terça-feira, 30 de outubro de 2012

Maria é nosso auxílio no tribunal divino

Continuação dos comentários do Pequeno Oficio da Imaculada Conceição
“Quando uma alma está para deixar esta vida, diz Isaías, se conturba o Inferno todo e manda os demônios mais terríveis a tentá-la antes de sair do corpo e depois acusá-la, quando se apresentar ao tribunal de Jesus Cristo. «O Inferno via-se lá embaixo à tua chegada todo turbado, e diante de ti levanta gigantes» (Is. XIV 9). Mas Ricardo diz que os demônios, em se tratando de uma alma patrocinada por Maria, não terão atrevimento nem ainda para acusá-la. Pois sabem muito bem que o Juiz nunca condenou, nem condenará jamais uma alma protegida por sua grande Mãe. São Jerônimo escreve à virgem Eustóquio que Maria não só socorre os seus amados servos na sua morte, mas também os vem esperar na passagem para a eternidade, a fim de os animar e de os acompanhar até ao tribunal divino”12.
Glória ao Padre...
Explica-nos o grande e renomado teólogo Fr. Antonio Royo Marín, O. P., dominicano de nossos dias, constituir o Gloria Patri “a principal fórmula que desde os tempos primitivos a Igreja usa para honrara Santíssima Trindade. Com ela se rende às Três Beatíssimas Pessoas uma homenagem de reconhecimento, amor, adoração e louvor de sua infinita excelência. A Igreja a emprega constantemente em sua liturgia, e é obrigatória no final de cada salmo, na recitação do Ofício divino.
“Não devemos esquecer de que a glória da Santíssima Trindade é o fim último e absoluto de toda oração e da própria existência de todas as criaturas, incluindo Maria e o mesmo Jesus enquanto homem. [...] Se havemos de ir a Jesus por Maria, o termo final não pode ser outro senão Deus uno e trino, de acordo com São Paulo: «Todas as coisas vos pertencem [...j, o mundo, a vida ou a morte, as coisas presentes, ou as futuras, tudo é vosso. Vós, porém, sois de Cristo, e Cristo de Deus» (I Cor. III, 21-23)” 13
12) LIGUORI Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 67-69.13) ROYO MARÍN, Antonio. La Virgen María: Teología y espiritualidad marianas. Madrid: BAC, 1968. p. 471.

domingo, 28 de outubro de 2012

Três lírios atestam a virgindade perpétua de Maria

Naquela doce era em que a roseira da fé produzia as mais belas flores, lemos na vida do Bem-aventurado Egídio de Assis, predileto discípulo de São Francisco, a seguinte graciosa história, na qual refulge a perpétua virgindade da Mãe de Deus:
“Um pio e douto frade dominicano, estando havia muitos anos gravemente tentado contra o dogma da perpétua virgindade de Maria, quis, por fim, ir ao encontro do humilde franciscano, que tinha o dom de acalmar as consciências perturbadas, a fim de lhe expor suas tentações. O Bem-aventurado Egídio, iluminado do alto, saiu a seu encontro fora da porta do convento e, saudando-o, disse: «Irmão pregador, a Santíssima Mãe de Deus, Maria, foi virgem antes de dar-nos Jesus». E, assim dizendo, bateu com o bastão na terra, nela brotando imediatamente um formoso e cândido lírio. Tornou a bater na terra e a repetir: «Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem ao dar-nos Jesus»’. Logo surgiu um segundo lírio, ainda mais belo do que o primeiro. Bateu pela terceira vez na terra, replicando: «Irmão pregador, Maria Santíssima foi virgem depois de dar-nos Jesus»’. E se viu nascer um terceiro lírio que, em beleza e brancura, vencia os outros dois.
“Dito isto, o Bem-aventurado Egídio voltou-lhe, sem mais, as costas e entrou no convento, deixando aquele religioso atônito e, ao mesmo tempo, livre de suas violentas tentações.
“Tendo sabido, depois, que aquele frade era o Bem-aventurado Egídio de Assis, concebeu uma grande estima por ele e, enquanto viveu, guardou aqueles lírios, como testemunhos irrefragáveis da perpétua virgindade de Maria.”
SURIO, Vita dei B. Egidio, apud  ROSCHINI, Gabriel. Instruções Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960. p. 209.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Maria é nosso conforto na morte

Lembremo-nos, enfim, daquele extremo socorro que todos os dias solicitamos à Santíssima Virgem, ao recitarmos a Ave Maria.
Essa boa Senhora e Mãe — escreve Santo Afonso de Ligório — não abandona seus fiéis servos nas suas angústias, e especialmente nas da morte, que de todas são as piores: “Como é [Ela] nossa vida no tempo do nosso degredo, assim também quer ser a nossa doçura no tempo da morte, obtendo-nos um suave e feliz trânsito. Desde aquele dia em que teve a dor e juntamente a felicidade de assistir à morte de Jesus, seu Filho, cabeça dos predestinados, obteve Ela também a graça de assistir na morte todos os predestinados. Por isso a Santa Igreja manda implorar à Bem-aventurada Virgem: Rogai por nós, pecadores, agora, e na hora de nossa morte.
“Muito e muito grandes são as angústias dos pobres moribundos, já pelos remorsos dos pecados cometidos, já pelo horror do próximo juízo, já pela incerteza da salvação eterna. É então que o Inferno lança mão de todas as armas e empenha todas as reservas para ganhar aquela alma que passa para a eternidade. [...] Costumado a tentá-la durante a vida, [o demônio] não se contenta de ser ele só que a tenta na morte, mas chama companheiros para o ajudarem. «Encher-se-ão as suas casas (de Babilônia) com dragões» (Is. XIV, 21). Quando alguém está para morrer, entram-lhe pela casa os demônios que à porfia tentam perdê-lo. [...]
‘Ah! como fogem, [porém], os demônios à presença de Nossa Senhora! Se na hora da morte tivermos Maria em nosso favor, que poderemos recear de todo o Inferno? Reanimava-se David para as terríveis angústias da sua morte, pondo sua confiança na morte do futuro Redentor e na intercessão da Virgem Mãe. «Pois ainda quando andar no meio da sombra da morte, não temerei males; porquanto tu estás comigo. A tua vara e o teu báculo, eles me consolaram» (SI. XXII, 4, 5). Pelo báculo entende o Cardeal Hugo o lenho da Cruz, e pela vara a intercessão de Maria, que foi a vara profetizada por Isaías (XI, 11). Esta divina Mãe, diz São Pedro Damião, é aquela poderosa vara que vence todas as violências dos inimigos infernais. Anima-se por isso Santo Antonino, dizendo: Se Maria é por nós, quem será contra nós? [...]
“Como assevera Conrado de Saxônia, a Santíssima Virgem, em defesa dos fiéis moribundos, manda o Príncipe São Miguel com todos os seus Anjos, para protegê-los contra as tentações do demônio e lhes receber as almas, especialmente as daqueles seus servos que se recomendaram continuamente a Ela.*
* trechos do livro " Pequeno Ofício da Imaculada Conceição comentado"

