sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Incomparável brilho da Imaculada Conceição

Continuação dos Comentários ao Pequeno Oficio da Imaculada Conceição - Mons João Clá Dias
Convinha, pois, certamente, que a Mãe de tão nobre Filho
Não tivesse de Eva a mancha, e resplandecesse com todo o brilho.
Incomparável brilho da Imaculada Conceição
Conta o Pe. Bernardes que “a um servo de Deus (João Brebêncio, da Companhia de Jesus), que mereceu a auréola do martírio, e era devotíssimo da Virgem Santíssima, se dignou a mesma Senhora aparecer acompanhada de tantas virgens, que pareciam inumeráveis. Estavam todas postas por sua ordem em um vastíssimo e altíssimo monte, indo decrescendo no número, conforme o monte se ia estreitando piramidalmente, até que no supremo cume dele estava unicamente a soberana Virgem das virgens. E deste lugar só, único e solitário entre tanta multidão de almas puras, Lhe resultava uma glória incomparável.
“Assim — infere o Pe. Bernardes —, podes tu, alma minha, considerar e gozar-te da glória da Senhora, que, entre a multidão quase infinita dos filhos de Adão, Ela seja a única que ocupa o ápice da pirâmide, sendo preservada da mácula que todos incorreram e de que neste espesso bosque das gerações humanas, este só ramo de ouro cintile tanto com os resplendores da divina graça desde o primeiro instante de sua natureza”
Sim, “o brilho da luz eterna resplandeceu nesta simples criatura, que, por uma perfeita virgindade de coração, uma singular continência de espírito única entre todas, conservou pura e sem mancha a imagem do Senhor” 1
Convinha à dignidade de Mãe de Deus uma alma imaculada
Esse admirável fulgor com que o Padre Eterno revestiu a Imaculada Conceição, tem por principal motivo a escolha da Santíssima Virgem para Mãe de seu Filho unigênito, como afirma Fr. Luís de Granada:
“Que uma alma encerrada num corpo sujeito a tantas misérias e cercado de tantos sentidos, passe a voar sobre todos os Anjos em perfeição, e seja mais pura que as estrelas do Céu, isto é coisa de grande admiração. [...]
“Pois tal convinha que fosse, e sobremaneira convinha que nascesse aquela que ab æterno era escolhida para ser Mãe de Deus. Por que costume é de Deus adequar os meios aos fins, ou seja, fazer tais os meios quais competem para a excelência do fim para que os instituiu.
“Pois como Deus escolhesse esta benditíssima Virgem para a maior dignidade de quantas há debaixo d’Ele, que é para ser Mãe do mesmo Deus, assim convinha que Lhe desse o espírito, a santidade e a graça proporcionadas à excelência desta dignidade. Donde, assim como aquele templo material de Salomão foi uma das mais famosas obras que houve no mundo, porque era casa que se edificava não para homens, senão para Deus, assim convinha que este templo espiritual onde Deus havia de morar fosse uma perfeitíssima obra, pois para tal hóspede se aparelhava.
“Porque, como convinha fosse a alma que o Filho de Deus havia tomado por especial morada, senão cheia de toda a santidade e pureza?
“E como convinha fosse a carne da qual havia de tomar nossa natureza o Filho de Deus, senão livre de todo o pecado e corrupção? Porque assim como o corpo daquele primeiro Adão foi feito de terra virgem antes que a maldição de Deus caísse sobre ela, como sucedeu depois do pecado (Gên. II, 7), assim convinha fosse formado o corpo do segundo [Adão] de outra carne virginal, livre e isenta de toda maldição e pecado” ‘.
A honra e a nobreza do Filho exigiam uma Mãe imaculada
A sentença que acabamos de considerar é comum entre os autores eclesiásticos, como superiormente nos demonstra Santo Afonso de Ligório. Escreve o Fundador dos Redentoristas:
“Assim fala São Bernardo à Senhora: Antes de toda criatura fostes destinada na mente de Deus para Mãe do Homem-Deus. Se não por outro motivo, pois ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era necessário que o Pai Eterno A criasse pura de toda mancha. [...]
“Como é sabido, a primeira glória para os filhos é nascer de pais nobres. «A glória dos filhos (são) os seus pais» (Prov. XVII, 6).
“Por isso, na sociedade menos mortifica passar por pobre e pouco formado, do que ser tido por vil de nascença. Pois com sua indústria pode o pobre enriquecer, e o ignorante fazer-se douto com seus estudos. Mas quem nasce vil, dificilmente pode nobilitar-se, [e] ainda que o consiga, está exposto a ver que lhe atirem em rosto a baixeza de sua origem.
“Deus, entretanto, podia dar a seu Filho uma Mãe nobilíssima e ilibada da culpa original. Como então admitir que Lhe tenha dado uma manchada pelo pecado? Como dar a Lúcifer o ensejo de exprobar ao Filho de Deus a vergonha de ter nascido de uma Mãe que outrora fora escrava sua e inimiga de Deus? Não; o Senhor não lho permitiu. Proveu à honra de seu Filho, fazendo com que Maria fosse sempre imaculada. Assim A fez digna Mãe de tal Filho, como testemunha a Igreja Oriental.
1) LE MULIER, Hen. De la Très-Sainte d’aprés les Saintes Écritures et les Pères de l’Eglise. Paris: Pilon, 1854. Vol. I. p. 24.

