domingo, 31 de agosto de 2014

Verdadeira transfiguração

Durante a Assunção de Maria Santíssima, é possível que o Sol tenha brilhado de um modo magnífico, o céu tenha ficado com cores variadas, refletindo de modos diversos, como uma verdadeira sinfonia, a glória de Deus. Mas nenhum desses esplendores podia se comparar ao próprio esplendor de Nossa Senhora subindo ao Céu.
Toda a glória de Maria provinha de seu interior, e à medida que Ela ia Se elevando, essa glória ia transparecendo aos olhos dos homens como numa verdadeira transfiguração, alcançando todo seu brilho quando, já no alto de sua trajetória celeste, Ela olhou uma última vez para os homens, antes de definitivamente entrar nos Céus.

Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 10/8/1968

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Olhos postos em Maria

A natividade de Nossa Senhora, celebrada em 8 de setembro, representa a aurora da redenção do gênero humano, posto que, com o nascimento de Maria, inicia-se a realização das promessas divinas de enviar ao mundo o seu Salvador”, comentava Dr. Plinio. “No momento decretado por Deus em sua misericórdia”, acrescentava, “Ele faz surgir Nossa Senhora, raiz bendita da qual brotaria Nosso Senhor Jesus Cristo, começando assim a obra de destruição do reino do demônio — no exterior, bem como no interior dos homens.
“De fato, na vida espiritual de quantas almas não se verifica situação semelhante à do mundo em que surgiu Nossa Senhora, imerso no império dos vícios e do pecado! A pobre alma está em luta com seus defeitos, se contorce em dificuldades, sem vislumbrar o dia bendito em que uma grande graça, um grande favor celestial porá fim aos seus tormentos e lhe franqueará o progresso na piedade. Pois na história dessas almas há como que irrupções de Nossa Senhora. Na noite das maiores trevas e aflições, Ela aparece e começa a solucionar todos os problemas. Maria surge então como uma radiante aurora em nossa existência, incutindo-nos um alento que não conhecíamos.
“Nesse sentido, vem muito a propósito a conhecida exortação de São Bernardo, aplicando a Nossa Senhora o simbolismo da Estrela do Mar: Ó tu que nesta vida andas flutuando entre borrascas e tempestades, antes que vagando por terra, não tires os teus olhos do fulgor desta estrela, se não quiseres que te arrastem os vagalhões. Quando te vires arremessado aos escolhos da tribulação, se te surgirem os ventos das tentações, olha a estrela e invoca Maria. Quando te vires perecer nas ondas da soberba e da ambição, da detração e da luxúria, olha para a estrela, invoca Maria.
“Contrárias às ilusões de que esta vida é um constante jardim de rosas onde tudo nos sorri, as palavras de São Bernardo — conformes ao ensinamento da Igreja — nos falam do vale de lágrimas no qual expiamos o pecado original e nossos pecados atuais. Segundo o conselho do santo, o quotidiano terreno é permeado de borrascas e tempestades, de rochedos que insidiosamente aguardam o navegante durante seu trajeto, e dos ventos das tentações que podem soprar e nos solicitar para o mal.
“Ora, sob essas condições adversas, não devemos nunca deixar de pôr os olhos em Maria Santíssima, senão os vagalhões nos arrastam. A exemplo dos antigos navegantes que se orientavam pela estrela polar a fim de alcançar o porto seguro, cumpre seguirmos as maternais coruscações da Estrela do Mar. Na incerteza das ondas, no singrar atribulado, jamais percamos de vista essa luz que nos orienta para a salvação; jamais nos esqueçamos de invocar Maria Santíssima.”

Plinio Correa de Oliveira –  Extraído de conferências em 8/9/63 e 24/9/66

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A Imaculada Conceição, fundamento da cidade do Altíssimo

Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora
Relacionando as mencionadas palavras da Escritura com a Imaculada Conceição de Maria, escreve o Pe. Jourdain:
“Lê-se num discurso de Santo Anselmo: «A consumação de tão imensos benefícios com os quais toda a criação foi gratificada, por intermédio da Mãe do Senhor convida-nos a considerar quanto o começo da existência d ‘Ela foi divino, sublime e inefável. Nada de espantoso nisso, uma vez que n ‘Ela depositou Deus, de certo modo, o fundamento sagrado da cidade e da morada do soberano Bem».
“Estas palavras do santo Doutor fazem, evidentemente, alusão ao texto do Salmo 86 que os Padres ordinariamente aplicam à augusta Virgem Maria: «Coisas gloriosas se têm dito de ti, ó cidade de Deus!» E mais embaixo: «Porventura não se dirá [de] Sião: Um grande número de homens nasceu nela, e o mesmo Altíssimo a fundou (solidamente) ?»
“Apoiados sobre a autoridade de Santo Anselmo, reconheceremos, pois, a concepção de Maria nesse fundamento da cidade celeste, posto por Deus, e é sob esse ponto de vista que examinaremos as palavras do Salmista. [...]
“Tudo é grande, tudo é sublime, tudo é digno de glorificação e de louvor em Maria, a cidade do Deus vivo, o tabernáculo escolhido por Ele entre todos para dele fazer sua morada. N’Ela não há nada de baixo, nem de desprezível: tudo é digno do destino que Deus Lhe preparou.
“Os Antigos censuravam à cidade de Roma — elevada mais tarde ao píncaro da glória terrestre e do poder — o fato de que seus primeiros habitantes haviam sido uma tropa de bandidos, congregados por Rômulo, o qual desonrou as muralhas de sua cidade nascente, manchando-as com o sangue de seu irmão. [...] Seria possível dizer algo de semelhante, falando-se de Maria? Esta cidade santa da qual o próprio Deus lançou os fundamentos, teria sido, primeiramente, um refúgio de ladrões? O crime do parricídio A teria manchado em sua origem?
“Assim o seria, com o pecado original. Culpada deste, Maria teria sido o asilo do demônio e de todos os pecados contidos em germe na concupiscência. O próprio parricídio, n’Ela se encontraria, porque o pecado de Adão foi um parricídio, posto que ele causa a morte de toda a posteridade do culpado.
“Admitindo-se que o pecado original existiu em Maria, não teria sido Ela a cidade santa por excelência; sua glória e suas grandezas nunca eliminariam inteiramente a vergonha de sua decadência e de sua humilhação primeiras; não se poderia repetir com o Profeta: «Coisas gloriosas se têm dito de ti, ó cidade de Deus». Porém, seu Fundador não quis que Ela sofresse uma tal ignomínia: nada existe n’Ela que não se possa glorificar. [...]

“Os fundamentos dessa cidade repousam sobre os montes santos. Tal é a cidade gloriosa por excelência, tal é Maria. [...] A justiça e a santidade com que Deus A adornou, desde a sua origem, são de uma solidez inabalável. São estes os seus fundamentos, lançados na rocha pela mão do próprio Altíssimo. [...]

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Cidade santa do Altíssimo

 Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora
Cidade santa do Altíssimo
“Os teus fundamentos, [ó Jerusalém], estão sobre os montes santos. O Senhor ama as portas de Sião mais que todos os tabernáculos de Jacob. Coisas gloriosas se têm dito de ti, ó cidade de Deus! Porventura não se dirá a Sião: Um grande número de homens nasceu nela, e o mesmo Altíssimo a fundou (solidamente)?” (Sl. LXXXVI)
“Vi a cidade santa, a Jerusalém nova que, da parte de Deus, descia do Céu. [...] Cidade que não necessita de sol nem de lua que a iluminem, porque a claridade de Deus a ilumina e sua lâmpada é o Cordeiro. E as nações caminharão à sua luz, e os reis da Terra lhe trarão a sua glória e o seu fausto. E suas portas não se fecharão no fim de cada dia, porque não haverá noite ali. Trazer-lhe-ão também o esplendor e a glória das nações” (Apoc. XXI, 2, 23 e ss.).
O jubiloso cântico do Salmista, enaltecendo as grandezas de Jerusalém, e a citada passagem do Apocalipse são, com justiça, aplicados à Santíssima Virgem, cidade santa do Altíssimo.
Cidade edificada sobre o Verbo Encarnado
Assim comenta São Tomás de Villanueva: “Sobre os montes santos está fundada. Reparemos a que montes se refere: Abraão gerou a Isaac, Isaac a Jacob, etc. Segundo a carne, pôs seus fundamentos nos patriarcas e nos profetas. Porém, segundo o espírito, tem um fundamento mais sólido: Solidamente está fundada a casa de Deus sobre rocha firme, e a rocha era Cristo. O Verbo é o fundamento de sua Mãe, que O leva em seu seio. [...] O mulher admirável, singular, singularmente digna de ser admirada! Gloriosas coisas se têm dito de ti, ó cidade de Deus!, cidade santa, cidade opulenta. [...]