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Nossa Senhora pode e quer nos socorrer contra o demônio

Ouçamos o que sobre a proteção de Maria nos diz o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Como onipotente Soberana de todo o universo, por vontade de Deus, Nossa Senhora tem o poder de nos auxiliar e quer inesgotavelmente nos socorrer em todas as nossas necessidades. Logo, se pedirmos, Ela nos socorrerá.
“Para o êxito de nosso apostolado, para o êxito de nossa vida interior, precisamos, a cada passo, da proteção de Nossa Senhora. E Ela a todo momento está disposta a nos conferir os auxílios mais inesperados, mais súbitos, mais espetaculares.
“Ela é a Mãe do Perpétuo Socorro. E o perpétuo socorro é um amparo, é um ato de misericórdia, é um ato de piedade perpétuo, quer dizer, ininterrupto, que não se detém nunca, que não cessa nunca, que não se suspende nunca. Nunca significa em nenhum minuto, em nenhum lugar, em nenhum caso: por pior que seja a situação de quem A invoque, a Mãe de misericórdia o socorrerá.
“Por isso, quanto mais nossas almas estiverem tentadas, tanto mais devemos rogar à Santíssima Virgem. Ela é a Rainha de toda a criação e pode, quando queira e onde queira, derrotar fragorosamente o espírito das trevas, impondo a sua própria soberania.
“A fim de nos incutir confiança nas horas das tentações, e de nos fazer compreender que a estas pode suceder a qualquer instante uma singular e aprazível consolação, Maria pratica fulgurantes ações em favor das almas, contra Satanás. O demônio mais insistente, mais persistente, mais renitente, nada é para aquele que a Ela recorre” .
Protetora dos que lutam contra a Revolução10
De modo especial devem implorar esse perpétuo auxílio de Maria aqueles que se empenham na luta contra-revolucionária. E ainda o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira quem nos instrui a este respeito, em seu magistral ensaio Revolução e Contra-Revolução:
“O quadro de nossos dias é muito claro. Estamos nos supremos lances de uma luta, que chamaríamos de morte, se um dos contendores não fosse imortal, entre a Igreja e a Revolução. [...] A primeira, a grande, a eterna revolucionária, inspiradora e fautora suprema desta Revolução, como das que a precederam e lhe sucederem, é a serpente, cuja cabeça foi esmagada pela Virgem Imaculada.
“Maria é, pois, a Padroeira de quantos lutam contra a Revolução.
“A mediação universal e onipotente da Mãe de Deus é a maior razão de esperança dos contra-revolucionários. E em Fátima Ela já lhes deu a certeza da vitória, quando anunciou que, ainda mesmo depois de um eventual surto do comunismo no mundo inteiro, por fim seu Imaculado Coração triunfará” “.
8) LIGUORI, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 35; 88 e 95.
9) Cfr. CORRÊA DE OLWEIRA, Plinio. Conferências em 23/5/1968, 18/11/1968 e
12/3/1970. (Arquivo pessoal).
10) 0 termo “Revolução” é usado neste livro no sentido que the é atribuído na obra “Revolução e Contra-Revolução” do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, (cfr. nota seguinte). Designa ele um movimento iniciado no século XV tendente a destruir a Civilização Cristã e implantar um estado de coisas diametralmente oposto. Constituem etapas desse processo a Pseudo-Reforma, a Revolução Francesa e o Comunismo nas suas múltiplas variantes e na sua sutil metamorfose dos presentes dias. Por sua vez, a “Contra-Revolução” é o movimento que se opõe em tudo à Revolução assim entendida, procurando combatê-la por todos os meios lícitos, e utilizando o concurso de todos os filhos da luz. Chamam-se, por extensão, “revolucionários” e “contra-revolucionários” os seguidores daquele e deste movimento, respectivamente.
11) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 3. ed. São Paulo: Chevalerie, 1993. p. 229-230.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O papagaio que repetia: “Ave Maria”

O frade Bernardino de Busti lembra o tocante fato de que um papagaio, ao qual tinha ensinado a dizer Ave Maria, sendo perseguido por um gavião, gritou Ave Maria!, e logo caiu por terra, morto, o predador.
“Com esse fato maravilhoso quis o Senhor significar que, se um animal irracional se livrou da morte, só com pronunciar o nome de Maria, quanto mais livre estará de cair nas mãos do demônio quem, nos assaltos do mesmo, for atento em invocar a divina Mãe!
«Nada mais temos a fazer, por conseguinte, quando nos vem tentar o demônio, diz São Tomás de Villanueva, senão à semelhança dos filhotes dos pássaros, que à vista do gavião se refugiam sob as asas da mãe, assim que nos sentirmos assaltados pelas tentações, logo, sem discutir com elas, buscarmos refúgio sob o manto de Maria?’.”
LACROJX, Pascoal. A Virgem Maria, seguro refúgio dos pecadores. Petrópolis: SCJ, 1935. p 134.

domingo, 21 de outubro de 2012

Pequeno Ofício da Imaculada Conceição

Comentários do Pequeno Ofício de Nossa Senhora em diversos posts. Acompanhe.