domingo, 22 de setembro de 2013

Nossa Senhora da Glória do Outeiro

Alvejando à luz do sol tropical durante o dia ou refulgindo com suas paredes iluminadas em meio à quente noite carioca, o pequeno templo bem parece uma jóia, ou um inocente brinquedo esquecido sobre um dos morros da Baía de Guanabara.
Existem alguns panoramas privilegiados, de beleza tão extraordinária e atraente que, ao contemplá-los, não poucas pessoas, tomadas de arrebatamento, pensam: “Ah! Pudesse eu viver aqui para sempre, inebriando-me todas as manhãs com este maravilhoso cenário!”.
Entre essas excepcionais paisagens encontra-se, sem dúvida, a magnífica Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.
A beleza do local deslumbrou os portugueses desde quando chegaram a estas terras e, em especial, certo homem chamado Antônio de Caminha, natural de Aveiro. O grandioso panorama certamente lhe evocava o Deus Criador, artífice de tal maravilha. Buscando viver incógnito e solitário como um ermitão, Antônio, em 1670, refugiou-se numa gruta do chamado “Morro do Leripe”, para lá viver em oração e contemplação.
Dotado de talentos artísticos, esculpiu ele mesmo uma imagem da Virgem Maria, a qual, sob a invocação de Nossa Senhora da Assunção, ou da Glória, venerava em sua ermida. Com o passar dos anos, o local começou a atrair a devoção de outros fiéis, que acabaram por constituir uma fervorosa irmandade em torno da veneranda imagem. Posteriormente, edificaram nesse mesmo local uma pequena capela de taipa.
Décadas depois, tendo essa devoção crescido entre os habitantes do Rio, nasceu o desejo de erigir uma igreja, em substituição à capelinha original, que já se encontrava deteriorada pelo tempo. Sob a direção do arquiteto Tenente-Coronel José Cardoso Ramalho, a construção foi concluída em 1739. Neste mesmo ano, Dom Frei Antônio de Guadalupe, Bispo diocesano do Rio de Janeiro, instituiu canonicamente a Irmandade de Nossa Senhora da Glória.
                                                              * * *
Um grandioso panorama natural, como o da Baía de Guanabara, mereceria ser complementado por uma obra arquitetônica de vastas dimensões. Entretanto, mesmo um edifício singelo e, por assim dizer, virginal — como a Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro — pôde aprimorar, com seu discreto encanto, a fabulosa beleza posta ali pelo Criador.
Alvejando à luz do sol tropical durante o dia ou refulgindo com suas paredes iluminadas em meio à quente noite carioca, o pequeno templo bem parece uma jóia, ou um inocente brinquedo esquecido sobre um dos morros da Baía de Guanabara.
A bucólica igrejinha faz parte dos tesouros da arquitetura barroca no Brasil. Suas características paredes brancas, emolduradas por pedras de granito, podem ser vistas de toda a planície do Aterro do Flamengo. Dois octógonos irregulares, alongados e interligados, compõem a nave central e a sacristia. Sobre eles paira a torre, de quatro faces, encimada por uma cúpula em forma de bulbo.
Transpondo as austeras portas de jacarandá, chamam a atenção do visitante as colunas de cantaria, primorosamente talhadas, e os azulejos portugueses ilustrados com temas bíblicos. Os três altares, em estilo rococó, são obra de Inácio Ferreira Pinto, e sobre o arco da capela-mor encontra-se o escudo da Família Imperial Brasileira.
Em 1937, a Igreja de Nossa Senhora da Glória foi declarada Monumento Nacional, e em 1950 o Papa Pio XII conferiu-lhe o honroso título de Basílica Nacional da Assunção.

