sábado, 31 de agosto de 2013

Nossa Senhora das Dores, dai-me forças!

Nossa Senhora das Dores, Vós sofrestes por mim. Que o mérito de vossas lágrimas afaste tanta dor que ameaça cair, a justo e a lindo título, sobre mim, porque não me sinto capaz de carregá-la. Sei que em algo a afastareis, mas compreendo que vossa oração pode encontrar a barreira que vosso Divino Filho encontrou, quando Ele disse: “Si fieri potest…” Então, se em algo não pude ser; dai-me forças! Tanto quanto possível, me refugio da merecida cólera de deus junto aos vossos braços de Mãe. Contudo, se esses braços tiverem que me entregar; e eu sofrer esse holocausto por outros ou por mim, adoro essa cólera! Dai-me forças, e a suportarei. 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Por que diferentes invocações à Nossa Senhora?

Em Nossa Senhora se encontra, outrossim, a mesma unidade na variedade dos dons de Deus. Isto se nota bem no fato de que, sendo una, Ela se apresenta a nós na diversidade admirável das suas invocações. Ela é a Nossa Senhora da Paz, é a Nossa Senhora dos Prazeres, a Saúde dos enfermos, mas é também Nossa Senhora das Dores, Ela é Nossa Senhora da Boa Morte. N'Ela todos os contrastes se harmonizam. Ela é ao mesmo tempo Auxilio dos cristãos, mas Refúgio dos pecadores; Ela é glorificada pela sua humildade incomparável, mas todos os videntes que tiveram a felicidade de A contemplar nas aparições comentam a sua soberana majestade. Ela é Nossa Senhora que se apresenta a nós "ut castrorun acies ordinata" ("como um exército em ordem de batalha"), mas, ao mesmo tempo, Ela é "Mater clementiae et misericordiae" (Mãe de clemência e de misericórdia).


Nossa Senhora é bem aquele mar, aquele céu de virtudes, diante do qual o homem deve ficar estarrecido e enlevado, e, com todas as suas forças, deve procurar amar e imitar.

Plinio Correa de Oliveira

sábado, 24 de agosto de 2013

Maria: Velo de Gedeão

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada
Velo que recebeu o Divino Orvalho
Também sobre essa maravilhosa figura de Nossa Senhora escreveu Nicolas:
“Maria é o branco velo de Gedeão, que recebe o rocio do céu, enquanto nenhuma parte da terra o desfruta todavia. Orvalho de que dizia o Profeta: «Céus, façam chover o Justo», e do qual cantava David:
«Descerá como o rocio sobre a lã dos rebanhos», sem ruído nem derrame, recolhido e sustentado inteiramente pela doce consistência deste velo [Maria], cuja flexibilidade não lhe opõe resistência alguma, sem sofrer por isto a menor perda em sua casta integridade” 32
Tocante figura da humanidade de Nossa Senhora
Resumindo a opinião dos autores eclesiásticos a respeito do Velo de Gedeão, ensina Le Mulier:
“Os Santos Padres consideram este velo como uma das mais tocantes figuras da humanidade da Mãe de Deus, verdadeira imagem de doçura e de mansidão, sagrado despojo de pureza e de inocência, destinado a ser tinto em escarlate, e servir na confecção do manto real do Salvador.
“Com efeito, não é deste velo bendito que foram tecidas as vestimentas de salvação para todas as nações da Terra? Não é dele que saiu o Cordeiro sem mancha, o qual, revestido desta lã, isto é, da carne de sua Mãe, veio pensar e curar as chagas do mundo?
“Embora o tosão cinja o corpo, não se ressente ele nem das paixões nem das enfermidades da carne; é assim que a Santíssima Virgem, posto que vivendo num corpo mortal e corruptível, foi isenta de todos os vícios, de todas as imperfeições inerentes à humanidade.
“Foram sua candura, sua pureza, que fizeram descer o celeste orvalho no seio de Maria, como sobre um velo branco e limpo. Foi atraída por Maria que a Divindade habitou inteira em nossa carne, a fim de que, estando um dia pregada sobre o Madeiro, irrigasse Ela toda a terra com a desejada chuva da salvação.
“O velo de Gedeão foi, inicialmente, inundado do rocio celeste, permanecendo seca toda a terra. Assim a Virgem foi a primeira repleta da graça do Senhor, da qual era a única digna e a única capaz de trazê-la até nós.
“E o velo, tendo sido largamente molhado, no dia seguinte toda a terra foi inundada deste celestial rocio. E assim que Maria, tendo sido a primeira em receber a plenitude da Divindade, pelo fato mesmo de ser Ela a única digna de tal [esplendor], a chuva, antes caída sobre o tosão, precipitou-se depois em torrentes sobre o mundo, pela palavra dos Apóstolos e dos pregadores, como a água dos telhados pelas calhas, num dia de tempestade.
Sinal da Redenção do gênero humano
“Gedeão toma o velo encharcado pelo rocio, espreme-o e enche de água um grande copo, para nos dar a entender que, assim como Deus, em sua sabedoria, encheu esse tosão de orvalho antes de deixar cair uma só gota deste sobre a terra, querendo resgatar o mundo, encerrou Ele, primeiramente, no seio de Maria, todo o preço de nossa Redenção.
“Enfim, do mesmo modo que esse sinal foi dado a Gedeão como indício de que Deus queria livrar seu povo das mãos dos madianitas; assim a descida do Verbo Divino no seio da Virgem foi um testemunho certo de que Deus desejava libertar o mundo da tirania de Satanás”