V. Em meu socorro vinde já , Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Afirma São Pedro (I Pdr. V, 8) estar o demônio a rugir como leão ao nosso redor, a fim de nos perder. Igualitário, desde aquele seu revoltoso brado non serviam, que o fez merecer os castigos eternos, tem ele ódio a qualquer superioridade, e por isso nos move incessante guerra para nos roubar a salvação.
Militia est vita hominis super terram (Jó VII,1). Nossa vida é constante combate contra um adversário naturalmente muito mais for te do que nós. Entretanto, poderosíssimo escudo nos foi dado: basta recorrermos à proteção da Bem-aventurada Virgem, que o auxílio vencedor nos virá de imediato.
Essa é a súplica que iniciará cada um dos Hinos do Pequeno Ofício.
Comenta o santo autor de “Glórias de Maria” que “em todas as batalhas contra o Inferno certamente seremos sempre vencedores, se recorrermos à Mãe de Deus e nossa. [...] Ela foi posta num alto trono, à vista de todos os potentados celestes, como palma em sinal de segura vitória, que a si mesmos podem prometer-se todos aqueles que se põem debaixo de seu patrocínio.
“Eu lancei ao alto os meus ramos como a palmeira em Cades» (Ecli. XXIV, 18), isto é, acrescenta Santo Alberto Magno, eu estendo minha mão sobre vós para vos proteger. «Filhos, parece Maria nos dizer quando o demônio vos assaltar, recorrei a Mim, olhai para Mim e tende ânimo, porque em Mim, que vos defendo, vereis juntamente a vossa vitória».
“Por isso o recorrer a Maria é um meio seguríssimo para vencer todos os assaltos do Inferno. [...]
Maria socorre prontamente os que A invocam
“[Por outra parte], vendo Maria nossas misérias — continua Santo Afonso —, se apressa a fim de nos socorrer com a sua misericórdia. Novarino acrescenta que n’Ela desconhece demoras o desejo de fazer-nos bem; e porque não é avara guardadora de suas graças, não tarda, como Mãe de misericórdia, em derramar sobre os seus servos os tesouros de sua benignidade.
“Oh! como é pronta esta boa Mãe para valer a quem A invoca! Explicando a passagem dos Cânticos (I 5), diz Ricardo de São Lourenço que Maria é tão veloz em exercer misericórdia para com quem Lha pede, como são velozes em suas corridas os cabritos. O mesmo autor assevera-nos que a compaixão de Maria se derrama sobre quem a pede, ainda que não medeiem outras orações mais que a de uma breve Ave-Maria.
Pelo que, atesta Novarino que a Santíssima Virgem não apenas corre, mas voa em auxilio de quantos A invocam. No exercício de sua misericórdia, Ela imita a Deus, que também voa sem demora em socorro dos que O chamam, porque é fidelíssimo no cumprimento da promessa: «Pedi e recebereis» (Jo. XVI, 24). Assim afirma Novarino. Do mesmo modo procede Maria. Quando é invocada, logo está pronta para ajudar a quem A chamou em seu auxilio”8


sábado, 20 de outubro de 2012

Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado


Não há um só devoto da Virgem que não tenha sido afagado, no íntimo de sua alma, por aquele suave, profundo e materno toque sobrenatural, proveniente de sublimes alturas e de puríssimas mãos. Como dadivosa Mãe, não poucas vezes, a Ela cabe a iniciativa do poderoso auxílio.
Transcorriam as solenidades da Semana Santa de 1991, quando Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP se achava à beira da morte, num certo Hospital de São Paulo. Naquele transe, prometeu ele à Imaculada Conceição comentar o Pequeno Ofício nos círculos de suas amizades, caso Ela lhe restituisse a saúde. Tendo recebido a Unção dos enfermos na noite de Quinta-feira Santa, sentiu-se, tempos depois, inundado por um oceano de confiança augurando-lhe uma celestial intervenção.
E, com efeito, em menos de dois meses já se encontrava restabelecido, e só lhe correspondia, portanto, cheio de gratidão, satisfazer o pio compromisso assumido com a Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos.
Auxiliado por alguns de seus irmãos de vocação, reuniu os necessários subsídios para o cumprimento de sua oferta a Maria Santíssima, sendo publicado o livro “Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado".

Iremos publicar nos próximos posts alguns comentários de Mons João Scognamiglio Clá Dias,EP retirados desse livro.


MATINAS
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
V. Em meu socorro vinde já, Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Glória ao Padre...
HINO
Salve, ó Virgem Mãe, Senhora minha,
Estrela da Manhã, do Céu Rainha,
Cheia de graça sois; salve, luz pura,
Valei ao mundo e a toda criatura.
Para Mãe o Senhor Vos destinou
Do que os mares, a Terra e Céus criou.
Preservou Ele a vossa Conceição
Da mancha que nós temos em Adão. Amém.

V. Deus A escolheu e predestinou.
R. No seu tabernáculo A fez ha bita r
V. Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor
Oremos. Santa Maria, Rainha dos Céus, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e Dominadora do mundo, que a ninguém desamparais nem desprezais; ponde, Senhora, em mim, os olhos de vossa piedade e alcançai-me de vosso amado Filho o perdão de todos os meus pecados, para que, venerando agora afetuosamente a vossa Imaculada Conceição, consiga depois a coroa da eterna bem-aventurança: por mercê do mesmo vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, que com o Padre e o Espírito Santo vive e reina em unidade perfeita, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.
V Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor
V Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.
V. As almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.
R.Amém.