“Nova Jerusalém, quer dizer, concebida de um modo novo, e não haverá ali noite, porque sua lâmpada é o Cordeiro. Notemos com que formosura A tinha disposto Deus. Ele mesmo A havia adornado, Ele mesmo A preparou, para que seu amor cativasse a seu Filho e O fizesse vir à Terra” 1

Cidade resplandecente da glória de Deus
Outro piedoso autor exclama: “Ó Maria, sois verdadeiramente o lugar onde a Santíssima Trindade estabeleceu seu repouso, a nova Jerusalém, a cidade santa vinda de Deus. Verdadeira Igreja do Cristo, sois resplandecente da glória de Deus, [...] e esta será ainda aumentada por Vós, porque está dito:

 Deus é grande em toda criatura, porém Ele é sobretudo grande e digno de louvores na cidade de nosso Deus, [que é Maria]” 
1) VILLANUEVA, Tomas de. Obras. Madrid: BAC, 1952. p. 153 e 157.

domingo, 10 de agosto de 2014

Vencer o pecado

Vencer o pecado é obrigação dos devotos do Imaculado Coração de Maria
“Eis aqui, na verdade, a origem desta convicção comum a todos os cristãos: Jesus Cristo, mesmo antes que, revestido da natureza humana, lavasse nossos pecados com seu sangue, teve de conceder a Maria a graça e o privilégio especial de ser preservada e isenta, desde o primeiro instante de sua Conceição, de todo contágio da mancha original.
“Se Deus, pois, tanto detesta o pecado, que quis fosse a futura Mãe de seu Filho isenta não só desses labéus que se contraem pela vontade, mas, por um privilégio especial, antevendo os méritos de Jesus Cristo, também desse outro, que assinala todos os filhos de Adão, com o triste sinete de sua funesta herança, quem pode duvidar seja obrigação, de todos quantos desejam conquistar, por suas homenagens, o coração de Maria, corrigir os hábitos viciosos e depravados e vencer as paixões que os incitem ao mal?

“Todos quantos querem, além disto e quem não deve querer? — que sua devoção para com a Virgem seja digna d’Ela e perfeita, deve ir mais avante, isto é, tender, com todas as suas forças, à imitação de seus exemplos”.1
1 PIO X. Encíclica Ad Diem Ilium (2/2/1904). In: Documentos Pontificios. Petrópolis:Vozes, 1953. p. 32-34.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Concebida e preservada sem pecado original

Concebida e preservada sem pecado original
Sobre esta magnífica e singular prerrogativa de Nossa Senhor cujo brilho temos admirado ao longo destas páginas, limitar-nos-emos a transcrever, aqui, um belo e grave ensinamento do Papa São Pio X.
A verdadeira piedade para com a Mãe de Deus
“Para que o culto da Mãe de Deus seja de bom quilate, deve ele promanar do coração. Os atos exteriores não têm, aqui, nenhuma utilidade nem valor algum, se isolados dos atos da alma. Ora, esses atos têm um só escopo: que observemos plenamente o que o Divino Filho de Maria nos ordena. Pois, se amor verdadeiro é aquele que tem a virtude de unir as vontades, é de suma necessidade que possuamos com Maria esta mesma vontade de servir a Jesus Cristo Senhor Nosso. A recomendação que esta Virgem prudentíssima fez aos serventes de Caná, no-la dirige a nós: «Fazei tudo o que Ele vos mandar» (Jo. II, 5). Com efeito, eis a palavra de Cristo: «Se queres entrar na vida, guarda os mandamentos» (Mt. XIX, 17).
“Por isso, convençam-se todos de que, se sua piedade para com a Bem-aventurada Virgem não os preserva de pecar ou não lhes inspira o propósito de emendar uma vida culpável, essa piedade é falsa e mentirosa, porquanto desprovida de seu efeito próprio e de seu fruto natural.
A Imaculada Conceição: infinita oposição entre Deus e o pecado
“E se alguém desejar uma confirmação destes fatos, ser-lhe-á fácil buscá-la no dogma mesmo da Imaculada Conceição de Maria. Pois, abstraindo da Tradição, fonte de verdade tanto quanto a Sagrada Escritura, como é que esta convicção da Conceição Imaculada da Virgem foi, em todos os tempos, tão conforme ao senso católico, que pode ser tida como incorporada e inata à alma dos fiéis? «Horroriza-nos dizer desta mulher é a sublime resposta de Dionísio Cartusiano — que, devendo um dia esmagar a cabeça da serpente, tenha sido esmagada por ela e que, sendo Mãe de Deus, haja sido filha do demônio» (III Sent., d. 1).

“Não, a inteligência do povo cristão não podia conceber que a carne de Cristo, santa, imaculada e inocente, tivesse seu princípio nas entranhas de Maria, de uma carne que um dia tivesse contraído qual quer mácula, por um instante que fosse. E qual a razão disto, senão que uma oposição infinita separa Deus do pecado?