“Oh! homem — exclama o Pe. Jourdain — admira os desígnios de Deus, reconhece as vias de sua sabedoria e de sua misericórdia. Querendo derramar o orvalho celeste sobre a terra, Ele embebeu antes o velo; querendo resgatar o gênero humano, o preço deste depositou Ele em Maria. Elevemos, portanto, nossos olhos e consideremos com quais sentimentos de devoção Ele deseja que honremos a Maria, pois que Ele A enriqueceu da plenitude de seus bens. Isto nos significa que toda nossa esperança deve estar n’Ela, e que é d’Ela, como de uma abundante fonte, que devem transbordar sobre nós as graças da salvação” 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Nossa Senhora Rainha

"Pode-se dizer que a fé dos católicos na Realeza de Maria –escreve um conhecido mariólogo– é tão antiga como é antiga a Igreja Católica" 1. Esta verdade de fé foi admiravelmente sintetizada na Encíclica Ad coeli Reginam de Pio XII 2, promulgada por ocasião da instituição da festa litúrgica de Nossa Senhora Rainha, no encerramento do Ano Mariano de 1954. "Jesus é Rei dos séculos eternos por natureza e por conquista; por Ele, com Ele, em submissão a Ele, Maria é Rainha pela graça, pela parentela divina, por conquista, por singular eleição. E o seu Reino é tão vasto como o do seu Divino Filho, uma vez que nada se subtrai ao seu domínio" 3. Nosso Senhor – escreve por sua vez Plínio Corrêa de Oliveira– quis fazer de Nossa Senhora "um régio instrumento do seu amor" , havendo pois "um regime verdadeiramente marial no governo do universo. Assim se vê como Nossa Senhora, ainda quando sumamente unida a Deus e dependente d'Ele, exerce a sua ação ao longo da História"."

Nossa Senhora é infinitamente inferior a Deus, é evidente, mas Ele quis dar-Lhe esse papel num ato de liberalidade. É Nossa Senhora quem, distribuindo ora mais largamente a graça, ora menos, impedindo ora mais, ora menos a ação do demônio  exerce a sua Realeza sobre o curso dos acontecimentos terrenos. 


1 P. G. M. ROSCHINI O.S.M., "Maria Santissima nella storia della salvezza"
2 Pio XII, Encíclica Ad coeli Reginam de 11 de Outubro de 1954, in AAS, vol. 46 (1954), pp. 625-640.

3  Pio XII, Radiomensagem "Bendito seja o Senhor"

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Maria fons

No hino Flos virginum, Nossa Senhora é chamada “Maria fons”. Ora, como se deve entender esta invocação? Em que sentido Ela é fonte?
Nossa Senhora é simbolizada por uma fonte encontrada por alguém que está vagueando pelo deserto, com sede. Quer dizer, Ela é a fonte na qual podemos nos dessedentar.

Mas fonte de quê? Ela é a fonte de todas as graças, pois estas nos vêm de Nosso Senhor Jesus Cristo através d’Ela.
Plinio Correa de Oliveira - Extraído de conferência de 18/8/1965

domingo, 18 de agosto de 2013

Maria: O velo de Gedeão

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
 O velo de Gedeão
Relata-nos o Livro dos Juízes que os judeus imploraram socorro a Deus contra seus perseguidores, pois havia sete anos que se encontravam sob a escravidão dos madianitas.
Enviou então o Senhor um Anjo a Gedeão, “o mais valente dos homens”, a este confiando a missão de libertar Israel do jugo madianita.
Entretanto, não só por ser ele o último filho, da última família da tribo de Manassés, como também pelo fato de serem cento e quarenta mil os guerreiros adversários, Gedeão teve medo de não ser bem-sucedido na empresa que Deus lhe queria confiar. Sem a forte assistência do Céu, certamente sucumbiria. Donde ter proposto ele ao Senhor (Juiz. VI, 36-40): “Se tu salvas Israel por meio da minha mão, como disseste, eu porei na eira este velo de lã; se o orvalho cair só no velo,
e toda a terra ficar seca, reconhecerei nisso que salvarás Israel pela minha mão, como prometeste.
“E assim sucedeu. E, levantando-se ainda de noite, espremeu o velo, e encheu uma concha 28 de orvalho.
“E Gedeão disse de novo a Deus: Não se acenda contra mim o teu furor, se eu ainda fizer outra prova, pedindo um sinal no velo. Peço que só o velo esteja seco, e toda a terra molhada de orvalho. E naquela noite o Senhor fez como (Gedeão) Lhe tinha pedido; e só o velo ficou enxuto, e orvalho por toda a terra.”
Símbolo da Imaculada Conceição e da plenitude de graça de Maria Santíssima
Admirável símbolo de Maria Santíssima foi o velo de Gedeão, miraculosa prova da soberana e irreversível promessa de assistência, da parte de Deus. Assim como o fizera em relação a este manto de lã, “também em favor da Santa Ovelha que devia dar à luz o Cordeiro de Deus, dignou-se o Senhor operar milagres de exceção.
“Somente Ela foi plenamente santificada desde o primeiro instante de sua concepção. Enquanto as almas são, no começo de sua existência, totalmente privadas da graça santificante, áridas para o bem, desprovidas de toda flor, de todo fruto, de toda virtude, Maria é inundada das graças de Deus, Ela é toda bela diante do Senhor, e possui a plenitude da santidade!
“Só Maria, em meio ao dilúvio de iniquidade que cobre a Terra e mancha os filhos de Adão, foi totalmente preservada do pecado, e nem mesmo a sombra da menor falta tocou sua alma! Somente Ela foi o sinal que anunciava a derrota de nossos inimigos, a libertação do universo! Somente Ela foi a Mãe da divina graça, que se estendeu sobre o mundo para purificá-lo e o santificar.
“Portanto, é também com um entusiasmo cheio de reconhecimento que a Igreja canta, dirigindo-se ao verdadeiro Gedeão, ao vencedor do demônio, a Nosso Senhor Jesus Cristo: «Quando nascestes inefavelmente da Virgem, cumpriram-se então as Escrituras: baixastes como a chuva sobre um velo para salvar o gênero humano. Nós Vos louvamos, ó nosso Deus!»” 29
Com acerto, pois, diz o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “No Ofício a Ela consagrado, Nossa Senhora é cognominada velo de Gedeão. Por que, desde o momento de sua Imaculada Conceição, só Ela continha o orvalho das bênçãos de Deus, enquanto toda a Terra ao seu redor permanecia seca, carecendo da graça divina”
Semelhante é este comentário do Fr. Tiago Monsabré, O. P.: “O velo de Gedeão, ora embebido do orvalho celeste num solo árido, ora intacto sob as torrentes de chuva que desabam ao redor dele, é Maria inundada pela graça de Deus, desde o primeiro instante da sua Imaculada Conceição, quando aquela falta a toda criatura humana; é Maria preservada do pecado, quando este penetra em toda alma vivente” 31

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Vara florida de Aarão


Vara que deu testemunho em favor do Divino Sacerdote
“A vara do irmão de Moisés era um ramo de amendoeira, como o fizeram conhecer a flor e o fruto, para significar que, assim como a amendoeira anuncia a vinda do sol e testemunha sua presença, dado ser ela a primeira de todas que se cobre de flores na primavera e a última que perde sua folhagem, assim a vinda de Maria foi o anúncio do advento de seu Filho, e a presença d’Ela é um seguro penhor da presença do Filho.
“A vara de Aarão se tornou miraculosamente fértil para dar testemunho em favor do Sumo Sacerdote figurativo. O próprio Espírito de Deus desceu sobre Maria e A tornou fecunda, para a consagração do Sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedec” 26
Vara sublime que se eleva até o trono de Deus
Inspirado por seu ardoroso amor à Virgem florida, exclama São Bernardo:
“Que significava aquela vara de Aarão, que floresceu estando seca senão a Maria concebendo, porém sem concurso de varão? [...] Não danificou ao verdor da vara a saída da flor, nem ao pudor da Virgem o parto sagrado. [...]
“A Virgem Mãe de Deus é esta vara, e seu Filho, a flor. Flor sem dúvida é o Filho da Virgem, flor cândida e rubra, eleita entre mil flor em que os Anjos desejam mirar-se, flor cuja fragrância ressuscita os mortos, e, como ele mesmo atesta, flor é do campo e não do horto. Floresce naquele, sem diligência alguma do homem. Por ninguém é semeada, nem tratada com adubos. Assim inteiramente floresceu o seio da Virgem. Assim as entranhas intactas, íntegras e castas de  Maria, como prado de eterno verdor, produziram a flor, cuja formosura não experimentará a corrupção, e cuja glória é para sempre imarcescível.

“Ó Virgem, vara sublime, a que altura elevas tua sagrada copa! Até Àquele que está sentado no trono, até ao Senhor da Majestade!” 27

