se, e a dar-se por inteira.

Maria Santíssima, Rainha dos Céus e da terra, vós tendes à vossa disposição todos os anjos. Se vós quisésseis, vós mandaríeis um anjo descer do Céu para aplainar esse caminho. Entretanto, vós quisestes passar por todas essas dificuldades para exemplo meu. Eu na minha vida encontro dificuldade, eu na minha vida encontro problemas, e vós quereis que eu passe por esses problemas como vós passastes por esses problemas. Minha Mãe, dai-me forças de ser como vós”.
Mons João Clá Dias. Texto extraído de uma meditação na Catedral da Sé - SP em 21/10/1999. Sem revisão do autor.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Stabat Mater...

No Calvário, Nossa Senhora viu o céu encher-se de trevas, a terra tremer e o Templo sacudir-se. Ela, entretanto, manteve-se de pé!
Só A vemos sentada quando colocaram o Divino Cadáver sobre seus joelhos, para ungi-Lo com os aromas, conforme o costume judeu, antes de O depositarem na sepultura. Assim mesmo, Ela é representada com o busto ereto.
Daí vem a poesia famosa “Stabat Mater dolorosa, juxta Crucem lacrimosa” — Junto à Cruz, chorando, estava a Mãe cheia de dores. Mas stabat, em latim, não quer dizer simplesmente “estava”; significa “estava de pé”.
Assim deve ser a alma do verdadeiro católico!

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 30/6/1988

sábado, 12 de setembro de 2015

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Confiança nos impossíveis

Comentários de Plinio Correa de Oliveira a respeito da confiança em Nossa Senhora
Alguém me pediu para comentar o seguinte lema afixado na Universidade de Sorbonne durante seus dias de agitação:
“Seja realista, exija o impossível.”
Mesmo defendendo a pior das causas, há nesta frase o inegável talento francês.
Em primeiro lugar, devemos nos perguntar: esse lema é correto ou não? Em face dele, dividem-se duas famílias de almas: uma constituída pelo espírito geométrico, e outra, pelo espírito de finesse.
O espírito geométrico é contra uma afirmação dessas. Para ele, é próprio da utopia exigir o impossível. Logo, é um absurdo dizer: “seja realista, exija o impossível”. Pelo contrário, diria alguém desta corrente, “seja realista, exija o possível”; ou então, “seja realista, e não exija o impossível”.
Porém, as pessoas que têm o espírito de finesse compreendem o significado desta afirmação. Ou seja, esta espécie de contradição berrante, que é exigir o impossível, aqui quer dizer o seguinte: esse impossível vem psicologicamente entre aspas.
Impossível para o medíocre... Possível para o fogoso!

domingo, 6 de setembro de 2015

Nossa Senhora, a morte dos crimes

Certas pessoas podem ter a ideia de que as evoluções do mundo extinguirão os crimes. Verdadeiramente, a morte dos crimes já veio ao mundo com o nascimento de Nossa Senhora. Ela, segundo um lindo cântico gregoriano, é a Mors criminum, a “Morte dos crimes”. Por sua influência, mediação, oração e comunicação de graças, Maria Santíssima mata os crimes, extirpa os pecados e elimina o mal da Terra, triunfando permanentemente sobre ele.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 18/8/1965