 (Marcos Eduardo Melo dos Santos - revista Arautos do Evangelho 84)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Sansão e o favo de mel

Continuação dos Comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada
 O favo do forte Sansão
Juiz de Israel, dotado de extraordinária força quando o Espírito Santo o tomava, Sansão decidiu desposar uma mulher dos filisteus, povo que então oprimia os filhos de Jacob.
Ao conhecerem o insólito desejo de Sansão, seu pai e sua mãe, perplexos, disseram-lhe (Juiz. XIV, 3-19): “Porventura não há mulheres entre as filhas de teus irmãos, e entre todo o nosso povo, para que tu queiras casar com uma dentre os filisteus, que são incircuncidados? Mas Sansão disse a seu pai: Toma esta para mim, porque agradou aos meus olhos. Ora, seus pais não sabiam que isto se fazia por disposição do Senhor, e que ele buscava uma ocasião contra os filisteus, porque naquele tempo os filisteus dominavam sobre Israel.
Sansão e o favo de mel
“Sansão, pois, com seu pai e sua mãe, foi a Tamnata. E, quando chegaram às vinhas da cidade, apareceu um leão novo e feroz, e que rugia, e arremeteu contra ele. Mas o espírito do Senhor apossou-se de Sansão, e ele despedaçou o leão, fazendo-o em bocados, como se fora um cabrito, sem ter coisa alguma na mão; e não quis contar isto a seu pai nem a sua mãe. Depois desceu e falou com a mulher que tinha agradado aos seus olhos.
“E, voltando alguns dias depois para casar com ela, afastou-se do caminho para ver o cadáver do leão, e eis que na boca do leão estava um enxame de abelhas e um favo de mel.
“E tomando-o nas mãos, ia-o comendo pelo caminho; e, chegando onde estavam seu pai e sua mãe, deu-lhes uma parte, que eles também comeram; mas não lhes quis dizer que tinha tirado aquele mel do corpo do leão.
Enigma proposto por Sansão
“Foi, pois, seu pai à casa da mulher, e preparou um banquete para seu filho Sansão, porque assim o costumavam fazer os jovens (noivos). Tendo-o visto os habitantes daquele lugar, deram-lhe trinta companheiros para estarem com ele. E Sansão disse-lhes: Propor-vos-ei um enigma; e, se vós souberdes decifrá-lo dentro dos sete dias da boda, dar-vos-ei trinta vestidos, e outras tantas túnicas, mas, se o não souberdes decifrar, dar-me-eis a mim trinta vestidos e outras tantas túnicas. E eles responderam-lhe: Propõe o enigma, para que o ouçamos. E ele disse-lhes:
“Do que come saiu comida, e do forte saiu doçura.
“E aproximando-se o dia sétimo, disseram à mulher de Sansão: Acaricia o teu marido, e faze que ele te descubra o que significa o enigma; e se o não quiser fazer, queimar-te-emos a ti, e à casa de teu pai: porventura nos convidastes vós para as bodas a fim de nos despojardes? E ela punha-se a chorar junto de Sansão, e queixava-se dizendo: Tu odeias-me, e não me amas, por isso não queres declarar-me o enigma, que propuseste aos filhos do meu povo. Mas ele respondeu: Eu não o quis descobrir a meu pai e a minha mãe, e poderei declará-lo a ti?
