quarta-feira, 25 de abril de 2012

Nossa Senhora do Divino Amor

A Salvadora de Roma
Bombardeios aéreos, potentes cargas de explosivos nas pontes do Rio Tibre, dois mil tanques prontos para o assalto, iminência de arrasadores combates nas ruas, tudo pressagiava a total destruição da Cidade dos Mártires e dos Santos...

Detentora de uma fabulosa história que abarca quase três milênios, Roma já conheceu tudo quanto uma cidade poderia presenciar. Desde pequena aldeia às margens do Tibre até imponente capital de um vastíssimo império, viveu dias de fausto e poder incalculáveis, e períodos de triste decadência seguidos de radioso renascimento. Sobranceira, ela sofreu assédios, incêndios, invasões, pestes, e a tudo isso sobreviveu, recebendo com propriedade o título de “Cidade Eterna”. Contudo, no início de 1944, para muitos aquela longeva história parecia inexoravelmente ter chegado ao fim.
Sob o domínio estrangeiro
Como outras vezes acontecera no passado, a cidade estava vivendo sob o domínio estrangeiro, ocupada por forças alemãs desde setembro de 1943. O solo romano já havia experimentado o tremendo impacto dos bombardeios aéreos, como o que arrasou o bairro de São Lourenço em 19 de julho de 1943, fazendo centenas de vítimas. Embora, em fins de janeiro de 1944, tivessem desembarcado em Anzio as Forças Aliadas, estas avançavam com enervante lentidão.
Perspectivas de iminente destruição
Em maio desse ano, na previsão de futuras operações militares de grande envergadura na Europa, a conquista de Roma tornou-se um objetivo de máxima importância para os Aliados. Na noite de 11 para 12, começou a grande batalha. A 120 quilômetros da cidade, na região de Montecassino, 650 canhões do 13º Corpo do Exército Inglês iniciaram um bombardeio contra um importante contingente alemão ali aquartelado, em consequência do qual a multissecular abadia ficou reduzida a escombros. Logo depois começou a mover-se o 5º Exército norte-americano. A notícia desse primeiro lance causou não pequeno aumento do temor em Roma: seria este um prelúdio do que aconteceria com a Cidade Eterna?
Os acontecimentos pareciam indicar que sim. Em 4 de junho, tudo pressagiava o início de um duro combate. Dispostos a uma forte resistência, os alemães tinham instalado potentes cargas de explosivos em todas as pontes do Rio Tibre, para destruí-las caso tivessem de bater em retirada. De outro lado, o general britânico Harold George Alexander decidiu lançar seus dois mil carros de combate no assalto à cidade.
Tudo pressagiava uma luta casa a casa, palmo a palmo, altamente arrasadora, como acontecera já em outras localidades europeias. Essa terrível perspectiva angustiava todos os romanos.
O voto da cidade de Roma
Em circunstâncias como essa, os homens se lembram mais facilmente de recorrer ao auxílio divino. Foi nesse quadro de tragédia que o Papa Pio XII convidou o povo a fazer um voto, pedindo que a cidade fosse salva da destruição.
Encontrava-se então em peregrinação por várias igrejas de Roma a milagrosa imagem de Nossa Senhora do Divino Amor, muito venerada pelos romanos desde o século XII. Nesse ameaçador dia 4 de junho, na Igreja de Santo Inácio, foi feito solenemente um voto pelo qual o povo de Roma Lhe prometia: “corrigir e melhorar sua conduta moral, para tornar sua vida mais conforme à de Nosso Senhor Jesus Cristo”; construir um novo santuário e iniciar uma obra de caridade em sua honra.
Quase ao mesmo tempo, uma misteriosa mensagem de Hitler cancelou a ordem de resistência, e o exército alemão retirou-se da cidade, na qual entraram pouco depois as Forças Aliadas, aclamadas por uma multidão exultante de incontida alegria. Esse desfecho foi tão surpreendente que o próprio Primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, afirmou: “A conquista de Roma se deu de modo completamente imprevisto”.
Do alto dos Céus, a solícita Mãe de Deus havia atendido às preces de seus aflitos filhos, e a cidade foi liberada sem o derramamento de uma gota de sangue sequer!
“Salvadora de Roma”
Uma semana depois, o Papa Pio XII reuniu-se com os fiéis para uma prece de gratidão, e nessa oportunidade atribuiu a Nossa Senhora do Divino Amor o título de “Salvadora de Roma”.
“Nós olhamos para Ti, Mãe do Divino Amor, esperando por Ti, por tua materna intercessão, a nossa salvação. (...) Guarda a tua Roma!”
Décadas mais tarde, em lº de maio de 1979, o Papa João Paulo II visitou o Santuário de Nossa Senhora do Divino Amor e o definiu como “o Santuário Mariano de Roma”.
Hoje, é famosa a peregrinação nocturna a pé, que atrai ao santuário devotos de todas as partes do mundo. Aos sábados, desde a Páscoa até o fim de outubro, os fiéis partem da Praça da Porta Capena à meia-noite, passam por pontos históricos como a Via Ápia Antiga, a Igreja do Quo Vadis, as Catacumbas de São Calixto e o Mausoléu das Fossas Ardeatinas, e chegam ao santuário na manhã de domingo. Ali, saudados pelos primeiros raios do sol que nasce, os romeiros apresentam à Virgem suas mais íntimas súplicas e pedem, naturalmente, que a proteção divina continue a cobrir a Cidade Eterna.
“Também hoje é necessária a conversão a Deus”
Bento XVI quis, como seus antecessores, venerar essa tão solícita e bondosa Mãe. Visitando seu santuário rezou o Rosário com os fiéis ali presentes, aos quais dirigiu alentadoras palavras. “Daqui, deste Santuário do Divino Amor — disse ele — , esperamos uma grande ajuda e apoio espiritual para a Diocese de Roma (...) Esperamos especialmente a força interior para cumprir o voto que fizeram os romanos naquele 4 de junho de 1944”. Acrescentou que “também hoje é necessária a conversão a Deus”, para o mundo se ver livre das guerras e do terrorismo. E concluiu: “Queridos irmãos e irmãs, neste santuário renovo o convite que fiz na encíclica Deus caritas est: Vivamos o amor e assim façamos entrar a luz de Deus no mundo”.