A predestinação de Maria Santíssima é a ideia central deste Hino. Desde toda a eternidade, Deus A elegeu para a excelsa missão de conceber e dar à luz a Nosso Senhor Jesus Cristo, e “para realizar n’Ela e por Ela as maiores maravilhas que se propôs fazer no céu e na terra”1.
Escolhida para Soberana do mundo e Rainha dos Céus, Virgem das virgens, Maria possui a plenitude da graça, sendo a Estrela da Manhã que anuncia o dia de nossa Redenção, e ilumina todo homem que vem a este mundo.
Ao decretar em seus eternos desígnios a Encarnação do Verbo, não o fez Deus de modo abstrato e indeterminado, mas sim especificando os pormenores das condições necessárias para o cumprimento de sua soberana vontade.
Se o Filho se encarna, precisa de uma Mãe que O dará à luz, permanecendo virgem. Além disso, quanto seja possível, esta Mãe deve ser digna d’Ele. Logo, antecedentemente, terá todos os privilégios que o Padre Eterno Lhe concedeu: isenção do pecado oriqinal e do pecado atual, a plenitude da graça, e uma formosura de alma e de corpo, excedida apenas pela do Homem-Deus.2
“Depois de Jesus Cristo Nosso Senhor — escreve São João Eudes —, Maria é a mais admirável obra-prima que tenha saído do conselho sempiterno de sua Divina Majestade”3.
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
Exprimem estes dois versos um convite para que nossa alma se anime a cantar os louvores de Maria Santíssima.
Certa vez, estando a grande Santa Gertrudes em elevada oração, indagava que maior agrado poderia dar a Deus naquele momento. O Senhor, então, insinuou-lhe: “Põe-te diante de minha Mãe que a meu lado está sentada, e procura enaltecê-La” ‘.
Honrando a Virgem Santíssima, glorificamos a Deus
Com efeito, no dizer de São Luís Grignion de Montfort, altamente glorificamos a Deus, venerando a sua Imaculada Mãe:
“Nunca pensais em Maria, sem que Ela, em vosso lugar, pense em Deus. Nunca A louvais nem honrais, sem que Ela convosco louve e honre a Deus. Maria está toda em conexão com Deus, e com toda a propriedade eu A chamaria: a relação de Deus, que só existe em referência a Deus, o eco de Deus, que só diz e repete Deus. Santa Isabel louvou Maria e A chamou bem-aventurada, porque Ela creu, e Maria, o eco fiel de Deus, entoou: «Magnificat anima mea Dominum» — Minha alma glorifica o Senhor (Le. I, 46). 0 que fez nessa ocasião, Maria o faz todos os dias: quando A louvamos, amamos, honramos ou Lhe damos algo, Deus é louvado, amado, honrado e recebe por Maria e em Maria” .
Toda a bibliografia publicada em língua estrangeira, presente neste livro, foi traduzida pelo autor. Prescinde-se, deste modo, a habitual menção de tradução minha a fim de não tornar repetitivo, e ser mais agradável ao leitor, o sistema de notação em rodapé com a respectiva referência das obras.
Semelhante é o pensamento do Pe. Ventura, segundo o qual a Virgem Santíssima “recomenda a Jesus Cristo todo aquele que A invoca e tem um sentimento de filial ternura para com Ela; e Jesus Cristo, por sua vez, confia à sua Mãe todo aquele que n’Ele crê e O ama como a seu Senhor. Assim, pois, todo filho fiel a Maria é, ao mesmo tempo, discípulo amado de Jesus Cristo” 6
Maria é digna de todo louvor
Ademais, recitando o Pequeno Ofício, associamo-nos às homenagens que todos os séculos e todas as gerações têm prestado à Virgem Santíssima, desde os retumbantes entusiasmos do Concílio de Efeso que A proclamou Mãe de Deus, até nossos dias, passando pelas aclamações universais que responderam à voz de Pio IX quando decretou sua Imaculada Conceição.
“Maria — escreve um douto e pio autor —, é digna de toda honra, de todo respeito e de todo culto. Ao mesmo tempo, é digna de todo louvor, de todo elogio e de toda glorificação.
“Não é bastante a voz dos Santos da Terra e do Céu, unida à dos Anjos, para celebrar suas grandezas, seu poder e suas misericórdias. [...] A Virgem Maria é digna de todo louvor, porque Ela concebeu o Cristo, Filho de Deus, trouxe-O em seu seio e O deu ao mundo. [...1 Maria é digna de todo louvor, porque teve em suas mãos o Verbo Encarnado, porque Ela O viu com os seus olhos, porque Ela Lhe falou e com Ele privou familiarmente; acalentou-O em seu regaço, nutriu O de seu leite, e, enfim, cobriu de suas suaves carícias maternas a carne do Filho de Deus. [...]
“Não houve jamais época, nem nação, nem estado, nem ordem que tenha omitido ou suprimido os louvores desta augusta Virgem.
“Ela foi louvada por Deus que, desde toda a eternidade, A escolheu por Mãe e A predestinou como primeira de todas as meras criaturas; [...] foi louvada pelos Anjos, que cantaram em seu nascimento: «Quem é esta que avança brilhante como a aurora quando se ergue, belacomo a lua e eleita como o sol?» (Cânt. VI, 9). [...]
“Maria Santíssima foi, também, cumulada de louvores pelos homens. Desde os primeiros tempos da Igreja, eles sempre honraram a Virgem, admiraram sua dignidade, sua majestade, sua graça, e A proclamaram bem-aventurada”7.
É a este santo e filial dever que nos consagramos, bendizendo a Santíssima Virgem na recitação das Horas deste saltério mariano.
1) EUDES, Juan. La Infancia Admirable de la Santísima Madre de DiOs. Bogotá: San Juan Eudes, 1957. p. 35.
2) Cfr. PEQUENO OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO em latim e português com comentários. São Paulo: Paulinas, 1956. p. 73-74.
3) EUDES, Op. cit. p. 37.
4) GERTRUDIS. Revelaciones. Tradução do Pe. Timoteo P. Ortega, 2. ed. Buenos Aires: Benedictina, 1947. p. 192.
5) GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. p. 216.
6) RAULICA, Ventura de. Tratado sobre el culto dela Santísima Virgen. Madrid: Leocardio Lopez, 1859. p. 91.
7) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III. p. 140; 142-43; 145-46.
Continue lendo os comentários nos próximos posts
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O poder das lágrimas de Maria


No momento de Jesus ser retirado da Cruz para ser depositado, como sobre um altar, nos joelhos virginais e santíssimos de sua Mãe, Nossa Senhora olhava para Ele e chorava amargamente.

As lágrimas de Maria Santíssima, vertidas tão abundantemente quanto o sangue por Ele derramado, operaram algo extraordinário: para que os efeitos da Redenção santíssima se aplicassem plenamente a nós, essas lágrimas mereceram o que nós não mereceríamos, aquilo que os nossos pecados rejeitaram afastando de nós o Sangue de Cristo.

Pelas lágrimas de Maria, intercessora onipotente junto a Deus, a misericórdia exalada pelo Sangue de Cristo mais uma vez desceu até nós, nos resgatou, nos deu forças e nos incitou à luta.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Basílica Nossa Senhora de Luján

A própria Mãe de Deus escolheu o local onde queria ser venerada como Senhora e Padroeira da Argentina.

Descendo pela extensa costa atlântica da América do Sul, se encontra o caudaloso rio da Prata, às margens do qual está Buenos Aires, capital da Argentina, a terra dos pampas e dos altivos gaúchos.

Partindo dessa metrópole e viajando cerca de 70 quilômetros a oeste, chega-se a uma pitoresca cidadezinha que se formou em torno do mais importante santuário mariano do país. Sua origem remonta ao ano de 1630, quando naquele lugar foi levantada uma pequena capela para venerar uma imagem de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, mandada trazer do Brasil por um português chamado Antônio Farias de Sá. Um amigo seu aceitou o encargo de trazê-la. Depois de uma longa jornada, ao chegar às margens do rio Luján, ele e seus companheiros de viagem detiveram-se para passar a noite numa fazenda de propriedade da família Rosendo.
Na madrugada seguinte, quando quiseram prosseguir a viagem, os bois de tração, por mais que se esforçassem, não conseguiam pôr em movimento a carreta na qual se encontrava a imagem. Desceram, então, parte da carga, para diminuir o peso. Mas foi em vão. Depois de várias outras tentativas inúteis, tiraram por fim a caixa que continha a imagem da Virgem, e logo os bois puderam arrastar o veículo, sem dificuldade. Colocando-a de volta, novamente os animais viam-se impossibilitados de mover a carreta.
Os tropeiros entenderam ser isso um aviso dos Céus: Nossa Senhora queria permanecer e ser venerada naquele lugar. E assim, deixaram a imagem na fazenda dos Rosendo.
A notícia do maravilhoso fato correu por toda a região, chegando até Buenos Aires, e muitas pessoas começaram a viajar em peregrinação ao local. Como crescia continuamente a devoção popular, o fazendeiro construiu ali uma pequena capela. Em pouco tempo, formou-se em torno dela um povoado, chamado “Vila de Nossa Senhora de Luján”. Ano após ano, crescia o afluxo de fiéis, bem como o número de milagres operados pela maternal intercessão da Virgem Mãe de Deus. Assim, em 1730, a autoridade eclesiástica local criou no vilarejo uma paróquia.
Décadas depois, animado por um sacerdote especialmente devoto da Virgem, o Padre Salvaire, o Episcopado argentino apresentou ao Papa Leão XIII, em nome de todos os fiéis do Rio da Prata, uma petição para que a imagem de Nossa Senhora de Luján fosse coroada como Padroeira da Argentina. O Pontífice não só concedeu o que se lhe pedia, mas abençoou ele mesmo a coroa, e outorgou Missa e Ofício próprios para sua festividade. Em maio de 1887, realizouse a solene cerimônia de coroação.
Passados três anos, o mesmo Padre Salvaire iniciou a construção da atual igreja. O projeto ficou a cargo do renomado arquiteto francês Ulderico Curtois. Ela foi inaugurada em 1910 e elevada à categoria de basílica, pelo Papa Pio XI, em 1930.
Edificado em estilo neogótico, o imponente templo mede 104 metros de comprimento, por 68 de largura, e é arrematado por duas torres de 106 metros de altura. Suas paredes, lavradas em pedra ligeiramente avermelhada, constituem uma bela e digna moldura para o culto à Mãe de Deus.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A obediência de Maria na Paixão

Passaram-se os anos, Jesus entrou em sua vida pública. Ele disse adeus à sua Mãe e partiu à conquista das almas. Maria fica sozinha, desolada e temerosa, mas sempre obediente e fiel. Isso, porém, não basta. Um dia Deus Lhe diz: “Toma teu Filho único, que tanto amas, e oferece-O a Mim em holocausto” (cfr. Gn 22, 2). No alto sangrento do Calvário ergue-se a Cruz, o altar do sacrifício. Deus falou, é preciso que Jesus, o inocente Filho de Maria, derrame seu sangue pela redenção do mundo. Ah! Desta vez ouviremos subir do Coração de Maria, de seu Coração de Mãe, um grito de revolta? Não. Maria permanece de pé junto à Cruz e, enquanto Jesus geme em amargo pranto, Ela cala-Se, com o coração transpassado de dor, e derrama em silêncio lágrimas de sangue. Inclinando a cabeça, Jesus expira, obedecendo até a morte de cruz, e ao mesmo tempo Maria, obediente e resignada, inclina também sua cabeça sobre seu coração quebrantado.
Ó heróica obediência de nossa Mãe, que exemplo e que lição destes os cristãos de todos os séculos!
Maria desce lentamente os patamares do Calvário, de seu Calvário, e, toda mergulhada em dor, apóia-Se no braço de São João que será doravante seu arrimo, porque Jesus não mais ali estava. E, longe desse Filho tão amado, o coração da Virgem Santa consome-Se em mortais desgostos, mas Ela permanece sempre resignada, sempre submissa à vontade divina.
Logo depois Deus fala novamente a Maria e Lhe dá a conhecer sua última vontade: também Ela deve morrer. Entretanto, Ela é inocente, e sua Imaculada Conceição isentou-A dessa dívida do pecado original que se paga com a morte. Maria não reclama: ouvindo a voz de Deus, obedece sem demora, e a morte vem fazer-Lhe sua visita.
A Virgem Santa fecha docemente os olhos e expira, como seu Divino Filho, obediente até a morte: “Obediens usque ad mortem” (Fl 2, 8).
Imitemos o “Fiat” de Maria Meus irmãos, diante desse corpo mártir da obediência, recolhamo-nos e escutemos a voz que sobe do sepulcro de Maria. Entendeis como Ela proclama o grande preceito da obediência?
Também a nós, cristãos, Deus fala com freqüência, às vezes pelos preceitos, às vezes pelos conselhos, seja diretamente, seja por intermédio de seu anjo, a Santa Igreja. A exemplo de Maria, obedeçamos generosamente, respeitemos a Lei de Deus e a da Igreja, dizendo de todo coração nosso “Fiat”.
Por vezes a Providência nos impõe, a nós também, as privações da Gruta de Belém. Não nos revoltemos, mas ejamos obedientes na pobreza e no sacrifício. Felizes sois vós, ó deserdados deste mundo, que partilhais com vosso Salvador e a Virgem Bendita a penúria de Belém! Resignai-vos e bendizei Jesus, bendizei Maria, que vos associam à sua pobreza!
Mesmo, porém, que não participemos todos do despojamento de Belém, a todos nós Deus ordena ir ao Templo purificar-nos de nossos pecados. Em certos dias, a voz de Deus se mostra mais premente, sobretudo na Páscoa e nas outras grandes festas do ano litúrgico. Ah! se ouvirmos agora a voz de Deus, não endureçamos nosso coração, mas, com humildade e obediência, aproximemo-nos dos sacramentos da salvação.
Reiteradas vezes Deus nos envia seu anjo para nos mandar deixar o pecado, inimigo declarado de nossa alma, e fugir de suas funestas ocasiões. Aí, é necessário “entrarmos no Egito”, isto é, na oração e na penitência, terra de salvação.
Às vezes a vontade de Deus vai ainda mais longe: convida-nos a subir o Calvário e ficar junto da Mãe Dolorosa, aos pés da Cruz. Ali, sobretudo, saibamos obedecer! Choremos com Maria. As lágrimas são muito naturais para não serem abençoadas por Deus. Resignemo-nos e inclinemos nosso coração na adoração e na esperança.
Por fim, um dia Deus nos falará pela última vez e nos enviará o anjo da morte. Não nos revoltemos, mas, com Maria, sejamos corajosos e obedientes, e entreguemos docemente nossa alma nas mãos de nosso Deus: In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum — Em vossas mãos, Senhor, entrego meu espírito. ²
(Publicado originariamente em “L’Ami du Clergé Paroissial”, 1905, pp. 529-530)

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A obediência de Maria em Belém



A obediência de Maria inspirou a concepção do Verbo de Deus; a obediência de Maria presidirá também ao nascimento do Salvador dos homens.

Façamos em espírito uma visita a Belém: Maria e José, vindos para o recenseamento imposto por Augusto, procuram uma casa para abrigar sua pobreza. Por toda parte, as portas se fecham diante deles. Estão no isolamento e no infortúnio. Maria não reclama, pois vê nessa provação a manifestação da vontade divina. Obedece com humildade e Se refugia num estábulo. Ali se completa o grande mistério de amor. Logo Maria envolve em seus trêmulos braços o Verbo de Luz. Como berço, a Providência oferece apenas uma manjedoura; e como vestimentas, a mais absoluta privação. Maria obedece sempre e, sussurrando o “Fiat” da Encarnação, embala seu recém-nascido.

No quadragésimo dia após o nascimento de Jesus, a voz de Deus de novo fala a Maria e A convida a Se purificar no Templo. Mas, como essa lei poderia atingir a Virgem Imaculada, cuja maternidade milagrosa não tinha qualquer resquício da mancha original? Pouco importa! Deus falou, Maria obedece e Se junta às outras mães, para compartilhar a humilhação. “Fiat mihi secundum verbum tuum”.

Ei-La, enfim, na paz de Nazaré. Maria poderá livremente prodigalizar a seu Divino Filho todas as efusões de sua ternura. Infelizmente, não! Aparece novamente o Anjo do Senhor e comunica a ordem de partir para o Egito. Um cruel tirano, Herodes, tramou a morte de Jesus. É o exílio, com suas incertezas e seus perigos. Maria, entretanto, não cessa de obedecer: repetindo seu “Fiat”, Ela aperta a seu coração angustiado o doce Salvador do mundo e foge a toda pressa para a terra do Egito.