“Ela, pois, chorava diante dele durante os sete dias da boda; e enfim, ao sétimo dia, sendo-lhe ela importuna, declarou-lho. E ela imediatamente o descobriu aos seus compatriotas. E eles, no sétimo dia, antes de se pôr o sol, disseram-lhe:
“Que coisa é mais doce que o mel, e que coisa é mais forte que o leão?
“E ele disse-lhes: Se vós não tivésseis lavrado com a minha novilha1, não teríeis decifrado o meu enigma. E apoderou-se dele o espírito do Senhor e foi a Ascalon, e matou lá trinta homens, e, tirados os seus vestidos, deu-os àqueles que tinham decifrado o enigma.
“E, sobremaneira irado, voltou para a casa de seu pai.”
Favo que trouxe em si o autor da vida
No favo de mel, extraído do cadáver de um leão, “considera-se a imagem da vida que se encontra no próprio seio da morte, e a bondade do mel saboroso, colhido numa fonte que naturalmente provoca asco e repugnância.
“Assim como o favo traz o mel, Maria, ainda que possuidora de uma natureza mortal, trouxe dentro de si a Jesus, autor da vida.
“Nem podia o celestial mel querer outro favo que não fosse o puríssimo e alvíssimo favo do imaculado seio de Maria” 2
Mãe melíflua
Havemos também de considerar no favo de mel colhido pelo forte Sansão, um símbolo da incomparável doçura de Nossa Senhora.
A respeito desse suave predicado mariano, comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Em um de seus harmoniosos louvores 3 tributados à Santa Mãe de Deus, assim canta a Igreja: «Ó Virgem lindíssima, ó Mãe melíflua».
“Celestialmente bela, Nossa Senhora está toda circundada de mel.
Essa conjugação entre a formosura e a suavidade não é fortuita, pois há certa forma de beleza, embora majestosa, da qual se desprende, de todos os modos, a doçura do mel.
“A formosura de Nossa Senhora não é apenas extrema, como também apresenta extrema doçura. Desta emana toda sorte de benevolência e de bondade.
“Ela é, pois, a Virgem melíflua, cuja suavidade atrai toda alma que d’Ela se aproxima”4.
Os lábios de Maria são como um favo de mel
E o Pe. Rolland assim se refere à extraordinária doçura da Mãe de Deus:
“Se é verdade que a (virtude da] doçura está em proporção com a pureza, a humildade e a caridade, que cimo de perfeição não atingiu a doçura de Maria, a mais pura, a mais humilde e a mais amável das criaturas?
“Em Maria, jamais dureza, frieza nem inconstância de ânimo, mas a graça, a amenidade, a cordialidade perfeitas. Quão doce e amável era Ela na casa de São Joaquim e de Sant’Ana, no templo de Jerusalém, no exílio, em Nazaré, durante a Paixão e durante sua permanência sobre a Terra após a Ascensão! Aproximar-se-Lhe, vê-La, ouvi-La, era indizível felicidade!
“Sua inigualável doçura nos é afirmada pelo próprio Espírito Santo. Ele a tinha em vista, quando, descrevendo a mulher ideal, disse: «Ela abriu sua boca à sabedoria, e uma lei de doçura reside em seus lábios».
“A Santa Igreja, em sua liturgia, não deixa de ressaltar a amabilidade de Maria, nesses breves mas eminentemente expressivos termos:
«Vossos lábios são como um favo de mel que destila a suavidade; o leite e o mel estão sobre vossa língua, tanto vossas palavras são deliciosas». [...]