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Vós sois a Virgem florida

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Vós sois a Virgem florida
O louvor em epígrafe se reporta ao estupendo milagre operado por Deus, no Antigo Testamento, quando fez florescer a vara de Aarão. Quis o Senhor, por meio desse admirável sucesso, declarar que o ofício divino ficaria vinculado à família do irmão de Moisés.
Com efeito, Aarão exercia o encargo de Sumo Sacerdote, auxiliado pelos filhos de Levi. Ambiciosos de tais honras, os outros judeus se puseram a murmurar.
Disse então o Senhor a Moisés (Num. XVII, 1-9): “Fala aos filhos de Israel, e recebe deles uma vara por cada tribo, doze varas de todos os príncipes das tribos, e escreverás o nome de cada um deles sobre a respectiva vara. Mas o nome de Aarão estará sobre a vara da tribo de Levi, e o nome do chefe de todas as outras tribos estará escrito separadamente cada um na sua vara. E pô-las-ás no Tabernáculo da Aliança, diante do Testemunho, onde Eu te falarei. A vara daquele que Eu escolher dentre eles, florescerá; e (deste modo) farei cessar os queixumes dos filhos de Israel, com que murmuram contra vós. E Moisés falou aos filhos de Israel; e todos os príncipes lhe deram as varas, uma por cada tribo; e acharam-se doze varas, fora a vara de Aarão. E Moisés, tendo-as posto diante do Senhor no Tabernáculo do Testemunho, voltando no dia seguinte, achou (que era) pela tribo de Levi, e que, aparecendo os botões, tinham saído flores, as quais, estendidas as suas folhas, se transformaram em amêndoas. Moisés, pois, levou todas as varas de diante do Senhor a todos os filhos de Israel, os quais as viram e receberam cada um a sua vara.
Vara da qual nasceu Jesus Cristo, flor de salvação e fruto de vida
Segundo o Pe. Jourdain, “a vara de Aarão coberta de folhas, de flores e de frutos, foi também figura de Maria. [...]
Essa vara que floresceu por um prodígio e deu seu fruto sem ter sido plantada, e sem ter raízes nem seiva fecundante, simboliza admiravelmente Maria, que, colocada no Tabernáculo, e sendo Ela mesma o templo vivo do Espírito Santo, concebeu sem intervenção humana, e sem nenhum socorro terrestre deu à luz esse bendito fruto que proporciona a todos os homens, e neles conserva, a vida sobrenatural da alma25
Considerando o milagre da vara coberta de flores, escreve Henry Le Mulier, baseado nos testemunhos dos Santos Padres:
“Quem não reconhecerá, sob este emblema, a Virgem saída da raiz de Jessé, a verdadeira Mãe de Deus? A vara de Aarão deu flores e frutos: assim Maria trouxe à luz Nosso Senhor Jesus Cristo, vera flor de salvação, único fruto de vida.
“Esta vara não foi irrigada, não pôde haurir na terra os sucos que servem habitualmente à nutrição das plantas; e entretanto ela se encheu de seiva e se cobriu de botões: assim a Virgem concebeu sem qualquer socorro natural, sem nada que tocasse à corrupção do mundo.
“A vara de Aarão é toda branca, sem córtice e sem nó, para melhor representar a candura e a pureza de Maria, em quem não se encontrou o nó do pecado original, nem o córtice do pecado atual.

“Aquela vara se ergue direita, sem germes nem rebentos, portando em sua extremidade, flores e frutos; assim a Virgem de Jessé, embora saída da tortuosa raiz dos patriarcas e dos profetas, eleva-se aprumada como o junco dos marnéis, trazendo em seu cimo a flor dos Cânticos.
25) JOURDAIN, Z-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900. Vol. I. p. 485.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Maria Santíssima: Sarça ardente

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Labaredas de amor divino que purificam a Terra
“Maria Santíssima — escreve o douto Nicolas — é a sarça ardente na qual o Senhor apareceu a Moisés entre as chamas de um fogo que saía da mesma sarça, sem consumi-la. Sarça virginal que em nada se queima com o fogo de um parto divino, e de onde brotam essas labaredas de celeste amor que abrasaram e purificaram a Terra!” 22
Sarça ardente, na qual habitou o Senhor
Também sobre esse símbolo da Santíssima Virgem, encontramos no Pe. Rolland estas belas e fervorosas palavras:
“É na solidão do deserto que Moisés contempla a sarça ardente: é no deserto do mundo, tão árido para o bem, que Maria faz sua aparição. A sarça está toda penetrada de chamas acesas pelos Anjos, no meio das quais Deus se manifesta e fala a seu servidor: Deus é um fogo que consome, e Ele vem habitar em Maria, e dirige a seu coração as mais sublimes palavras. Diante do milagre da sarça que arde sem se queimar, Moisés é tomado de admiração: em face do prodígio de Maria que recebe em si o Verbo feito carne e que guarda o tesouro de sua virgindade, há incomparavelmente mais razão para se maravilhar.
“Tudo é milagre em Maria, mas, sobretudo, no mistério da Encarnação, princípio da salvação do mundo, fonte fecunda de pureza e de virgindade. Assim, devemos oferecer a Deus o preito de nosso louvor por esse insigne ato de sua onipotência” 23
Veneração e amor a Maria, “sarça ardente da visão”
“Ah! se Deus disse a Moisés, de dentro da ardente sarça: «Não te aproximes daqui; tira as sandálias de teus pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa»; que obséquio, que reverência não devemos professar à Mulher vestida do sol de justiça e de santidade, de que era só uma figura a sarça incandescente?
“Mas, à sua imensa grandeza, une Maria uma profunda benignidade. E quem poderá dizer, quantos encontraram em sua clemente bondade o perdão, o refúgio, a proteção e a salvação da alma, de sorte que se viram obrigados a bendizê-La como Rainha de misericórdia?

“Assim, pois, veneremos a Maria como súditos à Soberana; mas, ao mesmo tempo, amemo-La como filhos à Mãe. Não nos afastemos de sua presença sem Lhe recomendar nossa vida, nossa morte, nossa eterna salvação. E Ela, cheia de bondade, escutará nossas súplicas; cheia de poder, atenderá nossas orações, e sem dúvida experimentaremos os salutares efeitos de sua proteção” 24

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Maria: Sarça Ardente

 Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Sarça ardente da visão
Este símbolo de Maria Santíssima nos é apresentado na seguinte passagem da Escritura (Ex. III, 1-8):
“Ora, Moisés apascentava as ovelhas de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madian; e, tendo conduzido o rebanho para o interior do deserto, chegou ao monte de Deus, o Horeb. E o Senhor apareceu-lhe numa chama de fogo (que saía) do meio de uma sarça, e (Moisés) via que a sarça ardia, sem se consumir. Disse, pois, Moisés: Irei, e verei esta grande visão, (verei) por que causa se não consome a sarça. Mas o Senhor vendo que ele se movia para ir ver, chamou-o do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. E ele respondeu: Aqui estou. E (o Senhor) disse: Não te aproximes daqui; tira as sandálias de teus pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa. E acrescentou: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, e o Deus de Jacob. Cobriu Moisés o rosto; porque não ousava olhar para Deus.
“E o Senhor disse-lhe: Eu vi a aflição do meu povo no Egito, e ouvi o seu clamor causado pela crueza daqueles que têm a superintendência das obras. E, conhecendo a sua dor, desci para o livrar das mãos dos egípcios, e para o conduzir daquela terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra onde corre o leite e o mel.”
Símbolo de Maria virgem durante o parto
A respeito da sarça ardente e incombustível, enquanto imagem de Nossa Senhora, comenta São Bernardo:
“Que prefigurava em outro tempo aquela sarça de Moisés, deitando chamas, mas não se extinguindo, senão a Maria dando à luz sem experimentar as dores do parto?” 1
Semelhante é a consideração do Pe. João Colombo, que escreve:
“Quantos séculos haviam esperado a Maria, chamando-A com lágrimas e suspiros! [...] Esperara-A o século de Moisés, e não A viu senão simbolizada na sarça ardente e incombustível: assim como aquela sarça podia dar chama e não se comburir, assim também Maria poderia dar à luz o Filho de Deus sem cessar de ser Virgem” 2
E São Tomás de Villanueva, com eloquente entusiasmo, exclama:
“Bem recordais, ó Virgem, aquela sarça que ardia e não se queimava. Assim formareis Vós, sem Vos corromper, um só corpo com o divino fogo; revesti-lo-eis Vós de carne, e Ele Vos banhará de esplendor; Vós O coroareis com o diadema da mortalidade, e Ele Vos cingirá a coroa da glória. Sereis uma virgem fecunda, uma mãe sem corrupção. Só em Vós se verão associadas a virgindade e a maternidade: possuireis, ao mesmo tempo, a felicidade desta e o pudor daquela” 3
1) BERNARDO. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. I. p. 195.
2) COLOMBO, João. Pensamentos sobre os Evangelhos. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1960. p. 1211-1212.

3) VILLANUEVA, Tomas de. Obras. Madrid: BAC, 1952. p. 306.