Continua no próximo post.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A obediência - O mais belo título de glória de Maria

Nossa Senhora mereceu mais por sua obediência do que pelo fato de ser a Mãe de Deus. Quem nos ensina esta verdade é o próprio Cristo Jesus, conforme se vê neste artigo da revista católica francesa “L’Ami du Clergé”.
Certo dia em que Jesus tinha curado um possesso, os fariseus O acusaram de fazer milagres em nome de Belzebu. O Divino Salvador estava rebatendo vitoriosamente essa odiosa calúnia quando de repente, no meio da multidão, uma mulher disse em alta voz: “Bem-aventurado o ventre que Te trouxe, e os peitos que Te amamentaram”. Jesus, porém, retrucou: “Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 11, 27-28). Nessa resposta, de fato, Nosso Senhor proclamou para todas as gerações que a Virgem Maria seria glorificada não tanto por seus privilégios e sua dignidade de Mãe de Deus, quanto por haver ouvido e praticado integralmente a palavra e as ordens de Deus.
Ter tomado como lei a vontade divina e cumprido com fidelidade e à custa de todos os sacrifícios os desígnios do Pai Celeste, eis — como disse Santo Agostinho — o mais belo título de glória de Maria.
A desobediência de Eva, a obediência de Maria
A desobediência da primeira Eva introduziu no mundo o pecado e a morte, e foi a obediência de Maria, a segunda Eva, que restituiu aos filhos dos homens a vida eterna e a salvação.
Analisemos esta afirmação. No solene momento do cumprimento das promessas messiânicas, Deus deitou um olhar de complacência sobre a humilde Virgem de Nazaré e, nos segredos de sua infinita misericórdia, escolheu-A para ser Mãe do Verbo Eterno, confiando ao Anjo Gabriel a delicada missão de Lhe comunicar sua vontade.
No Paraíso Terrestre, o próprio Deus fez à primeira Eva uma proibição expressa, com a ameaça de uma terrível sanção: “Não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque, em qualquer dia que comeres dele, morrerás indubitavelmente” (Gn 2, 17). Contudo, a infortunada mãe dos homens desobedeceu a seu Criador.
A Maria, pelo contrário, por seu mensageiro celeste, Deus Se limita a exprimir um desejo do qual Ela poderia eximir-Se sem incorrer em sua maldição: “Achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu seio e darás à luz um filho, a Quem colocarás o nome de Jesus” (Lc 1, 30-31). Ora, se vemos a doce Virgem ficar atônita por um instante, não é pela hesitação diante da vontade de Deus, pois somente sua incomparável humildade e delicada pureza A fazem temer a insigne honra da maternidade divina.
Ó Virgem bendita, apressai-Vos em responder à voz de Deus! A terra, o próprio Céu, estão ansiosos, esperando a palavra de salvação que deve brotar de vossos lábios. Deixai de temer, ó prisioneiros da morte e do pecado!
Maria obedeceu e, inclinando-Se num ato de adoração e de amor, disse: “Fiat mihi secundum verbum tuum”. “Faça-se em Mim segundo a vossa palavra” (Lc 1, 38). E então, o Verbo Se encarnou e a salvação habitou entre nós.

Continua no próximo post.

domingo, 14 de outubro de 2012

Lembrar-Vos-eis de mim?



Dizei-me, Senhora, dizei-me:
Quando eu partir desta terra,
Lembrar-Vos-eis de mim?

Quando forem divulgados
Meus tempos no mal gastados
E todos os pecados
Que eu, mesquinho, cometi,
Lembrar-Vos-eis de mim?

Quando o momento chegar
Do juízo de aterrar,
Remédio espero alcançar
De vossos doces rogos:
Lembrar-Vos-eis de mim?

Quando estiver na afronta
De prestar rigorosa conta
Dos muitos bens que de Vós
E de vosso Filho recebi,
Lembrar-Vos-eis de mim?

Quando minha alma aterrada,
Temendo ser condenada
Por se ver muito culpada,
Tiver mil queixas de si,
Lembrar-Vos-eis de mim?

Dizei-me, Senhora, dizei-me:
Quando eu partir desta terra,
Lembrar-Vos-eis de mim?

(Tradução do poema “Dime, Señora”, de Juan Álvarez Gato, 1445-1510)

sábado, 13 de outubro de 2012

Súplica à Santíssima Virgem



Dá-me teus olhos, ó Mãe,
para saber olhar;
se olho com teus olhos,
jamais poderei pecar.

Dá-me teus lábios, ó Mãe,
para poder rezar;
se rezo com teus lábios,
Jesus me escutará.

Dá-me tua língua, ó Mãe,
para ir comungar;
é tua língua patena
para graças alcançar.

Dá-me tuas mãos, ó Mãe,
pois quero trabalhar;
então meu trabalho
uma eternidade valerá.

Dá-me teu manto, ó Mãe,
para minha maldade cobrir;
coberto com teu manto,
ao Céu hei de ir.

Dá-me teu Céu, ó Mãe,
para poder gozar;
se Tu me dás o Céu,
que mais posso desejar?

Dá-me a Jesus, ó Mãe,
para poder amar;
se O tenho,
sempre feliz hei de ficar.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A mediação universal de Nossa Senhora



O meio para atingirmos a finalidade de nossas vidas é sermos devotos de Nossa Senhora. Ela é medianeira de todas as graças; todos os nossos pedidos vão a Jesus Cristo, Nosso Senhor, por meio d’Ela.

Isso se exprime de um modo característico com um axioma da Teologia: um pedido feito a Deus por todos os anjos e santos, em conjunto, ao qual Nossa Senhora não se associe, não é atendido. Porém, se Ela pedir sozinha será atendida.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A Maria, distribuidora das graças

Ó Rainha e Mãe de misericórdia, é realmente com a liberalidade de uma Rainha e o amor da mais amável das mães que dispensais as graças a todos os que a Vós recorrem. Hoje, pois, me recomendo a Vós, despido qual sou de méritos e virtudes, e por isso insolvente para com a justiça divina.
Ó Maria, tendes a chave do tesouro das divinas misericórdias: lembrai-Vos da minha pobreza, e não me abandoneis numa tão grande penúria. Sois tão liberal para com todos, e acostumada a dar mais do que Vos pedem: mostrai a mesma generosidade a meu respeito.
Ó Mãe de misericórdia, bem o sei, é para Vós prazer e glória ajudar os mais miseráveis, e podeis ajudá-los enquanto não se obstinam no mal; pecador me confesso, mas, longe de me obstinar, quero mudar de vida; podeis então me socorrer. Ah! Socorrei-me e salvai-me!
Hoje me ponho inteiramente entre as Vossas mãos: dizei-me o que devo fazer para agradar a Deus, tenho a vontade de fazê-lo, e espero executá-lo com o Vosso socorro, ó Maria, minha Mãe, a minha luz, a minha consolação, o meu refúgio, a minha esperança.
Santo Afonso Maria de Ligório

sábado, 6 de outubro de 2012

Nossa Senhora dos Remédios

Maria traz remédio à ferida da imperfeição, que é a fraqueza para praticar o bem, a preguiça espiritual. Ela dá à vontade constância para se aplicar na virtude, desprezar os encantos do mundo e se lançar nos braços de Deus. Ela robustece os que cambaleiam, reergue os que caíram.
(Pe. Réginald Garrigou-Lagrange)

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

A Maria, Mãe de misericórdia

Nossa Senhora do Bom Sucesso -
Capela Monte Carmelo -
Arautos do Evangelho
Mãe digníssima do meu Deus e Soberana minha, Maria. Vendo-me tão desprezível e manchado, não devia ter a altivez de me chegar a Vós e chamar-Vos minha Mãe. Não quero, porém, que as minhas misérias me privem da consolação e confiança de que fico penetrado, dando-Vos este doce nome.
Verdade é que mereço me rejeiteis, mas Vos peço considereis o que fez e sofreu por mim o Vosso Divino Filho Jesus. Depois, rejeitai-me, se o puderdes. Sou miserável pecador. Mais do que os outros ultrajei a Majestade Divina. Ai! o mal está feito. A Vós, que podeis remediá-lo, imploro agora: Vinde em meu socorro, ó minha Mãe.
Não alegueis que não me podeis ajudar, porque sei que sois onipotente e do vosso Deus conseguis tudo o que desejais. Se me respondeis que não quereis socorrer-me, indicai-me ao menos a quem me devo dirigir para ser consolado no excesso da minha angústia.
Apadrinhando-me com Santo Anselmo, ouso dizer a Vós e a Vosso Divino Filho: “Ou apiedai-vos de mim, ó dulcíssimo Redentor meu, perdoando-me, e Vós, também, ó minha Mãe, intercedendo em meu favor; ou mostrai-me em quem posso achar mais misericórdia e ter mais confiança do que em Vós”. Ah! decerto, a ninguém poderia achar, nem na Terra nem no Céu, que tenha dos desgraçados mais comiseração do que Vós, e possa melhor socorrer-me: porquanto Vós, Jesus, sois meu Pai, e Vós, Maria, sois minha Mãe; amais aqueles que são mais miseráveis, e ides na sua procura para salvá-los.
Digno sou do inferno, pois dos homens sou o mais miserável. Mas não Vos é necessário ir à minha procura. Não pretendo que o façais: apresento-me espontaneamente a Vós na firme esperança de que não me abandonareis. Aqui estou aos vossos pés: ó meu Jesus, perdoai-me; ó Maria, minha Mãe, socorrei-me.
(As mais belas orações de Santo Afonso Maria de Ligório Petrópolis: Vozes, 1961, p. 461-462)

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Ninguém pode compreender por inteiro a excelsitude da Mãe de Deus

São Luís Maria Grignion de Montfort afirma que Maria Santíssima é desconhecida. Ou seja, Ela é muito menos conhecida do que suas excelências e seus admiráveis predicados exigem. Ele explicará o motivo pelo qual Ela quase não é mencionada nos Evangelhos.
“Para atender aos pedidos que Ela Lhe fez de escondê-La, empobrecê-La e humilhá-La, aprouve a Deus mantê-La oculta aos olhares de quase todas as criaturas humanas, em seu nascimento, em sua vida, em seus mistérios, em sua ressurreição e assunção. Seus próprios parentes não A conheciam; e com frequência os anjos perguntavam-se uns aos outros: ‘Quæ est ista? — Quem é esta? (Ct 3, 6; 8, 5), pois o Altíssimo A escondia; ou, se algo lhes revelava, ocultava-lhes infinitamente mais”.29 Os Santos Evangelhos quase não se referem a Ela. Por isso a teologia precisou fazer, através dos séculos, um admirável trabalho de dedução das verdades contidas na Escritura, para ressaltar o papel da Mãe de Deus.
Montfort dá duas razões pelas quais Maria passou sua vida praticamente sem aparecer nos Evangelhos: sua humildade e sua transcendência.
Humildade: “Com efeito, Maria é a mulher ideal, e como tal, Ela devia ter assinalada predileção pela modéstia, o mais belo ornato da mulher. Ela é ademais a santa por excelência, e então a humildade se impõe absolutamente. Quanto mais se eleva o edifício da santidade, mais profundas devem ser as bases da humildade”.
Transcendência: Ela é única na ordem da graça, foi predestinada desde toda a eternidade para uma missão singular e exclusiva: ser a digna Mãe do Redentor. Maria é Imaculada, suas relações com a Santíssima Trindade são especialíssimas, e seu papel na História da Salvação é capital.
“Ela pertence a uma ordem especial, única no mundo sobrenatural, a ordem da maternidade divina, intermediária entre a da união hipostática e a da graça e da glória. É, pois, impossível aplicar-Lhe os métodos ordinários do raciocínio humano, por via de deduções rigorosas. Ela é domínio exclusivo da soberana liberalidade e da onipotente liberdade de Deus. Nosso dever é somente admirar e mostrar a conveniência do que aprouve a Deus fazer. Montfort adota a posição dos que A admiram. Mais ainda, ele afirma que, exceto Deus, ninguém pode compreender Maria tanto quanto é possível compreendê-La”.