“Que a inefável doçura de Maria excite, portanto, nossa entusiasmada admiração, nossa confiança sem limites e, sobretudo, nossa generosa imitação”5.
1) Isto é, “se vos não tivésseis valido de minha débil e tímida esposa” (Nota do Pe. Matos Soares, na Bíblia por ele traduzida e comentada, 6. ed. São Paulo: Paulinas, 1953).
2) Do PEQUENO PEQUENO OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO em latim e português com comentários. São Paulo: Paulinas, 1956. p. 114.
3) Antífona O Virgo pulcherrima.
4) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em 24/8/1965. (Arquivo pessoal).
5) ROLLAND. La Reine du Paradis. 8. ed. Paris: Langres, 1910, Vol. I. p. 581-582.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Divino portal fechado

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada
Divino portal fechado
Assim escreve Ezequiel, ao registrar uma de suas proféticas visões (Ezeq. XLIV, 1-2):
“E (o Anjo) fez-me voltar depois para o caminho da porta do santuário exterior, que olhava para o oriente, e que estava fechada. E o Senhor disse-me: Esta porta estará fechada; não se abrirá, e ninguém passará por ela; porque o Senhor Deus de Israel entrou por esta porta, e ela estará fechada.”
Símbolo da perpétua virgindade de Maria
“Nesta porta misteriosa — escreve o Pe. Félix Cepeda, C. E M. — os Santos Padres, especialmente Santo Agostinho e São Jerônimo contra Elvídio, vêem figurada a virgindade de Maria depois de seu glorioso parto, até sua morte. Foi virgem ao conceber e ao dar à luz a Jesus Cristo, e será perpetuamente virgem. Havia oferecido a Deus com voto esta fragrantíssima açucena, e não faltará à sua promessa. O Filho perfeito, que é unigênito nos Céus, há de ser também único na terra. [...]
“Depois do parto, ó Virgem, permanecestes imaculada!”1
Enumerando os símbolos da excelsa virgindade de Nossa Senhora, comenta Fr. Luís de Granada:
“É igualmente figurada por aquela porta oriental que viu o profeta Ezequiel; [...j porque ninguém entrou por aquela porta, senão apenas o Filho de Deus, porque só Ele era seu amor, seu pensamento, seu desejo, seus cuidados e sua contínua lembrança” 2
É também na citada passagem de Ezequiel, que o grande Santo Ambrósio baseia sua opinião em favor da perpétua virgindade de Nossa Senhora. Diz ele:
“Qual é esta porta, senão Maria? E por que a porta está fechada, senão porque a virgindade de Maria em nada sofreu com sua maternidade divina? «Esta porta estará fechada, e não se abrirá», diz o profeta. Maria é esta porta; Jesus Cristo por ela entrou neste mundo, respeitando porém o selo virginal de que ela estava marcada, assim como Ele saiu do sepulcro sem romper a pedra, e como entrou no cenáculo estando as portas cerradas.
“Esta porta misteriosa permaneceu fechada antes e depois da passagem do Senhor, porque estava reservada unicamente para Ele. «Ela não se abrirá, e ninguém passará por ela; porque o Senhor Deus de Israel» entrou por esta porta para habitar entre nós.
Porta que deu passagem ao Sol de Justiça
“Esta porta olhava para o oriente, porque dela saiu o Oriente; ela deu à luz o Sol de Justiça. E este que passou por esta porta é o mesmo de quem pôde dizer David, no salmo CXLVII: «Louvai, 6 Jerusalém, ao Senhor; louvai o Sião o vosso Deus; porque Ele fortificou os ferrolhos das vossas portas». Louvai vosso Deus, ó Maria, porque o nascimento de vosso Divino Filho consagrou e tornou para sempre gloriosa vossa puríssima virgindade!”3
E São Jerônimo, animado de ardente zelo em favor da intacta virgindade de Maria, escreve:
“Virgem foi Cristo, virgem perpétua foi sua Santíssima Mãe; mãe e virgem ao mesmo tempo, em cujo seio fechado penetrou Cristo. Esta é a porta oriental, como disse Ezequiel, sempre fechada e sempre brilhante, ocultando em si e nos dando de si mesma o Sancta Sanctorum; [porta] através da qual entra e sai o Sol de Justiça e Pontífice nosso, segundo a ordem de Melquisedec” 4
Conforme os ensinamentos de Santo Ambrósio e de São Jerônimo, e com análogo fervor, comenta São Tomás de Villanueva:
“Que significa porta fechada, senão o selo do pudor, a integridade da carne imaculada? Pois não sofreu detrimento no parto A que na concepção recebeu aumento de santidade.
“Também se há de notar, nesta profecia de Ezequiel, que aquela porta do santuário, fechada, olhava para o oriente, e que somente o Senhor Deus de Israel entrou por ela, precisamente para oferecer o sacrifício.

