Não há um só devoto da Virgem que não tenha sido afagado, no íntimo de sua alma, por aquele suave, profundo e materno toque sobrenatural, proveniente de sublimes alturas e de puríssimas mãos. Como dadivosa Mãe, não poucas vezes, a Ela cabe a iniciativa do poderoso auxílio.
Transcorriam as solenidades da Semana Santa de 1991, quando Mons João Scognamiglio Clá Dias, EP se achava à beira da morte, num certo Hospital de São Paulo. Naquele transe, prometeu ele à Imaculada Conceição comentar o Pequeno Ofício nos círculos de suas amizades, caso Ela lhe restituisse a saúde. Tendo recebido a Unção dos enfermos na noite de Quinta-feira Santa, sentiu-se, tempos depois, inundado por um oceano de confiança augurando-lhe uma celestial intervenção.
E, com efeito, em menos de dois meses já se encontrava restabelecido, e só lhe correspondia, portanto, cheio de gratidão, satisfazer o pio compromisso assumido com a Mãe de Misericórdia e Saúde dos Enfermos.
Iremos publicar nos próximos posts alguns comentários de Mons João Scognamiglio Clá Dias,EP retirados desse livro.
MATINAS
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
V. Em meu socorro vinde já, Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Glória ao Padre...
HINO
Salve, ó Virgem Mãe, Senhora minha,
Estrela da Manhã, do Céu Rainha,
Cheia de graça sois; salve, luz pura,
Valei ao mundo e a toda criatura.
Para Mãe o Senhor Vos destinou
Do que os mares, a Terra e Céus criou.
Preservou Ele a vossa Conceição
Da mancha que nós temos em Adão. Amém.
V. Deus A escolheu e predestinou.
R. No seu tabernáculo A fez ha bita r
V. Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor
Oremos. Santa Maria, Rainha dos Céus, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e Dominadora do mundo, que a ninguém desamparais nem desprezais; ponde, Senhora, em mim, os olhos de vossa piedade e alcançai-me de vosso amado Filho o perdão de todos os meus pecados, para que, venerando agora afetuosamente a vossa Imaculada Conceição, consiga depois a coroa da eterna bem-aventurança: por mercê do mesmo vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, que com o Padre e o Espírito Santo vive e reina em unidade perfeita, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.
V Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor
V Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.
V. As almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.
R.Amém.
A predestinação de Maria Santíssima é a ideia central deste Hino. Desde toda a eternidade, Deus A elegeu para a excelsa missão de conceber e dar à luz a Nosso Senhor Jesus Cristo, e “para realizar n’Ela e por Ela as maiores maravilhas que se propôs fazer no céu e na terra”1.
Escolhida para Soberana do mundo e Rainha dos Céus, Virgem das virgens, Maria possui a plenitude da graça, sendo a Estrela da Manhã que anuncia o dia de nossa Redenção, e ilumina todo homem que vem a este mundo.
Ao decretar em seus eternos desígnios a Encarnação do Verbo, não o fez Deus de modo abstrato e indeterminado, mas sim especificando os pormenores das condições necessárias para o cumprimento de sua soberana vontade.
Se o Filho se encarna, precisa de uma Mãe que O dará à luz, permanecendo virgem. Além disso, quanto seja possível, esta Mãe deve ser digna d’Ele. Logo, antecedentemente, terá todos os privilégios que o Padre Eterno Lhe concedeu: isenção do pecado oriqinal e do pecado atual, a plenitude da graça, e uma formosura de alma e de corpo, excedida apenas pela do Homem-Deus.2
“Depois de Jesus Cristo Nosso Senhor — escreve São João Eudes —, Maria é a mais admirável obra-prima que tenha saído do conselho sempiterno de sua Divina Majestade”3.
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
Exprimem estes dois versos um convite para que nossa alma se anime a cantar os louvores de Maria Santíssima.
Certa vez, estando a grande Santa Gertrudes em elevada oração, indagava que maior agrado poderia dar a Deus naquele momento. O Senhor, então, insinuou-lhe: “Põe-te diante de minha Mãe que a meu lado está sentada, e procura enaltecê-La” ‘.
Honrando a Virgem Santíssima, glorificamos a Deus
Com efeito, no dizer de São Luís Grignion de Montfort, altamente glorificamos a Deus, venerando a sua Imaculada Mãe:
“Nunca pensais em Maria, sem que Ela, em vosso lugar, pense em Deus. Nunca A louvais nem honrais, sem que Ela convosco louve e honre a Deus. Maria está toda em conexão com Deus, e com toda a propriedade eu A chamaria: a relação de Deus, que só existe em referência a Deus, o eco de Deus, que só diz e repete Deus. Santa Isabel louvou Maria e A chamou bem-aventurada, porque Ela creu, e Maria, o eco fiel de Deus, entoou: «Magnificat anima mea Dominum» — Minha alma glorifica o Senhor (Le. I, 46). 0 que fez nessa ocasião, Maria o faz todos os dias: quando A louvamos, amamos, honramos ou Lhe damos algo, Deus é louvado, amado, honrado e recebe por Maria e em Maria” .
Toda a bibliografia publicada em língua estrangeira, presente neste livro, foi traduzida pelo autor. Prescinde-se, deste modo, a habitual menção de tradução minha a fim de não tornar repetitivo, e ser mais agradável ao leitor, o sistema de notação em rodapé com a respectiva referência das obras.
Semelhante é o pensamento do Pe. Ventura, segundo o qual a Virgem Santíssima “recomenda a Jesus Cristo todo aquele que A invoca e tem um sentimento de filial ternura para com Ela; e Jesus Cristo, por sua vez, confia à sua Mãe todo aquele que n’Ele crê e O ama como a seu Senhor. Assim, pois, todo filho fiel a Maria é, ao mesmo tempo, discípulo amado de Jesus Cristo” 6
Maria é digna de todo louvor
Ademais, recitando o Pequeno Ofício, associamo-nos às homenagens que todos os séculos e todas as gerações têm prestado à Virgem Santíssima, desde os retumbantes entusiasmos do Concílio de Efeso que A proclamou Mãe de Deus, até nossos dias, passando pelas aclamações universais que responderam à voz de Pio IX quando decretou sua Imaculada Conceição.
“Maria — escreve um douto e pio autor —, é digna de toda honra, de todo respeito e de todo culto. Ao mesmo tempo, é digna de todo louvor, de todo elogio e de toda glorificação.
“Não é bastante a voz dos Santos da Terra e do Céu, unida à dos Anjos, para celebrar suas grandezas, seu poder e suas misericórdias. [...] A Virgem Maria é digna de todo louvor, porque Ela concebeu o Cristo, Filho de Deus, trouxe-O em seu seio e O deu ao mundo. [...1 Maria é digna de todo louvor, porque teve em suas mãos o Verbo Encarnado, porque Ela O viu com os seus olhos, porque Ela Lhe falou e com Ele privou familiarmente; acalentou-O em seu regaço, nutriu O de seu leite, e, enfim, cobriu de suas suaves carícias maternas a carne do Filho de Deus. [...]
“Não houve jamais época, nem nação, nem estado, nem ordem que tenha omitido ou suprimido os louvores desta augusta Virgem.
“Ela foi louvada por Deus que, desde toda a eternidade, A escolheu por Mãe e A predestinou como primeira de todas as meras criaturas; [...] foi louvada pelos Anjos, que cantaram em seu nascimento: «Quem é esta que avança brilhante como a aurora quando se ergue, belacomo a lua e eleita como o sol?» (Cânt. VI, 9). [...]
“Maria Santíssima foi, também, cumulada de louvores pelos homens. Desde os primeiros tempos da Igreja, eles sempre honraram a Virgem, admiraram sua dignidade, sua majestade, sua graça, e A proclamaram bem-aventurada”7.
É a este santo e filial dever que nos consagramos, bendizendo a Santíssima Virgem na recitação das Horas deste saltério mariano.
1) EUDES, Juan. La Infancia Admirable de la Santísima Madre de DiOs. Bogotá: San Juan Eudes, 1957. p. 35.
2) Cfr. PEQUENO OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO em latim e português com comentários. São Paulo: Paulinas, 1956. p. 73-74.
3) EUDES, Op. cit. p. 37.
4) GERTRUDIS. Revelaciones. Tradução do Pe. Timoteo P. Ortega, 2. ed. Buenos Aires: Benedictina, 1947. p. 192.
5) GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. p. 216.
6) RAULICA, Ventura de. Tratado sobre el culto dela Santísima Virgen. Madrid: Leocardio Lopez, 1859. p. 91.
7) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. III. p. 140; 142-43; 145-46.
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