“Que porta oriental é esta senão a Virgem, mediante a qual brilhou a luz a todo o mundo? Não é propriamente oriental a que engendrou o Sol de Justiça? Pois de ti nasceu o Sol de Justiça, nosso Deus. Só Cristo, Príncipe e Sacerdote, entrou através desta porta no mundo para oferecer o sacrifício; isto é, sua morte na Cruz, pois veio ao mundo para oferecê-lo ao Senhor”.5
1) CEPEDA, Felix Alejandro. T/bgo Veneranda. Madrid: Corazón de Maria, 1928. p. 193-194.
2) GRANADA, Luís de. Obra Selecta. Madri: BAC, 1952. p. 734.
3) JOURDAIN, Z-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900. Vol. III. p. 96.
4) JERÔNIMO. Epístola 48, ou Libro apolog. a Fammaq. en defensa de los libros contra Joviniano. n. 21. Apud, VILLANUEVA, Tomas de. Obras. Madrid: BAC, 1952. p. 289.
5) VILLANUEVA, Tomas de. Lac. cit.

domingo, 8 de setembro de 2013

Nossa Senhora da Saúde

O que é que devemos dizer da invocação de Nossa Senhora da Saúde? Na consideração mais imediata Nossa Senhora da Saúde é Nossa Senhora tendo pena da saúde dos homens, vendo os homens aflitos por doenças de toda a ordem. Não há um órgão humano no qual não caibam, ao menos em potência, as mais variadas perebas e doenças aflitivas. E aquilo que pode acontecer, acontece. Logo, os homens que podem adoecer de tudo adoecem, de fato, de tudo, e recorrem a Nossa Senhora para conseguir a sua cura.

É mau que os homens peçam a cura a Nossa Senhora? De nenhum modo, é até muito bom. Por quê é bom? Porque Nossa Senhora permite as doenças, permite as provações, em grande número de vezes, para que os homens peçam a cura e para que através da cura eles sintam a bondade materna d’Ela e sentindo essa bondade se sintam mais atraídos por Ela, mais conquistados por Ela. Então, Nossa Senhora da Saúde, em primeiro plano, é Nossa Senhora restituindo a saúde dos homens.

Será só isto? Nossa Senhora só é mãe quando cuida de nossa saúde? Quando ela, às vezes, permite que adoeçamos, Ela não nos concede também uma graça insigne? E quando permite que nossas doenças durem, também não nos dá uma graça insigne? Muitas vezes, sim. As doenças são meios de nos aproximarmos d’Ela, de tomarmos distância das coisas do mundo, de compreendermos de como vale pouco a vida, de, pelo sofrimento, purificarmos nossa alma de muitos pecados e de muitos defeitos. Muitas e muitas vezes a doença é um bem para nós.

Então, quando pedimos a saúde devemos dizer a Nossa Senhora que desejamos a saúde, que pedimos que Ela no-la dê, na medida em que for um bem para a nossa alma. Se a doença for melhor, que Ela nos deixe doentes. Se a morte for melhor, que Ela nos dê a morte. Mas podemos fazer uma coisa, podemos dizer a Ela: "Se a doença for melhor para minha alma, eu aceito, mas Vós, que podeis tanto, talvez possais dar um jeito com os desígnios de Deus de maneira que a saúde ainda me faça mais bem do que a doença." Porque não pedir uma coisa dessas? "E se tal for, se até lá chegar Vossa misericórdia, se os pecados não constituírem obstáculo à Vossa misericórdia, eu Vos peço que então me sareis, senão eu aceito com humildade o que Vós destinardes".

Houve um rei no Antigo Testamento – não me lembro mais quem era – que adoeceu e um dos profetas chegou a ele e disse: "Você vai morrer." Ele virou doutro lado, para a parede, diz a Bíblia, e chorou. Vira para a parede, chora e depois diz: "Mas, meu Deus etc., mas eu não tinha vontade de morrer". E Deus deu a ele 15 anos de vida ainda. O que para os senhores mais moços deve parecer uma eternidade! Depois de 60 anos parece um prazo módico. Deus deu a ele mais 15 anos de vida. É claro que Deus mandou o profeta avisá-lo que ia morrer para que ele pedisse para não morrer. Devemos fazer, então, a oração como Nosso Senhor no Horto: "Pater, si vis, transfer calicem istum a me; verumtamen non mea voluntas sed tua fiat" (Lc. 22-42). "Meu Pai, se for possível afastai de mim esse cálice, se não for faça-se a Vossa vontade e não a Minha". A mesma coisa com a morte.

Nossa Senhora da Saúde no-la restitui nesse contexto, dentro dessa visão. Evidentemente Nossa Senhora, que é nossa Mãe e que quer para nós toda a espécie de bens, se nos dá a saúde do corpo, mais ainda quer dar-nos a saúde da alma, porque a saúde da alma vale incomparavelmente mais que a do corpo, pois a alma vale mais do que o corpo. E como estou partindo de baixo para cima, — estou falando do corpo primeiro, — tratando da alma eu falo da saúde psíquica, antes de tudo. Aqueles que têm enfermidades físicas que prejudicam o bom andamento das faculdades mentais, enfermidades nervosas, etc., podem e devem dirigir-se a Nossa Senhora da Saúde para que os cure.


Mas, sobretudo, devem dirigir-se a Nossa Senhora os pecadores para que Ela restitua a saúde à alma que se tornou enferma da pior das enfermidades, que é o pecado. 

Plinio Correa de Oliveira - extraído de conferência 8/07/1970

sábado, 7 de setembro de 2013

Natividade de Nossa Senhora



Fonte de toda elevação e grandeza, Nosso Senhor escolheu por Mãe aquela que, abaixo d’Ele, veio ao mundo para ser o píncaro da criação. E um ápice com esta característica de particular excelência: possuía tudo na ordem do necessário, acrescido da elegância que se alça para o terreno do supérfluo. Ela nasceu com o florilégio de todos os charmes possíveis, mil graciosidades, mil distinções, mil belezas que constituem, também, a sua incomparável glória.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Natividade de Nossa Senhora

Mais do que todos os santos reunidos

A nossa Celeste Menina, tanto por causa de seu ofício de medianeira do mundo como em vista de sua vocação para Mãe do Redentor, recebeu, desde o primeiro instante de sua vida, graça mais abundante que a de todos os santos reunidos. E que admirável espectáculo para o Céu e para a Terra, não seria a alma dessa Bem-aventurada Menina, encerrada ainda no seio de sua mãe!

Era a criatura mais amável aos olhos de Deus, de quantas que até então haviam existido. Houvera, pois, nascido imediatamente após a sua Imaculada Conceição, e já teria vindo ao mundo mais rica de méritos e mais santa do que toda a corte dos santos. Imaginemos, agora, quanto mais santa nasceu a Virgem, vendo a luz do mundo só depois de nove meses, os quais passou adquirindo novos merecimentos no seio materno!

Santo Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria